quinta-feira, 10 de março de 2016

Hillary versus Sanders


                                       

        A derrota em Michigan de Hillary Clinton para Bernie Sanders deu alento à candidatura deste último, ao infligir  tropeço inesperado para a ex-Secretária de Estado.

        É um enigma para a candidata em que medida essa questão do livre-comércio - que contribuíu de forma determinante para o upset (reviravolta negativa) da candidata em Michigan - atuará no trecho restante das primárias. Com o seu approach populista e demagógico, o Senador Sanders conta lucrar junto a muitos dos eleitores de Ohio e Illinois - como conseguiu em Michigan - apresentando a adversária como favorável ao livre-comércio, o que é assaz impopular com os votantes da classe operária.

         Essa tática oportunista e demagógica de Sanders pode valer-lhe em estados com problemas de emprego, como os acima referidos, mas dificilmente suportará exame mais sério e abrangente junto ao eleitorado em geral. No entanto, como o diabo está nos detalhes, o Senador por Vermont trata agora dessa forma a questão. Tentará maximizar os ganhos dizendo que o público operário anseia por ouvir. Quem sabe, pensará  no futuro como deverá dela tratar, quando as suas contradições vierem à tona...

        Não se atentou para a circunstância de que nessa mesma rodada de primárias, Hillary aumentou a sua vantagem em delegados pledged. Espicaçados pela súbita reação do Senador por Vermont, os que simpatizam com a sua proposta, ou talvez de forma mais próxima da verdade, assanhados com o flanco descoberto pela front-runner, tomam tal cenário como se fora prenúncio da evolução desse filme.

         Ele próprio no debate procurou mostrar uma redescoberta postura, como se estivessem saindo da primária de New Hampshire.

         Por seu lado, Hillary manteve a calma, ignorou as provocações - que regurgitaram nas perguntas do locutor do canal hispânico  - a ponto de lhe ser perguntado se ela continuaria na campanha se fosse indiciada na questão de seu uso do servidor de e-mail privado, quando Secretária de Estado, o que a candidata houve por bem  ignorar.

          Tem rendido alguns dividendos ao Senador Bernie Sanders fazer o papel do underdog[1], diante da suposta representante do establishment.  Hillary tem feito bem em evitar cair nas toscas armadilhas do antagonista.

           Ela por sua vez não deixa de aludir à admiração de Sanders por Fidel Castro e pelos líderes sandinistas. 

           Sanders, bem de acordo com o seu modelo já datado, não trepida em adotar posições contraditórias.  Para ele a legislação imigratória contribui para abaixar os salários. Não hesita, por conseguinte, em defender propostas que podem prejudicar posições mais pró-ativas em termos de política imigratória,  mesmo que aquelas sejam claramente contrárias às posições do grupo latino. Nesse sentido, ele privilegia o eleitorado do Meio Oeste, a despeito de que tal política venha a prejudicá-lo junto aos eleitores na Flórida.

           Bernie Sanders se integra no perfil dos políticos que não recuam diante de promessas claramente demagógicas. Hillary tampouco deixou de sublinhar que ele costuma fazer promessas descabeladas, apesar de que, se se detivesse com um pouco de honestidade intelectual, saberia que tais políticas não tem nenhuma possibilidade de se tornarem reais e concretas.

           Hillary respondeu aos ataques contra a sua gestão no Departamento de Estado com firmeza e segurança, dada a qualidade de seu trabalho. Para surpresa de muitos, mostrou-se, sem embargo, disposta a aprender com tropeços e resistências, o que repercutiu bem junto ao público, eis que não mais mostrou a rigidez que a caracterizou no passado.

            Este seu aporte pode ser visto como um turning-point[2] no seu modo de agir, eis que ressalta entre as principais censuras que lhe são feitas, o seu  temperamento, pouco afeito até agora a admitir eventuais erros. Através da selva desta eleição, em que as armadilhas pululam e poucas são as boas surpresas - o que por si só já é medida para testar o ânimo da candidata -  Hillary se empenha em mostrar que chegará à Convenção Democrata de Charlotte, na Carolina do Norte, com a bagagem enriquecida através dos sucessos e - por que não? - dos inevitáveis obstáculos encontrados e enfrentados na dura, implacável e, por vezes, traiçoeira senda das primárias.

 

( Fonte:  The New York Times )  Hi H



[1] candidato por baixo
[2]no caso, mudança qualitativa relativa ao comportamento

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