terça-feira, 29 de março de 2016

Correio do Impeachment (2)


                        
        Começam a sair os ministros peemedebistas do Governo Dilma. A saída de Henrique Eduardo Alves, do Turismo, marca o primeiro a partir. É conhecida a cercania de Alves com o Vice-Presidente Michel Temer, e o seu intúito será o de dar a largada na antiga aliança PT-PMDB, com treze anos de duração. Além dos seis demais ministros de estado peemedebistas que faltam demissionar, há seiscentos cargos federais de importância a serem largados  pelo PMDB. A par disso, Temer acompanha de perto o comportamento dos demais partidos, que integram a chamada base. É quase certo que outros partidos - que hoje formam na chamada base de apoio, como  PP, PSD e PR, venham a seguir tal exemplo, ou pelos menos liberem  as próprias bancadas para votar como quiserem sobre o impeachment.

       O que o PT deseja a todo custo evitar é o de criar mais animosidade, em um momento já delicado. Ao invés de acirrar o ambiente, interessaria à direção petista compor e não indispor os ânimos, como fatalmente ocorreria com a ameaça no discurso do líder do governo no Senado, Humberto Costa, ao dizer em ameaça explícita a Temer que ele será "o próximo a cair" caso o afastamento do PMDB seja aprovado.

       Depois de várias semanas transcorridas evitando uma reunião com o Vice Michel Temer, neste domingo 27 de março, o ex-Presidente Lula da Silva logrou afinal um encontro com Temer, em São Paulo.

       Na oportunidade, Michel Temer traçou panorama da situação interna no PMDB. Adiantou Temer que o clima para a reunião do Diretório Nacional é pelo rompimento. Nesse contexto, aduziu, em resposta a perguntas de Lula da Silva, que não há mais condições de reverter o quadro favorável à separação do Governo.

         Nesse contexto, ao indagar o ex-presidente Lula da eventual possibilidade de um adiamento da reunião do Diretório Nacional,  o presidente Temer afastou qualquer especulação nesse sentido, ao asseverar  que o resultado pró-rompimento já estava consolidado  e que, por conseguinte, não mais seria possível "segurar o partido".

       

       E se preciso fora de ulterior indicação dessa prevalente tendência peemedebista, amostra dessa impossibilidade estava na decisão de ontem, 28 de março, do diretório peemedebista de Minas Gerais  de romper com o governo Dilma Rousseff, na linha e no exemplo já encetado pelo diretório do Rio de Janeiro.

  

        Lula, mais ou menos se autodesignou como comissário pró-manutenção de condições que viabilizem a montagem, ainda que precária, de estrutura política que consiga dar a Dilma um simulacro de governo. Ao invés de dar declarações como a do líder do PT no Senado, Senador Humberto Costa, que ameaçou o vice Michel Temer de que ele será "o próximo a cair", o ex-presidente Lula acentuou:

        "Vejo com muita tristeza o PMDB abandonar o governo ou se afastar. Pelo que estou sabendo, os ministros do PMDB não sairão e nem a Dilma quer que eles saiam."

 

         Evitando assim a crassa inabilidade de sua pupila, que afastara  em represália o Presidente da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), como punição à saída de Ministro do PMDB (e, por conseguinte, precipitando a atual magna crise), Lula voltou a ser o paz e amor da eleição de 2002: "no segundo mandato, nós fizemos um acordo com o PMDB. Ainda assim, a gente nunca teve todo o PMDB. Você tem vários estados em que o PMDB quer apoiar o governo."

 

          Ao cabo, a velha raposa veio com a seguinte estória: "O governante precisa pensar no futuro e não ficar preocupado  em sobreviver dia a dia, que é o que está acontecendo hoje.  É uma sangria todo santo dia, e com o apoio de uma certa mídia, que colabora para que o clima de ódio fique estabelecido nas ruas deste país." E assim arrematou o velho político:"Deixem essa mulher governar."

 

           Comovente, não lhes parece?  Mas em deixando ela governar, é que o Brasil veio a sofrer da inflação de dois dígitos, a séria e pesada crise da recessão econômica, com o largo desemprego que afeta a tantos milhões de brasileiros. Tudo isso sem falar na escrachada corrupção que, com o Petrolão, arrebentou com a Petróleo Brasileiro S.A. Apesar de tantos anos como chefe do seu Conselho de Administração, enquanto Ministra da Casa Civil, ela nunca soube de nada quanto ao assalto à Petrobrás pela aliança das empreiteiras. Desse modo, na prática, com as negociatas da Enferrujadinha (Pasadena),  só em passado recente, com a Operação Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público Federal, o Poder Público pode uma vez mais tirar a Petróleo Brasileiro S.A. dos baixios e atoleiros da maior corrupção da História do Brasil.

            

             E para que tudo isso acontecesse, os culpados não são duendes ou fantasmas. São políticos (no lado passivo, agentes grandes e pequenos), tanto no Poder Executivo, quanto no Legislativo, apadrinhados partidários, de alto bordo, médio e baixo bordo; e no lado ativo, empreiteiros (presidentes, diretores e empregados) doleiros e agentes partidários. Foi necessária uma nada santa-aliança entre as empreiteiras (a relação abaixo não é exaustiva): Odebrecht, OAS, Camargo Correa, Mendes Júnior, Engevix, UTC, Queiroz Galvão e outras mais...) A sofisticação nessa corrupção será tão grande que haverá necessariamente lacunas na tipificação dos inúmeros elementos atuantes, pela diversificação de papéis dentro do crime organizado, os quais forçosamente serão omitidos, não voluntariamente, mas pela própria ignorância, o que sem dúvida é um dos pouquíssimos  casos em que esse tipo de desconhecimento possa ser visto positivamente...

 

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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