O massacre, perpetrado na última terça-feira, 22 de
março, como o de Paris, foi igualmente à noite.
O maior número de mortes ocorreu no
aeroporto de Bruxelas - 31 vitimas e mais os três atacantes suicidas. Houve 270
feridos. O outro objetivo foi uma estação de metrô, em que também atuou um
homem-bomba suicida.
Reponta outra vez a conexão com o Exército
Islâmico. Os massacres são realizados em seu nome, e existe presunção de que
sejam determinados e orientados pelo núcleo
do califa al-Baghdadi. Como se sabe -
o blog já versou tal questão - esse
centro terrorista, apesar dos ataques da coalizão aérea do Ocidente, continua a
planejar e organizar tais investidas terroristas na Europa ocidental.
Até o presente, a União Europeia vem
sendo surpreendida pelas mortais investidas dos fanáticos islamistas. Os
ataques ao Bataclan tiveram um número
maior de terroristas, e, por conseguinte, maior capacidade letal. Se o de
Bruxelas (aeroporto internacional e estação de metrô) foi em menor escala,
continua a ser pesado e desestabilizante no número de vítimas, e na relativa
facilidade com que são realizados.
Especula-se que o ataque terrorista
em Bruxelas foi 'apressado'
por causa da prisão de Salam Abdeslam - quem teria sido o
'cérebro' do massacre no Bataclan e
da operação em Paris.
Os terroristas islâmicos, já na
fase de preparação do ataque na Bélgica, diante do noticiário sobre a detenção
de Abdeslam terão preferido cortar etapas no seu empenho homicida, temerosos de
que Abdeslam 'cantasse' também o que
se preparava para Bruxelas.
O despreparo belga no combate ao
terrorismo é um segredo de Polichinelo. Deve presumir-se que tangidos dessa
forma, as autoridades de segurança estarão mais atentas aos eventuais desígnios
de comunidade que vive em subúrbios e
não está entre as camadas mais endinheiradas.
Como na França no passado, há
menores oportunidades para esses grupos, tanto sob aspecto social quanto econômico, e a raiva curtida pelo preconceito
e a marginalidade social não costuma ser desfeita pela mão de ferro de polícia
com muitos pesos e medidas.
Por outro lado, comparativamente
falando, a situação na Bélgica - já um país em crise étnica desde o surgimento
(valões contra flamengos, estes agora em maioria), que a presença de casa real
não pode pretender resolver - não é das mais tranquilas em termos sociais, e
por isso tenderá a ser mais instrumentalizada, pelo modo pouco satisfatório com
que o Estado belga (já uma composição problemática) por intermédio de seus
serviços de segurança vem tratando desse problemaço.
Por causa desta fraqueza, já o ataque
ao Bataclan terá sido planejado na
vizinha Bélgica.
Os dois principais líderes da
investida da semana eram formalmente nacionais belgas, lá nascidos, porém que
refletiam existencialmente a sua condição de proletários internos[1] na
Europa.
Daí a vulnerabilidade dos
Estados que os abrigam, seja ativamente, pela falta nas metrópoles respectivas
de políticas sociais inclusivas - não se esqueçam que Sarkozy se projetara
politicamente quando no período da queima de carros pelas comunidades
suburbanas (em geral de origem árabe) ao designá-los em discurso como 'la racaille' (a ralé) - a par da gritante
falta na Bélgica de política de
segurança digna desse nome.
Com
efeito, tanto Ibrahim el-Bakreour, de
trinta anos, e seu irmão Khalid
el-Bakreour, de 27 anos, ambos formalmente belgas, tiveram antes atividade
criminosa bem marcada. Assinale-se que os dois foram expulsos da Turquia como
suspeitos de terrorismo, tendo sido devolvidos para o seu país natal.
O presidente Recep Erdogan
- que ultimamente semelha comprazer-se em colocar as autoridades da União
Europeia em dificuldade, dada a vantajosa posição geográfica da Turquia para
solução da questão dos refugiados da Síria - disse em entrevista que os
serviços turcos detiveram Ibrahim
el-Bakreour perto da fronteira síria (junho de 2014), e alertaram as autoridades
belgas que ele era "um estrangeiro combatente terrorista", e o
deportaram para a Holanda [2].
A falta de comunicação não
parou aí. O Ministro da Justiça da
Bélgica, Koenbéens, declarou à imprensa, após o atentado da terça-feira, que
el-Bakreour era fichado como criminoso comum e não como terrorista.
( Fontes: The New York Times,
A Study of History, de Arnold Toynbee.)
[1] Para retratá-los, louvo-me
do grande historiador Arnold Toynbee, que nos fala no seu monumental "Um
Estudo de Historia" do proletariado externo e interno no
Império Romano, já na fase da decadência. Essas populações não sentiam qualquer
vínculo com o poder romano, e, dada a oportunidade, colaborariam de bom grado
contra o Imperium declinante de Roma. Em termos de presença física em um lugar
ao qual não se acham vinculados social e emotivamente me parece um bom exemplo
para situações atuais na Europa Ocidental, que semelham assaz pertinentes com
essas velhas histórias.
[2] Não se esclareceu o
aparente non-sequitur.
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