Para chegarem até nós, as palavras e o
seu significado empreendem, muita vez, uma longa caminhada.
Tomemos, por exemplo, o vocábulo em maior
voga neste momento. Se formos atrás de sua origem, veremos que muita vez
acontece o que ora se observa. Nessa palavra dorme, como no verso de Manuel
Bandeira, o seu significado original, que vem do grego clássico krisis.
Nela e não tão profundamente repousa o ato de escolher, e outros sentidos
conexos, como decisão, sentença judicial, etc.
Bem fez o juiz Sérgio Moro quando
resolveu despojar as conversas telefônicas do véu da confidencialidade.
Não foi, decerto, por acaso que esse
jovem magistrado enfrenta, com êxito e serenidade, o desafio que a sorte - ou a
escolha de seus maiores - lhe confiou.
Não trepidou em rasgar o segredo dos
telefonemas, porque não lhe faltou discernimento para entender-lhes a
importância. Trazer para o conhecimento público tais conversas telefônicas foi
uma decisão importante, dessas que se colocam para medir a altura dos
personagens.
Por isso, o juiz Moro agiu em
consequência, com coragem, resolução e firmeza, porque estava convicto de que
era o que devia fazer.
E a resposta da opinião pública, se não
foi unânime - porque tal é impossivel na presente circunstância - eis que, como
é bom lembrar, já foi dito e com acerto que toda unanimidade é burra.
Rasgando o fino tecido do sigilo de
conveniência, o seu acerto se desvela na linguagem do personagem principal. É
até ridículo referi-lo como o Lulinha,
paz e amor, com que os marqueteiros da vez engodaram a opinião pública.
Se
comparássemos o PT da origens, aquele PT
jacobino, que nascia nas vascas do regime militar, que não trepidava em expulsar membros que ousassem
votar no Congresso pelo candidato de consenso da oposição - e naquele transe a
oposição era a maioria da opinião pública -,
com o PT de hoje, de seus deputados, militantes e sobretudo o próprio
líder, a reação será de desconforto,
senão desânimo. Porque a corrupção, como uma hidra, sufoca o viço dos
movimentos generosos?
Linguagem republicana! Pobre Dilma! O
pior não está na terminologia, mas na falta de percepção, na pobreza vocabular.
As crises costumam ser enormes espelhos. Não adianta brigar com elas, porque elas apenas refletem a realidade.
Como o espelho, a gravação das
falas telefônicas e dos celulares nada acrescenta. Reproduz os diálogos, e abre
uma janela sumamente indiscreta para rasgar os panos da conveniência e da
hipocrísia, para desvelar a realidade.
Não se pode exigir das pessoas que
dêem mais do que têm. Este é o caso da
senhora Dilma Rousseff, antes militante brizolista, mais tarde secretária do
presidente Lula.
Bem haja o Ministro Celso de Mello,
o decano do Supremo, que declarou:"condutas criminosas à sombra do poder
jamais serão toleradas". E a reação se reflete também em tribunais
superiores.
Pena que o parecer do Ministro
Barroso virou lei do Supremo, e, ao arrepio de magistrados como o ex-Presidente do STF, o ministro aposentado
Carlos Velloso, vai desfigurar o
julgamento por um outro Poder que, segundo o art. 2º da Lei Magna, é
independente como os demais poderes.
( Fontes: O
Globo, Manuel Bandeira - Profundamente)
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