sábado, 12 de março de 2016

Desordem na República

                                
                                

       Chegando a embaralhar-se com um 'eu não me renuncio'  - a própria idéia de exonerar-se Dilma a considerou como uma 'ofensa'. Resta precisar em que a Presidente pensava quando tachou o ato dessa forma.

       Que muitos sintam desalento, apesar de terem presente que não colaboraram de forma alguma a que tal estado de coisas prevalecesse, pode-se compreender como desenvolvimento natural.

        Na pior das hipóteses, teremos de aguentar esses longos oito anos, sem sequer a esperança de que  Labão nos reserve  Raquel, serrana bela.

        Com enganos nos foi negada a promessa do bom governo, e em troca recebemos o que aí está.[1]         

         A orgia da corrupção está em todo lugar. Há um básico desrespeito ao dinheiro público e toda obra nesse país parece constituir antes pretexto do que fim.

          Nesse desvairio, a delação premiada constitui a pedra angular para que seja possível à magistratura e à promotoria desvendar os ilícitos que parecem estar por toda parte. Que alguns sintam desânimo, é fácil de compreender pela monótona repetição das obras fraudadas, pela podridão em que se revolteia gente que de ética só conhece aquela de fachada.

          Todo país deve servir-se das armas possíveis no combate ao crime, seja de colarinho sujo, seja aquele que pela sua franqueza, nesta terra deveria ser aplicada a tal de 'progressão de pena', que é o mágico instrumento para tornar mais leve o que deveria ser mais pesado.

          Mesmo para aqueles que gozam do dúbio privilégio de viver em tempos interessantes, será difícil imaginar épocas mais contrárias à ética e à boa administração.

           Ao cinismo, que preside tantas assembleias, nunca foram escancaradas tantas portas e portões. Na alta curul, a raça dos meliantes encontrou o abrigo quase seguro, pois oferece um tempo maior para organizar a respectiva defesa, e assim valer-se de uma presunção que, no caso, costuma estar tão esgarçada que a todos trai a respectiva natureza.

            Mal parada está  - ou parece estar, se à gente do bem alguma esperança é consentida - a causa de livrar-nos dessa marota dádiva que nos foi proporcionada pelo tribuno da voz rouca.

            Infelizmente, não foi só à sintaxe que ela golpeou. Ela nos fez perder, por seu intelecto e por sua fraqueza, muitos haveres que, com muito trabalho e persistência, a sociedade brasileira tinha logrado, a começar por moeda estável, valorizada internacionalmente, que ela malbaratou pela sua larga e ampla incompetência.

             Com isso voltou a inflação, de que pensáramos, loucos que fomos, haver controlado, e poder pensar em uma economia não manietada pela ganância e sobretudo pela falta de manutenção do seu valor intrínseco.

             Foi ela que trouxe a carestia e todo o séquito maldito de que pensáramos estar livres?

             Não, quem trouxe a inflação de volta foi o coronelão máximo, modelo nordeste com louvor, em que o nosso torneiro-mecânico se transformou, no golpe maroto de tirá-la da algibeira para que lhe esquentasse o lugar.

             Vejam, só! Literalmente, tudo saíu errado, pois como poderia o gênio apedeuta imaginar que dali a quatro anos não a empurraria com carinho para o lado, a fim de garantir o que pensara ser seu ?

             Hoje, depois da sua vergonhosa - para ela e o PT - reeleição, ela vem dizer-nos que "não me renuncio"...

             Essa digna - do personagem - frase, será que fizemos por merecê-la?

             Não pensam, acaso, senhores meus, que a caravela Brasil merece gente melhor na ponte de comando, gente tão boa, que, da gávea no alto do mastro, poderá o vigia gritar: terra à vista !

 

(Fontes:  O  Globo, Luis de Camões, Almeida Garrett, A.J. Toynbee )     



[1] Com as minhas desculpas a Luis de Camões.

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