domingo, 6 de março de 2016

Colcha de Retalhos D 9

                             

Primárias republicanas

 

      O assim chamado Super-sábado - que é rival apagado da badalada Super-Terça - teve como protagonista o Senador Ted Cruz, com vitórias no Kansas e em Maine.

       No seu discurso de vitória, Cruz sublinhou o progresso feito na luta contra o populista Donald Trump, que venceu na Lousiana e no Kentucky. Ted Cruz amealhou pelo menos mais quinze delegados nessas primárias do que o front-runner Trump.

       Por outro lado, o Senador pelo Texas sugeriu aos seus companheiros de partido - o Senador Marco Rubio e o governador John Kasich - que saíssem da disputa, visto que estariam fazendo a parte de Trump, negando-lhe mais delegados na sua luta pela nomination do GOP.

        O Senador pela Flórida, Marco Rubio, está tendo desempenho bem abaixo das suas ambiciosas expectativas. Continua a ter baixas contagens de apoio e enfrenta na próxima semana a perspectiva de humilhante derrota no seu estado da Flórida, o que em termos práticos acabaria com as próprias remanescentes ilusões de ser o nominee (designado pela Convenção do GOP).

        Por outro lado, o governador John Kasich, do Ohio, parece ser o de uma nota só. Aferra-se à batalha pelas primárias, apesar de desempenho bastante medíocre,  na esperança de abafar no seu estado natal. É o que será decidido muito em breve. 

 
Primárias democratas

 
         A preponderância de Hillary Clinton entre os eleitores negros e no Sul profundo continuou a pesar favoravelmente na respectiva campanha. Assim, a despeito do rival Senador Bernie Sanders ter vitórias nos caucus de Nebraska e Kentucky, bastou a Hillary ganhar na Lousiana - o estado com maior número de delegados - para que continue a levar vantagem nesse campo determinante para o sucesso na Convenção de Charlotte.          A fraqueza do Senador Sanders enquanto a apoio de minorias lhe vem custando caro, eis que vai ficando para trás na coleta dos delegados para a Convenção Nacional Democrata, prevista para referida cidade de Charlotte, na Carolina do Norte.

           Por enquanto, o comportamento de Hillary Clinton nas primárias espelham o desempenho de sua nêmesis em 2008, Barack H. Obama.

            A força da democrata junto às chamadas minorias - latinos, negros - que também apoiam ao Presidente Obama tem marcado o seu desempenho nas primárias democratas. Bernie é o queridinho dos jovens e até de parte do eleitorado feminino, mas esses trunfos por enquanto não tem pesado na bolsa da campanha, de forma a deter o avanço da front-runner Clinton.

 
Artigo do Times sobre a revolução na Líbia

           

               Publicado em dois segmentos, em fevereiro último, tal artigo - a que me havia referido anteriormente com sinalização de cautela - me surpreendeu de forma favorável.

                A transição líbia - do enfraquecimento do ditador Kaddafi à sua queda e posterior assassínio - representou decerto um enigma para a liderança em Washington, no que toca sobretudo ao Presidente Obama e à Secretária de Estado  Hillary Clinton.

                As dificuldades do momento não devem ser minimizadas. A par disso,  erros decerto foram cometidos pela liderança em Washington quanto à preparação do pós-ditador cel. Muammar el-Kaddafi.

                Confiou-se, decerto, demasiado nos líderes políticos líbicos. Os muitos anos da ditadura de Kaddafi não passaram em vão, no esvaziamento de eventuais sucessores com cacife para assegurar a transição.

                O artigo é descrição equilibrada do significado desse desafio para o Ocidente e, em particular, para Washington e a Administração Obama.

                 No que tange à Secretária de Estado, a avaliação de seu papel me aparece apropriada.

                  Não há dúvida que até hoje o mundo - sobretudo o entorno mais próximo - esteja sofrendo os efeitos da disponibilização excessiva do armamento que fora armazenado durante tantas décadas pelo ditador.  Uma das falhas na crise líbica foi não atentar adequadamente para esse risco, que se comprovou infelizmente, como se tem notado no largo entorno da Líbia.

                     O tratamento que se deu ao pós-Kaddafi pode ser visto como manual prático a não ser seguido em outras crises que porventura apresentem alguma semelhança com o posterior caos líbio.

                     Por outro lado, os republicanos, sobretudo a sua Câmara Baixa, têm intentado por todos os meios possíveis inculpar a Secretária de Estado Hillary pelo covarde assassínio do pobre embaixador Christopher Stevens, covardemente abatido pelos facínoras líbicos, ao deixar o consulado americano em Benghazi, na noite de terça-feira, onze de setembro de 2012. Outros três funcionários americanos morreram nessa ocasião.

                      Esse tenebroso exercício das audiências supostamente investigativas foi repetido várias, na verdade demasiadas vezes, e para desgosto dos deputados do GOP, nada lograram no que tange a retirarem lôbregos ganhos políticos à custa de eventuais responsabilidades da então Secretária de Estado, Hillary Clinton. Como é notório, as atenções republicanas contra ela não se dirigem à ex-Secretária de Estado, mas sim à pré-candidata democrata à Presidência. Como os sôfregos picadores das touradas, o que os deputados republicanos perseguiram - e saíram de mãos abanando - foi alcançar algum proveito político (erros da pré-candidata presidencial, a serem eventualmente utilizados na campanha presidencial). Nunca se gastou tanto dinheiro público com finalidade inconfessável, do que nessas pretensas investigações da Câmara.

                       No que tange à experiência americana com a mudança de regime na Líbia - dada a situação presente, em que os  fracos governos civis  da Líbia - que não dispõem na realidade de força armada - são títeres nas mãos das super-armadas milícias - é de esperar-se que possa haver internamente quem possa dominar os mecanismos estatais e introduzir um modicum de ordem naquele país.
                      
                       A falta de um Estado digno desse nome e que tenha condições de dispor de suporte armado a ele diretamente subordinado - e não a ter proteção precariamente montada graças a pagamentos às ditas milícias - é  requisito sine qua non para que possa haver um Estado soberano, e por conseguinte forte, que controle efetivamente o cenário interno, ao invés de ser dele  dependente.

                       Por enquanto, a Líbia tem sido um verdadeiro núcleo de desestabilização regional, máxime pela ação de milícias corruptas que agenciam o rendoso tráfico humano de refugiados, que buscam um suposto eden do outro lado do Mediterrâneo. Muitos têm aprendido de forma amarga e mesmo fatal, o que representa essa corrente humana em frágeis embarcações, conduzidas por gente que tem ainda menos apreço a carga dessa migração do desespero, de que os chacais que cuidam do tráfico entre o México e o eldorado americano.

 

( Fonte :  The New York Times )  iHH

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