O PMDB, como um partido com muitos caciques, é por
vezes assimilado a uma grande liga partidária, em que a ideologia predominante
é a do sistema no poder.
Depois de sua aliança com Fernando
Henrique e o PSDB, o
horizonte do PMDB mudaria para nova aliança, com o PT do Lula, paz e amor.
Como a permanência do PT no mando já se
estendeu além do período de FHC, o PMDB tem sido o aliado do Partido dos
Trabalhadores desde janeiro de 2003. São cerca de treze anos, que ontem foram
cortados em breve sessão, adrede combinada. A moção da ruptura com o Partido
dos Trabalhadores ensejou processeo que
não tomou mais do que três minutos para ser concluído, com a prevista aclamação
da leitura pelo Senador Romero Jucá, de Roraima, de moção do PMDB da Bahia,
pedindo o imediato desembarque do Governo.
A moção aprovada sob os aplausos de
mais de cem membros do Diretório Nacional, pede ainda a entrega dos cargos e
abertura de processo de ética contra aqueles que a contrariarem.
Não estabelece, porém, prazo para que
os ministros e demais peemedebistas deixem o governo. Tal forma genérica e com
rito sumário foi elaborada com a participação de Michel Temer que desejou
evitar rachas internos, saindo, como é seu feitio, da movimentação como um
conciliador.
Apenas cinco diretórios - Pará, sob o
comando de Jader Barbalho; Amazonas, sob o controle de Eduardo Braga; Alagoas,
comandado pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros; e Sergipe e Mato Grosso
tampouco enviaram representantes. A
ausência de apenas cinco diretórios
em 27 foi interpretada como clara
demonstração de força de Michel Temer.
E por falar de ausências, além do
Presidente do Senado, a Ministra Katia Abreu (Agricultura) fez saber à cúpula
que ficará no cargo e que está em busca de outra legenda para se filiar.
Dos outros dois Ministros, avalia-se
que ambos tentarão permanecer nas respectivas pastas. São Marcelo Castro
(Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), este último do grupo de Eduardo
Cunha, e cuja permanência fica dependente de o que suceder com o processo
contra o seu chefe no Conselho de Ética.
Dentre os ausentes à reunião do PMDB,
está o Senador Renan Calheiros.
Há muitas resistências contra o Senador
Renan Calheiros, de movimentos em Brasília. Por tal razão, as
cerimônias de sua posse, sobretudo aquelas em público, tiveram a presença de
manifestantes, contrários a Calheiros. Essa resistência não terá sido
enfraquecida pelos inúmeros processos que ora se acham no Supremo e lhe dizem
respeito.
Até o momento, por motivos que
oficialmente se ignoram, ele não foi formalmente acusado em nenhum deles. Não
há indiciamentos, portanto, mas os processos pendem sobre sua cabeça como
espada de Dâmocles.
Dada a sua proximidade com a
Presidenta, Renan manteve nesses dias discurso cauteloso sob dois temas para
ele delicados: o rompimento do PMDB com o governo, assim como acerca do processo de impeachment contra a Presidenta, hoje,
trinta de março, iniciado formalmente na Câmara, com os discursos a favor do impeachment do professor Miguel
Reale (Pedaladas Fiscais) e da Professora Janaina (desvios fiscais
no Governo e o dano decorrente à população).
Em duas frentes, Calheiros
tem mantido um discurso cauteloso sobre o rompimento do PMDB com o Governo
Dilma e ipso facto, sobre o processo de impeachment da presidente.
A posição de Renan, isolada no PMDB, joga com
esses paus de dois bicos: cautela sobre o rompimento do PMDB com o Governo,
e a
fortiori, sobre o processo de impeachment da Presidenta. Ausente da
reunião, disse Renan esperar que o
"impeachment não chegue ao Senado", e acrescentou que não participara
da grande reunião para não 'partidarizar' sua atuação como Presidente do
Congresso.
Procurando mostrar uma
suposta isenção no processo, disse: "É uma decisão democrática do partido
que tem que ser levada em conta. Se esse processo (de impeachment) chegar ao
Senado, e espero que não chegue, vamos juntamente com o Supremo decidir o
calendário."
Presente à cerimônia um grande
personagem da Câmara, o deputado Jarbas Vasconcelos afirmou: "Lula, Dilma
e o PT conseguiram unificar quase que na totalidade o partido contra o governo.
Na minha história, não vi nenhum ato tão próximo da unanimidade no PMDB, como
este."
É importante para o PMDB
que uma figura da relevância de Jarbas Vasconcelos compareça à reunião de
significado histórico do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, e dele
participe não mais como um dissidente, como era o que ocorria na prática. Se
sobrelevar a figura de Jarbas Vasconcelos no horizonte do partido de Ulysses
Guimarães, isso será bom não só para o PMDB, mas também para o Brasil.
( Fonte: O
Globo )
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