Mais uma vez, avultam a energia e tino
do juiz Sérgio Moro, que exarou a ordem judicial de colher o depoimento ex-vi do
ex-Presidente Lula. A Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, não
acolheu a tentativa dos advogados do ex-presidente de anular o procedimento.
Faz tempo que Lula aguardava a visita do Juiz Sérgio Moro. Como teve a
demora da cautela, o ex-Presidente terá imaginado que o 'perigo' se afastara.
Mas as questões da Lava Jato se
acumulam. Estão aí o imóvel do Guarujá e
o sítio em Atibaia, com vários acréscimos, inclusive a antena para celulares,
cordialmente colocada pela OI , para que
o 'dossier' de Lula, com os agrados das
empreiteiras e a entrada em cena dos laranjas, não continue a engrossar.
Acordado por volta das seis da manhã, em
seu apartamento em São Bernardo do Campo, o ex-presidente foi transportado para
sala especial, no aeroporto de Congonhas, aonde foi
interrogado pelos procuradores do MP.
Sob investigação pelos Procuradores da
República se o ex-presidente teria sido
beneficiado com desvios da Petrobrás, assim como em pagamentos por empresas
investigadas de palestras e doações ao Instituto, as quais somam R$ 30 milhões
(entre 2011 e 2014). Nesse sentido, a
operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, inclusive em imóveis ligados
a Lula da Silva, assim como na casa de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha.
Apertando o cerco também ao Instituto
Lula - que teria repassado R$ 1 milhão à G4, empresa de um dos filhos do
ex-Presidente. A esse propósito, o Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima,
asseverou: "Ninguém está imune à investigação, seja aqui, em Curitiba,
seja em Brasília".
Dentre os elementos colhidos,
verificou-se que a empreiteira OAS pagou a mudança do ex-Presidente. Nesse
sentido, e durante cinco anos saldou o aluguer de dez guardas-móveis usados
para armazenar parte da mudança do ex-Presidente Lula quando ele deixou, por fim
de mandato, o Planalto. Nesse sentido, a empreiteira desembolsou R$ 1,3milhão
pelos conteineres. No contexto, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto
indicou a dita empreiteira como pagante por ser "apoiadora do
Instituto."
Conclusões.
O que O Globo noticia em página interna
"aconteceu. Muita gente ainda duvidava, mas a Lava-Jato bateu à porta de Lula. O ex-presidente não foi preso, mas
conduzido por ordem judicial para
prestar depoimento, no ponto mais extremo
dos quase dois anos de Lava-Jato, a maior operação de combate à
corrupção já realizada no país."
Ontem, foram reveladas passagens
obscuras na existência do carismático
líder popular, que de torneiro-mecânico a líder sindical no interior
paulistano, de fundador de partido (o primeiro criado por operários), e na
trajetória já demasiado conhecida. O Instituto Lula, cuja presença tem
crescido, repassou mais de R$ 1 milhão a empresas dos filhos do petista. Nesse
contexto, a Lava-Jato suspeita que a tal entidade - que tem isenção de impostos
- tenha sido usada para receber vantagens de empreiteiras investigadas por
desvios de dinheiro da Petróleo Brasileiro S.A.
No que concerne ao sítio de
Atibaia e tríplex do Guarujá, não há mais dúvidas de parte dos Procuradores do
Ministério Público Federal: ambos colheram a comovente ajuda para a família do
ex-Presidente de parte de gigantes da construção civil, especialmente OAS e
Odebrecht.
Determinados os 'agrados' das
empreiteiras, a investigação passa a cuidar de estabelecer uma relação entre
pagamentos como os acima referidos, e o feirão de contratos de empreiteiras com
a Petrobrás.
Os Procuradores, na tradicional
entrevista coletiva à imprensa dada depois de cada fase da Lava-Jato, fizeram
questão de enfatizar que "qualquer um no Brasil está sujeito a ser
investigado". Timbraram, no
entanto, em acrescentar que, no momento, "não há qualquer motivo para
pedir a prisão de Lula", disse o procurador da República Carlos Fernando
dos Santos Lima.
Releva notar, contudo, que o
simples fato de mencionar o que não é mencionado, mesmo que sob forma negativa,
há a clara admissão que é uma hipótese
presente e que está sobre a mesa.
Após deixar a sala da Polícia
Federal no aeroporto de Congonhas, Lula seguiu para a sede do PT, no centro de
São Paulo. Lá o esperavam, com presumível ansiedade, cerca de duzentos
militantes do PT e da CUT. Ao adentrar o salão, a fisionomia caída e abatida
cede lugar ao comportamento inflamado do ex-operário e delegado sindical. Em
discurso, faz uma defesa seletiva das investigações que sofre, e apela para que
os movimentos sociais o defendam.
Brilha no olhar a verve do
orador sindicalista e depois político, que, cercado pelos companheiros, sai de
seu canto e parte para um ataque, decerto desde muito contido. Na reportagem de
O Globo, Lula é descrito como encarnando o "animal político" a que se
teria referido Aristóteles no intróito da sua obra "Política".
Há muita confusão a respeito do
termo, mas o meu grande amigo e colega Pedro Neves da Rocha, se cá estivesse
ainda entre nós, não falharia em relembrar que Aristóteles, o grande
Estagirita, na verdade se teria referido a "ser político" e não a "animal
político", eis que o grego antigo admite as duas traduções.
O que o grego clássico não
admite é traduzir-se alétheia por um conjunto de palavras, quando o
vocábulo helênico significa simplesmente verdade.
A par disso, o
ex-Presidente Luiz Inacio Lula da Silva mostrou que, apesar dos trancos e
barrancos da vida, e do choque na manhã de ontem, guarda muito vivo o talento
de orador, e, em especial, de adaptar-se a uma situação dita difícil ou até
mesmo desfavorável para através do verbo e da capacidade do grande tribuno que
é, de assenhorear-se com habilidade de questão delicada e dela
valer-se em própria defesa, captando os mananciais de simpatia que ele vem instrumentalizando
há decadas.
O seu comportamento no
velho cenário sindical reflete essa capacidade, que pode dormitar se porventura
atravessar sáfaros caminhos. Mas redespertará breve, nos olhos matreiros, na
expressão do orador que parte em busca
de simpatia e sobretudo empatia. Dessas mutações - em que pode estar a força do
líder - há muito que ver, se a sua até curta intervenção no sindicato de São
Paulo terá sido gravada para o olhar dos pósteros, seja ele interessado ou não.
Essa estória mal
começa, por isso semelha cedo para que se trace os seus contornos nas brumas do
futuro.
( Fontes: O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S.
Paulo; "Crítica do Animal Político", de P.C. Neves da
Rocha - disponível na internet)
Nenhum comentário:
Postar um comentário