Em todas as revoluções, mesmo as pacíficas - e alguém
tem alguma dúvida de que o Brasil está entrando em tal momento? - a primeira
reação do poder estabelecido é a de tentar desfazer do adversário, e da
potencial ameaça da coalizão de seus componentes contrastantes, como se o regime
atacado estivesse firme e senhor da situação.
Assim, não surpreenderá que o chefe do
partido governista diga que a luta encetada pelo regime não é
pela administração Dilma Rousseff, mas sim pelo Brasil. Sabemos que tal primeira
reação será instintiva em todo situacionismo, assim como é próprio dos patifes
que se sentem em perigo levantar bem
alto o pavilhão das cores pátrias. Tal será o recurso instintivo do regime
contestado e detestado pela maioria do povo: vestir-se de verde e amarelo e, ao
deparar o tumulto e a fúria dos elementos que ele próprio desencadeara, gritar
aos ventos que não é o governo que está em perigo, mas sim o próprio Brasil.
Tal tentativa - que é fruto de nascente desespero
- costuma durar muito pouco. A sua breve existência é a primeira vítima de processo
que foge ao controle do palácio, dada a sua total, patética irrelevância diante de um estado de coisas que
muda rapidamente, enquanto definha o poder que pela dinâmica de situação, a qual
passa não só a mudar, mas sobretudo a
sair manifestamente de qualquer controle. Embora o manto a cobri-la ainda não tenha
caído, pela dinâmica de um poder novo, a situação a cada hora que passa vai
mudando rapidamente, a ponto de empurrar, envolver e enfim afastar a situação anterior.
Chega o patético momento que o
poder de antes ainda acredita nas próprias faculdades de mando e influência.
Sopradas por um alento que não se resigna às cruéis evidências da nova
situação, se repete o fenômeno físico do quase-morto que ainda pensa estar no
pleno controle de si próprio e da situação.
No entanto, ao faltar-lhe os liames
antigos sobre que não mais impera, nem na verdade possui qualquer sombra de
controle, não tardará muito para que soe a hora da verdade.
Por enquanto, contudo, esta hora
ainda é de sombras. O que virá já se
desvela a uns poucos, mas o momento atual do situacionismo é o da ilusão de uma
resistência que tem dentro dela própria o germen do seu fim
inelutável.
Mas a hora será ainda daqueles que
não querem ver, ou, nervosos e trêmulos, ou desviam o olhar, ou se recusam a
deparar o que as circunstâncias se comprazem a adumbrar como profecias de um
fim anunciado.
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