Chegando a embaralhar-se com um 'eu não me renuncio' - a própria idéia de exonerar-se Dilma a
considerou como uma 'ofensa'. Resta precisar em que a Presidente pensava quando
tachou o ato dessa forma.
Que
muitos sintam desalento, apesar de terem presente que não colaboraram de forma
alguma a que tal estado de coisas prevalecesse, pode-se compreender como
desenvolvimento natural.
Na pior das hipóteses, teremos de
aguentar esses longos oito anos, sem sequer a esperança de que Labão nos reserve Raquel, serrana bela.
Com enganos nos foi negada a promessa
do bom governo, e em troca recebemos o que aí está.[1]
A orgia da corrupção está em todo
lugar. Há um básico desrespeito ao dinheiro público e toda obra nesse país
parece constituir antes pretexto do que fim.
Nesse desvairio, a delação premiada
constitui a pedra angular para que seja possível à magistratura e à promotoria
desvendar os ilícitos que parecem estar por toda parte. Que alguns sintam
desânimo, é fácil de compreender pela monótona repetição das obras fraudadas,
pela podridão em que se revolteia gente que de ética só conhece aquela de
fachada.
Todo país deve servir-se das armas
possíveis no combate ao crime, seja de colarinho sujo, seja aquele que pela sua
franqueza, nesta terra deveria ser aplicada a tal de 'progressão de pena', que
é o mágico instrumento para tornar mais leve o que deveria ser mais pesado.
Mesmo para aqueles que gozam do dúbio
privilégio de viver em tempos interessantes, será difícil imaginar épocas mais
contrárias à ética e à boa administração.
Ao cinismo, que preside tantas
assembleias, nunca foram escancaradas tantas portas e portões. Na alta curul, a
raça dos meliantes encontrou o abrigo quase seguro, pois oferece um tempo maior
para organizar a respectiva defesa, e assim valer-se de uma presunção que, no
caso, costuma estar tão esgarçada que a todos trai a respectiva natureza.
Mal parada está - ou parece estar, se à gente do bem alguma
esperança é consentida - a causa de livrar-nos dessa marota dádiva que nos foi
proporcionada pelo tribuno da voz rouca.
Infelizmente, não foi só à sintaxe
que ela golpeou. Ela nos fez perder, por seu intelecto e por sua fraqueza, muitos
haveres que, com muito trabalho e persistência, a sociedade brasileira tinha
logrado, a começar por moeda estável, valorizada internacionalmente, que ela
malbaratou pela sua larga e ampla incompetência.
Com isso voltou a inflação, de que
pensáramos, loucos que fomos, haver controlado, e poder pensar em uma economia
não manietada pela ganância e sobretudo pela falta de manutenção do seu valor
intrínseco.
Foi ela que trouxe a carestia e
todo o séquito maldito de que pensáramos estar livres?
Não, quem trouxe a inflação de
volta foi o coronelão máximo, modelo nordeste com louvor, em que o nosso
torneiro-mecânico se transformou, no golpe maroto de tirá-la da algibeira para que
lhe esquentasse o lugar.
Vejam, só! Literalmente, tudo saíu
errado, pois como poderia o gênio apedeuta imaginar que dali a quatro anos não
a empurraria com carinho para o lado, a fim de garantir o que pensara ser seu ?
Hoje, depois da sua vergonhosa -
para ela e o PT - reeleição, ela vem dizer-nos que "não me
renuncio"...
Essa digna - do personagem - frase,
será que fizemos por merecê-la?
Não pensam, acaso, senhores meus,
que a caravela Brasil merece gente melhor na ponte de comando, gente tão boa,
que, da gávea no alto do mastro, poderá o vigia gritar: terra à vista !
(Fontes:
O Globo, Luis de Camões, Almeida
Garrett, A.J. Toynbee )
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