quinta-feira, 24 de março de 2016

Massacre em Bruxelas


                                                

          O massacre, perpetrado na última terça-feira, 22 de março, como o de Paris, foi igualmente à noite.

          O maior número de mortes ocorreu no aeroporto de Bruxelas - 31 vitimas e mais os três atacantes suicidas. Houve 270 feridos. O outro objetivo foi uma estação de metrô, em que também atuou um homem-bomba suicida.

           Reponta outra vez a conexão com o Exército Islâmico. Os massacres são realizados em seu nome, e existe presunção de que sejam determinados e orientados pelo núcleo do califa al-Baghdadi. Como se sabe - o blog já versou tal questão - esse centro terrorista, apesar dos ataques da coalizão aérea do Ocidente, continua a planejar e organizar tais investidas terroristas na Europa ocidental.

            Até o presente, a União Europeia vem sendo surpreendida pelas mortais investidas dos fanáticos islamistas. Os ataques ao Bataclan tiveram um número maior de terroristas, e, por conseguinte, maior capacidade letal. Se o de Bruxelas (aeroporto internacional e estação de metrô) foi em menor escala, continua a ser pesado e desestabilizante no número de vítimas, e na relativa facilidade com que são realizados.

            Especula-se que o ataque terrorista em Bruxelas foi 'apressado' por causa da prisão de Salam Abdeslam - quem teria sido o 'cérebro' do massacre no Bataclan e da operação em Paris.

             Os terroristas islâmicos, já na fase de preparação do ataque na Bélgica, diante do noticiário sobre a detenção de Abdeslam terão preferido cortar etapas no seu empenho homicida, temerosos de que Abdeslam 'cantasse' também o que se preparava para Bruxelas.

              O despreparo belga no combate ao terrorismo é um segredo de Polichinelo. Deve presumir-se que tangidos dessa forma, as autoridades de segurança estarão mais atentas aos eventuais desígnios de comunidade  que vive em subúrbios e não está entre as camadas mais endinheiradas.

              Como na França no passado, há menores oportunidades para esses grupos, tanto sob aspecto social quanto  econômico, e a raiva curtida pelo preconceito e a marginalidade social não costuma ser desfeita pela mão de ferro de polícia com muitos pesos e medidas.

              Por outro lado, comparativamente falando, a situação na Bélgica - já um país em crise étnica desde o surgimento (valões contra flamengos, estes agora em maioria), que a presença de casa real não pode pretender resolver - não é das mais tranquilas em termos sociais, e por isso tenderá a ser mais instrumentalizada, pelo modo pouco satisfatório com que o Estado belga (já uma composição problemática) por intermédio de seus serviços de segurança vem tratando desse problemaço.

               Por causa desta fraqueza, já o ataque ao Bataclan terá sido planejado na vizinha Bélgica.

                Os dois principais líderes da investida da semana eram formalmente nacionais belgas, lá nascidos, porém que refletiam existencialmente a sua condição de proletários internos[1] na Europa.

                 Daí a vulnerabilidade dos Estados que os abrigam, seja ativamente, pela falta nas metrópoles respectivas de políticas sociais inclusivas - não se esqueçam que Sarkozy se projetara politicamente quando no período da queima de carros pelas comunidades suburbanas (em geral de origem árabe) ao designá-los em discurso como 'la racaille' (a ralé) - a par da gritante  falta na Bélgica de  política de segurança digna desse nome.

                 Com efeito, tanto Ibrahim el-Bakreour, de trinta anos, e seu irmão Khalid el-Bakreour, de 27 anos, ambos formalmente belgas, tiveram antes atividade criminosa bem marcada. Assinale-se que os dois foram expulsos da Turquia como suspeitos de terrorismo, tendo sido devolvidos para o seu país natal.

                  O presidente Recep Erdogan - que ultimamente semelha comprazer-se em colocar as autoridades da União Europeia em dificuldade, dada a vantajosa posição geográfica da Turquia para solução da questão dos refugiados da Síria - disse em entrevista que os serviços turcos  detiveram Ibrahim el-Bakreour  perto da fronteira síria  (junho de 2014), e alertaram as autoridades belgas que ele era "um estrangeiro combatente terrorista", e o deportaram para a Holanda [2].

                   A falta de comunicação não parou aí.  O Ministro da Justiça da Bélgica, Koenbéens, declarou à imprensa, após o atentado da terça-feira, que el-Bakreour era fichado como criminoso comum e não como terrorista.           

 ( Fontes: The New York Times, A Study of History, de Arnold Toynbee.)        



[1] Para retratá-los, louvo-me do grande historiador Arnold Toynbee, que nos fala no seu monumental "Um Estudo de Historia" do proletariado externo e interno no Império Romano, já na fase da decadência. Essas populações não sentiam qualquer vínculo com o poder romano, e, dada a oportunidade, colaborariam de bom grado contra o Imperium declinante de Roma. Em termos de presença física em um lugar ao qual não se acham vinculados social e emotivamente me parece um bom exemplo para situações atuais na Europa Ocidental, que semelham assaz pertinentes com essas velhas histórias.
[2] Não se esclareceu o aparente non-sequitur.

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