Os resultados da Super-terça, que reforçaram ainda mais a pré-candidatura de Donald
Trump, acirraram a ebulição no comando republicano, que vê com grande
preocupação, para não dizer medo, o avanço do populista Trump para assenhorear-se
da Convenção do Partido. Por isso, e vivamente incentivado pelas instâncias de
comando do GOP, Mitt Romney, o candidato republicano à Presidência derrotado
por Obama em 2012, lançou, em local preparado às pressas, violenta diatribe
contra o pré-candidato Trump, dando a clara impressão de que não desdenha ser
candidato outra vez, e por isso não hesitou em associar-se à tentativa vizinha
quase do desespero para conter de qualquer jeito a dinâmica de Trump.
Já é consenso no establishment[1]
republicano, que a direção partidária esperou demasiado para tentar parar o
avanço de Trump. Partindo da subestimação a princípio - "o candidato do verão" - além de indisfarçável
menosprezo no que toca ao personagem. É
esta a imagem a que os gerarcas republicanos se aferram, como espécie de tábua
de salvação. Nesses termos,Trump, com seus procedimentos descabelados ou fora
da ética, como a contestação de que Barack Obama fosse cidadão americano, terá
projetado imagem de figura pitoresca que lograria ter alguma aceitação
passageira, mas que pelo seu caráter, fora dos procedimentos normais dos
candidatos, não reuniria condições de sustentar-se por muito no topo das
pesquisas. Em outras palavras, para os dirigentes do Partido Republicano, Donald
Trump faria, por um tempo, muito
barulho, mas seria candidato efêmero, por parecer pitoresco, popularesco e bombástico. A fortiori, os chefes do partido vêem
com grande inquietação, a possibilidade de o candidato presidencial Trump dar
aos democratas a maioria no Senado, e importantes governanças nos Estados, mas,
como escrevi ontem, na Câmara isto é
quase impossível, pelo gerrymander
sofrido pela Câmara baixa, e que levará tempo para ser sanado...
Esta convicção do estamento republicano
semelhava a princípio fazer muito sentido, e os grandes personagens julgavam
que não valeria a pena afanar-se em barrar o caminho do candidato populista,
confiados em que ele próprio faria alguma besteira ou outra derrapagem similar.
A direção do GOP imaginou esse roteiro e nele baseada, julgou que não haveria
necessidade de maior desgaste no episódio, pensando que o populista Trump
acaberia rendendo-se às evidências.
Esses grandes personagens esqueceram-se
de princípio básico em política. Não é
sensato, nem seguro menosprezar um adversário, e ainda por cima, abrir-lhe
espaços, na esperança de que o próprio se encarregue do serviço que cumpriria,
na verdade, à direção partidária.
Dentro da democracia americana, poderão
aventar que tal verticalismo seria inviável, e que tenderia a contrario sensu reforçar o candidato. É lógico que a direção do GOP não pode
afastar da concorrência quem dispute com
os demais o apoio dos militantes. Mas há um grande abismo entre a
pasmaceira e a inação, de um lado, e de outro, essa tentativa de cunho
autoritário e quase in-extremis contra
o pré-candidato.
Porque dormiram, embalados pelas
cantigas de ninar de que de alguma maneira a coisa se resolveria nos conformes
de sempre, é que acabaram despertados pelo avanço inarrestável daquele
candidato, que insistiam em desmerecer e carimbar de incapaz de virar o jogo.
Ora, como qualquer cidadão americano há
de reconhecer, Donald Trump continuou avançando, enquanto os queridos da
direção, como Jeb Bush, se retiravam, cabisbaixos da porfia. A esse último tudo
fora disponibilizado, inclusive gordos fundos para financiar a campanha. O que faltou
a Jeb Bush, não foi decerto o apoio financeiro da família e de todo o esquema
Bush, mas sim carisma e proposta política.
O pelotão republicano tinha muitos
nomes, mas poucos líderes com trânsito no povo americano. Daí, como as folhas
secas nesse período que anuncia a chegada dos grandes frios e do inverno
boreal, muitas dessas criaturas começaram a cair, como Cris Christie (cujas
fumaças ele perdera em escândalo na Nova Jersey) Carly Fiorina e Ben Carson, o
negro-republicano.
Entrementes, Trump seguia em frente,
começando a coletar delegados na série das primárias em que, ignorando os
preceitos da hierarquia, teimava em vencer.
Posto contra a parede, vendo que
Donald Trump teimava em não distinguir a clara realidade (segundo a direção do
GOP) e prosseguia no seu avanço, coletando maiorias em muitos estados, o
Partido afinal resolveu intervir com um suposto grande dignitário, o candidato Mitt Romney (2012) que continua com
fumaças de reapresentar-se, não obstante a sua fraca campanha contra o
presidente Barack Obama. Ganhou, por displicência de Obama, um dos debates, mas
seria vencido no seguinte e o que é pior, cometeu uma gafe (que, constitui, de
resto particular familiar, eis que o seu pai acabara então com a própria
campanha com a gafe da lavagem cerebral).
Caberia a Mitt Romney seguir tais fatídicas pegadas, ao fazer o comentário dos
47% de inúteis (sustentados pelo Partido Democrata), e que um barman, no encontro de grandes doadores,
não só distribuiria drinks, mas também
desvelaria a observação preconceituosa.
Na sua alocução, Mitt Romney investiu
contra Trump, a quem procurou desqualificar ("não tem nem o temperamento, nem o juizo para ser presidente. Sua política interna levará os Estados Unidos
à recessão, e a política externa tornará os Estados Unidos e o mundo menos
seguro."
John Mc Cain, o candidato derrotado
por Obama, e a quem Trump tratara grosseiramente, apareceu também para
significar a sua insatisfação com a candidatura
do magnata nova-iorquinho.
Por fim, não se pode ignorar que
no seu afã de oferecer-se como candidato da hierarquia (inclusive aventando uma Convenção especial,
supostamente sob controle estrito do comando do GOP), Mitt Romney esquece
comportamentos passados que o põem em
situação constrangedora. Além de
gestionar de modo pressuroso o endosso de Trump em 2012 (apoio que Romney, como
candidato republicano, então tratou de divulgar com destaque), tampouco
este último se terá dissociado do comportamento então de Donald Trump, que buscava
incomodar Obama com a acusação de que ele não era americano nato...
Para encerrar, continuam na
disputa os Senadores Ted Cruz e Marco Rubio, e o governador John Kasich. Este último, pretende por todas
as suas fichas na primária de Ohio, de que é filho favorito (favourite son), a expressão típica para
designar candidato que dependa do próprio reduto natal para avantajar-se na
política. Dos três, Cruz tem o melhor desempenho, vencendo algumas primárias, e
Rubio, que tem uma única vitória, embora permaneça ainda na corrida, já esteve
melhor. Quanto a Kasich, põe todas as fichas no seu estado de Ohio, o que só
poderia valer se pensa arrebatar a nomination
não através de votos, mas sim graças ao apoio da hierarquia, junto à qual
acredita ter trânsito.
( Fonte: The New York Times )
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