quarta-feira, 30 de março de 2016

Correio do Impeachment (3)

                             


        O PMDB, como um partido com muitos caciques, é por vezes assimilado a uma grande liga partidária, em que a ideologia predominante é a do sistema no poder.

        Depois de sua aliança com Fernando Henrique e o PSDB, o horizonte do PMDB mudaria para nova aliança, com o PT do Lula, paz e amor.

        Como a permanência do PT no mando já se estendeu além do período de FHC, o PMDB tem sido o aliado do Partido dos Trabalhadores desde janeiro de 2003. São cerca de treze anos, que ontem foram cortados em breve sessão, adrede combinada. A moção da ruptura com o Partido dos Trabalhadores ensejou processeo  que não tomou mais do que três minutos para ser concluído, com a prevista aclamação da leitura pelo Senador Romero Jucá, de Roraima, de moção do PMDB da Bahia, pedindo o imediato desembarque do Governo.

        A moção aprovada sob os aplausos de mais de cem membros do Diretório Nacional, pede ainda a entrega dos cargos e abertura de processo de ética contra aqueles que a contrariarem.

        Não estabelece, porém, prazo para que os ministros e demais peemedebistas deixem o governo. Tal forma genérica e com rito sumário foi elaborada com a participação de Michel Temer que desejou evitar rachas internos, saindo, como é seu feitio, da movimentação como um conciliador.

         Apenas cinco diretórios - Pará, sob o comando de Jader Barbalho; Amazonas, sob o controle de Eduardo Braga; Alagoas, comandado pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros; e Sergipe e Mato Grosso tampouco enviaram representantes.  A ausência de apenas cinco diretórios em 27 foi interpretada como clara demonstração de força de Michel Temer.

          E por falar de ausências, além do Presidente do Senado, a Ministra Katia Abreu (Agricultura) fez saber à cúpula que ficará no cargo e que está em busca de outra legenda para se filiar. 

          Dos outros dois Ministros, avalia-se que ambos tentarão permanecer nas respectivas pastas. São Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), este último do grupo de Eduardo Cunha, e cuja permanência fica dependente de o que suceder com o processo contra o seu chefe no Conselho de Ética.

          Dentre os ausentes à reunião do PMDB, está o Senador Renan Calheiros.

 

              Há muitas resistências contra o Senador Renan Calheiros, de movimentos em Brasília. Por tal razão, as cerimônias de sua posse, sobretudo aquelas em público, tiveram a presença de manifestantes, contrários a Calheiros. Essa resistência não terá sido enfraquecida pelos inúmeros processos que ora se acham no Supremo e lhe dizem respeito.

               Até o momento, por motivos que oficialmente se ignoram, ele não foi formalmente acusado em nenhum deles. Não há indiciamentos, portanto, mas os processos pendem sobre sua cabeça como espada de Dâmocles.

                Dada a sua proximidade com a Presidenta, Renan manteve nesses dias discurso cauteloso sob dois temas para ele delicados: o rompimento do PMDB com o governo, assim  como acerca do processo de impeachment contra a Presidenta, hoje, trinta de março, iniciado formalmente na Câmara, com os discursos a favor do impeachment do professor Miguel Reale (Pedaladas Fiscais) e da Professora Janaina (desvios fiscais no Governo e o dano decorrente à população).      

                  Em duas frentes, Calheiros tem mantido um discurso cauteloso sobre o rompimento do PMDB com o Governo Dilma e ipso facto, sobre o processo de impeachment da  presidente.

                  A posição de Renan, isolada no PMDB, joga com esses paus de dois bicos: cautela sobre o rompimento do PMDB com o Governo, e  a fortiori, sobre o processo de impeachment da Presidenta. Ausente da reunião, disse Renan esperar que o "impeachment não chegue ao Senado", e acrescentou que não participara da grande reunião para não 'partidarizar' sua atuação como Presidente do Congresso.

                    Procurando mostrar uma suposta isenção no processo, disse: "É uma decisão democrática do partido que tem que ser levada em conta. Se esse processo (de impeachment) chegar ao Senado, e espero que não chegue, vamos juntamente com o Supremo decidir o calendário."

                     Presente à cerimônia um grande personagem da Câmara, o deputado Jarbas Vasconcelos afirmou: "Lula, Dilma e o PT conseguiram unificar quase que na totalidade o partido contra o governo. Na minha história, não vi nenhum ato tão próximo da unanimidade no PMDB, como este."

                      É importante para o PMDB que uma figura da relevância de Jarbas Vasconcelos compareça à reunião de significado histórico do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, e dele participe não mais como um dissidente, como era o que ocorria na prática. Se sobrelevar a figura de Jarbas Vasconcelos no horizonte do partido de Ulysses Guimarães, isso será bom não só para o PMDB, mas também para o Brasil.

 

( Fonte: O  Globo )

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