sexta-feira, 18 de março de 2016

A Crise


                                        
      Para chegarem até nós, as palavras e o seu significado empreendem, muita vez, uma longa caminhada.

      Tomemos, por exemplo, o vocábulo em maior voga neste momento. Se formos atrás de sua origem, veremos que muita vez acontece o que ora se observa. Nessa palavra dorme, como no verso de Manuel Bandeira, o seu significado original, que vem do grego clássico krisis.

      Nela e não tão profundamente repousa o ato de escolher, e outros sentidos conexos, como decisão, sentença judicial, etc.   

      Bem fez o juiz Sérgio Moro quando resolveu despojar as conversas telefônicas do véu da confidencialidade.

      Não foi, decerto, por acaso que esse jovem magistrado enfrenta, com êxito e serenidade, o desafio que a sorte - ou a escolha de seus maiores - lhe confiou.

      Não trepidou em rasgar o segredo dos telefonemas, porque não lhe faltou discernimento para entender-lhes a importância. Trazer para o conhecimento público tais conversas telefônicas foi uma decisão importante, dessas que se colocam para medir a altura dos personagens.

      Por isso, o juiz Moro agiu em consequência, com coragem, resolução e firmeza, porque estava convicto de que era o que devia fazer.

      E a resposta da opinião pública, se não foi unânime - porque tal é impossivel na presente circunstância - eis que, como é bom lembrar, já foi dito e com acerto que toda unanimidade é burra.

      Rasgando o fino tecido do sigilo de conveniência, o seu acerto se desvela na linguagem do personagem principal. É até ridículo referi-lo como o Lulinha, paz e amor, com que os marqueteiros da vez engodaram a opinião pública.

        Se comparássemos o PT da origens, aquele  PT jacobino, que nascia nas vascas do regime militar, que não  trepidava em expulsar membros que ousassem votar no Congresso pelo candidato de consenso da oposição - e naquele transe a oposição era a maioria da opinião pública -,  com o PT de hoje, de seus deputados, militantes e sobretudo o próprio líder,  a reação será de desconforto, senão desânimo. Porque a corrupção, como uma hidra, sufoca o viço dos movimentos generosos?
 

          Linguagem republicana! Pobre Dilma! O pior não está na terminologia, mas na falta de percepção, na pobreza vocabular.

     
           O erro é dela? Não! Sabemos de onde partiu, e a que se propunha.
          
            As crises costumam ser enormes espelhos. Não adianta brigar com elas, porque elas apenas refletem a realidade.

            Como o espelho, a gravação das falas telefônicas e dos celulares nada acrescenta. Reproduz os diálogos, e abre uma janela sumamente indiscreta para rasgar os panos da conveniência e da hipocrísia, para desvelar a realidade.


            Não se pode exigir das pessoas que dêem mais do que têm.  Este é o caso da senhora Dilma Rousseff, antes militante brizolista, mais tarde secretária do presidente Lula.

             Linguagem republicana ! Mais parece conversa de botequim...

 
            Bem haja o Ministro Celso de Mello, o decano do Supremo, que declarou:"condutas criminosas à sombra do poder jamais serão toleradas". E a reação se reflete também em tribunais superiores.

 
             Pena que o parecer do Ministro Barroso virou lei do Supremo, e, ao arrepio de magistrados como  o ex-Presidente do STF, o ministro aposentado Carlos Velloso,  vai desfigurar o julgamento por um outro Poder que, segundo o art. 2º da Lei Magna, é independente como os demais poderes.               

     

( Fontes:  O Globo, Manuel Bandeira - Profundamente)             

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