O Presidente Vladimir V. Putin, de chofre, divulgou
pela imprensa russa, no seu sinuoso estilo direto, que foge das armadilhas dos detalhes: "Acredito que a tarefa
colocada para o Ministério da Defesa e as forças armadas da Rússia foi
cumprida, e em sua totalidade".
Eis o estilo Putin no Kremlin: propositalmente vago na sua
concretude, o que lhe realça o lado positivo e tenta dissimular eventuais fragilidades.
Na sua intervenção, após solicitação
de Bashar al-Assad, enviara tropas e esquadrilhas de caças-bombardeio. Graças à
reentrada na guerra civil síria, ganhara outra base aérea, agora na província
de Latakia. O porto de Tartus, no Mediterrâneo oriental já constituía há tempos
base naval da frota russa.
Em Latakia, estão entre quatro e cinco
mil homens, e cerca de setenta aeronaves Sukhov, além de sistemas de defesa
antiaérea, blindados (não muitos) e navios no Mediterrâneo.
Para surpresa de alguns, as
intervenções aéreas russas atacaram não só o ISIS, mas também os rebeldes.
Assim, o ingresso no conflito sírio terá melhorado um tanto a situação do
ditador alauíta. A ênfase dos ataques aéreos russos visou, contudo, não só a
melhorar a posição do ditador sírio, mas também a imagem do autocrata (essa
guerra é popular com o povo russo).
Regiamente pago pela
intervenção, Putin busca ganhar mais prestígio para a Rússia, como potência
mundial, e não mais simples força regional, como espicaçara Barack Obama.
A guerra civil síria, iniciada
no sul, dura portanto há cinco anos. Duzentos mil sírios morreram e onze
milhões perderam suas casas. Nesse último grupo, está a fonte principal da
marcha de refugiados para a Europa Ocidental.
A participação russa na guerra
civil síria - desde que Assad começou a ter ameaçada a sua posição - tem sido
uma constante. Se a resistência da Síria livre contou com o apoio da Liga
Árabe, e dos países do golfo, o governo
de Damasco foi apoiado pelo Irã e pelos caudatários guerrilheiros do Hezbollah. No entanto, será a intervenção
de Putin no final do ano passado, a
partir de setembro, que deu alento ao ditador alauíta, e o pôs em algo melhorada
situação nas negociações de Genebra.
O Ocidente, com a omissão de Obama
- que barrou uma presença mais afirmativa na guerra da Síria, como propusera
Hillary Clinton, então Secretária de Estado, a qual contara com o apoio de todo
o estamento de defesa americana. Mas não foi bastante para demover Obama de sua
programática inação.
Entrementes, após a curva
ascendente na expectativa de vitória a favor da União Rebelde - que teve o
apoio da própria Liga Arabe, as
reticências do Ocidente deram alento ao tirano, enquanto refluía a união
rebelde.
Sergei Lavrov,
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, é uma espécie de alter ego de Vladimir Putin, e estará na
mesa de negociações de forma proeminente, por força da dosada intervenção
russa, até agora coroada de êxito (salvou o parceiro Assad e cravou mais uma
base no Mediterrâneo oriental).
Como sempre Putin visa a mais
lucros e expansão naquela área a que os russos mencionam de forma ominosa para
os infelizes vizinhos com o estrangeiro
próximo. Gospodin Putin conta afinal livrar-se das sanções que foram
cominadas à Russia (por atacar a Ucrânia, invadindo e apossando-se da Criméia). Para tanto, o Kremlin estaria disposto até a voltar
atrás no apoio aos separatistas pró-Rússia, no oriente da Ucrânia...
( Fonte:
Folha de S. Paulo )
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