quinta-feira, 3 de março de 2016

Pós-Super-terça democrata et al.


                       
       Com as suas vitórias nesta terça, Hillary Clinton mostrou que pode construir amplas maiorias baseadas nos eleitores afro-americanos e nos chamados latinos, além de ter largo apoio na população branca e sulista.

        Dessarte, agregando minorias - e nisso incluídos os segmentos de brancos de menor renda que a Senhora Clinton vem montando maiorias através das primárias desta eleição - tende a ser fórmula para a vitória da chapa da ex-Senadora por New York e  Secretária do Departamento de Estado, no primeiro mandato de Obama.

        Se Bernie Sanders continua ainda competitivo, com as  derrotas da Super-terça a sua posição se enfraquece, e já não mais parece o bicho-papão que surgira com a esmagadora vitória no pequeno New Hampshire.

         Há outro dado muito importante que merece especial consideração: com esta Super-terça, Hillary montou uma diferença em delegados comprometidos (pledged) para a Convenção Democrata que é superior àquele que possuía Barack Obama sobre ela, logo após a Super-terça de 2008.

         Ainda é muito cedo para considerar Bernie Sanders como fora do páreo, mas Hillary tem demonstrado forças e um approach eleitoral (aprendido e hoje internalizado pelas palmatórias da disputa primária com o jovem Senador Barack Obama, ao ensejo da competição pela nomination da campanha de 2008).

           E Hillary não desconhece uma outra premissa para construir sólidas maiorias para o além-Convenção, vale dizer a campanha pela presidência com o rival - possivelmente Donald Trump - representante de um indisposto GOP.

           Por isso, a senhora Clinton, ao deparar  o forte adversário nestas primárias, terá presente igualmente a necessidade de construir sólidas coalizões   para o dopo (depois) convenção de Charlotte. Dessarte, ela não desfará do contendor e deverá tratá-lo - se a campanha continuar a evoluir dentro das linhas das últimas refregas - não esquecendo que adversário hodierno poderá ser o aliado de amanhã. Não queimar pontes, portanto, com o pensamento voltado para a formação de largas alianças de eleitores das minorias (negros e latinos), de sulistas e população branca de baixa renda, inclusive operários - todos seus eleitores no passado e no presente - assim com a seara de Bernie, com os liberais (progressistas) e a juventude.  Por outro lado - e tenho a impressão de que isto virá por acréscimo - se incrementará a conscientização no público feminino da importância para o gênero de enfim mulher entrar na Casa Branca, não como cônjuge, mas como Madam President.

             Nessa grande democracia, não se fazem presidentes (ou presidentas) por indicação de algum magno cacique ou coronel - como talvez em outras partes da América isto seja possível.  Pode ter havido no passado um presidente 'eleito' pela Corte Suprema - e estou certo que os Estados Unidos pagaram muito caro pela circunstância de que Al Gore (que teve a maioria na votação direta, mas não na indireta, que é a que conta nos Estados Unidos) perdeu para quem seria um dos piores presidentes estadunidenses, George W. Bush, que com  a aventura do Iraque desperdiçou bilhões e bilhões de dólares do Tesouro americano, sendo por conseguinte o principal responsável pelo chamado Declínio, que é a retração da Superpotência (que pode ou não ser permanente) por força do desastre neo-conservador do intento de derrubar Saddam Hussein, encontrar as armas de destruição de massa (inexistentes)  e estabelecer a pretensa democracia no Oriente Médio...

             Um dos herdeiros principais do grande erro é o chamado ISIS, exército islâmico, composto em boa parte pelos soldados e apoiadores de Saddam Hussein.

              Em termos de destruição irreparável de monumentos de antigas civilizações, até então preservados, a palma vai para o chamado Exército Islâmico, sob o Califa al-Baghdaadi, que no passado servira sob as ordens de Saddam, junto com muitos de seus companheiros militares.

              Por sobrevoarmos, ainda que metaforicamente, a sua área de ação, que é a velha Síria, a terra da passagem entre Europa e Oriente Médio, será  bom ter muito presente a relevância de uma paz real na Síria. Infelizmente, por ora, Bashar al-Assad, graças ao apoio de gospodin Vladimir V. Putin (que ganha boas bases militares e navais em consequência)  deverá permanecer com algum poder. Isto decerto já não é dessa longuíssima sublevação um bom fim, porque permitiria a permanência do ditador responsável em última análise por todo o desastre ocorrido na região (e não é de menos que seja a origem do grande afluxo de refugiados que testa a resistência e a capacidade de absorção dos diversos países, a começar pelo mais afluente e com mais firmes bases na C.E. que é a Alemanha de Angela Merkel). E este milhão de refugiados acolhidos[1] pela Chanceler da RFA coloca não só a estabilidade política alemã em perigo, mas também a permanência no poder de Frau Merkel em dúvida mas a própria estabilidade da União Européia. Mas isso é um outro assunto...

 

( Fonte: The New York Times )



[1] com nobreza de caráter, muita coragem política, e riscos para dar e vender.

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