segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Vaticano e os Judeus

A visita do Papa Bento XVI à Sinagoga em Roma se realizou dentro do quadro de certo mal-estar entre os líderes da comunidade judaica para com o Vaticano. Discordam os representantes judaicos e o Pontífice quanto ao real papel de Pio XII no que concerne ao Holocausto.
Enquanto muitos judeus consideram que aquele Papa não se empenhou o necessário para proteger a comunidade judaica da perseguição nazista, Bento XVI pensa que o seu antecessor Papa Pacelli se valeu da diplomacia para salvar vidas. Sem mencioná-lo explicitamente, o Santo Padre declarou que o próprioVaticano “prestou assistência, muitas vezes de forma oculta e discreta”.
A volta à baila das relações de Pio XII com os judeus se insere no quadro do anunciado desígnio do atual pontificado de promover a causa pela beatificação de Papa Pacelli. No final do ano passado, Bento XVI reconheceu as ‘virtudes heróicas’ desse Papa – juntamente com as de João Paulo II. Como se sabe, esta é a condição sine qua non para o início do processo de beatificação.
O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi disse, a propósito de reações contrárias de próceres do judaismo, que é da exclusiva competência do Sumo Pontífice a assinatura dos decretos correspondentes. Esclareceu, outrossim, que a despeito da simpatia do Papa, ambas as causas são independentes.
Desde a abertura da discussão provocada pela peça “O Vigário” ( Der Stellvertreter) de Rolf Hochhuth, encenada por primeira vez em Berlim Ocidental, em fevereiro de 1963, em que Pio XII foi criticado pela sua postura em relação ao Holocausto, que uma sombra tem pairado sobre a personalidade de Papa Pacelli, obstaculizando eventuais tentativas anteriores pela Santa Sé de proclamá-lo beato.
Assinale-se que o imediato antecessor do atual Pontífice, o Papa João Paulo II, já teria considerado tal possibilidade, mas não a levou adiante pela repercussão negativa. O Papa Wojtyla e o seu sucessor, Papa Ratzinger, tem na Igreja posição ideológica similar. Durante o longo pontificado do papa polonês, o Cardeal Joseph Ratzinger foi o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o ex-Santo Ofício) e dentro da orientação pontíficia conservadora, contrária à teologia da libertação, promoveu ações contra diversos teólogos, entre os quais o então frei Leonardo Boff.
Bento XVI terá julgado mais favorável a atmosfera para a consecução de seu desejo, eis que no ano passado solicitou preces pela causa da beatificação do Venerável Servo de Deus Eugenio Pacelli. A recepção na mídia e junto à comunidade judaica não correspondeu, contudo, aos votos formulados pelo Sumo Pontífice.
Como semelha evidente o desígnio do presente Pontífice de elevar aos altares o culto de dois antecessores seus, seria interessante que Sua Santidade examinasse da possibilidade de proceder à causa da canonização do Beato Angelo Roncalli, que, para felicidade da Igreja, seria o Papa do Concílio, João XXIII. Papa Giovanni, como é afetuosamente chamado por seus numerosos fiéis e devotos, goza de inegável fama de santidade, para o que corroboram diversos milagres.
A oportunidade para que o Beato Giovanni XXIII seja canonizado santo também se justifica se se tiverem presentes as suas estreitas e amistosas relações com a comunidade judaica. Durante a IIa. Guerra Mundial, o arcebispo Angelo Roncalli foi Delegado Pontifício em Constantinopla. Valendo-se de suas relações naquela cidade, graças à intervenção de Roncalli foram salvas inúmeras vidas de judeus.
A canonização de João XXIII, data a grata memória do grande Pontífice, e a inexcedível contribuição para a causa do ecumenismo, não seria apenas cercada pela aprovação dos católicos, senão dos irmãos separados e da comunidade judaica. Caberia decerto incluir igualmente tantos outros seus inúmeros admiradores, a que a não-união pela fé jamais impedira a proximidade no apreço e no respeito mútuos. Com a possível exceção dos reduzidos fiéis do ultra-conservador bispo Marcel Lefebvre, a acolhida e o aplauso seriam gerais – como costumavam ser durante o seu pontificado – e estariam despojados de qualquer eventual sombra polêmica.
Não parecerá ao Papa Bento XVI boa ocasião de promover causa tão meritória e tão do agrado de um tão elevado número de pessoas?

Um comentário:

Anônimo disse...

http://www.kaosenlared.net/noticia/igreja-foi-cumplice-hitler-outros-ditadores