quinta-feira, 30 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XXIV)

                    

         Ao deparar ali Adolpho e Lucy, e o pessoal da sucursal, quase não acreditei no que via. Naquele mundaréu de gente não era fácil localizar alguém.
         Com a minha experiência daquela memorável jornada, não perdi tempo em dizer-lhes da minha impressão.
         Adolpho, acho que vocês não deveriam ficar aqui. A multidão é grande, está irritada, e não me parece prudente que seu chofer se ponha logo à entrada do Campo da Esperança. Vocês se dão conta do número de pessoas que passam por esse carrão que  pode dar a muita gente uma impressão errada?
         É, você tem razão, disse ele.
         A dúvida estava no que fazer. Ficar ali, dentro do carrão, nem pensar. Mas o quê então?
         Já sabia que alguns políticos do MDB se tinham postado em torno de o que seria a sepultura provisória de JK .
          Acudiu-me a ideia de sugerir a Adolpho que fôssemos mais para dentro do campo santo, que logo encontraríamos ao Dr. Ulysses e a outros políticos da Oposição.
           Saímos dali com Lucy e Adolpho, e mais os dois ou três gatos pingados que estavam no carro.
           No cerrado, a noite pode cair depressa. Já naquela época, a iluminação do cemitério deixava bastante a desejar.
           Sem querer fazer humor negro, campo santo - excluídos os macumbeiros e a turma do quimbanda - não é lugar em que se depare muita gente à noite. A iluminação costuma ser bastante deficiente, e caminhar na escuridão é arriscado.
           Haveria sempre uma lanterna que a turma da sucursal arranjara.
           Ao final e ao cabo, Adolpho achou preferível voltar no dia seguinte, para as homenagens ao amigo.
           No ar, havia muita tristeza.
           Os restos mortais de JK ficaram no Campo da Esperança, até doze de setembro de 1981. Nessa data, foram inumados na Câmara Mortuária do Memorial JK, que é do risco de Oscar Niemeyer.
            Lamentavelmente, Niemeyer serviu-se da figura, da realização e da mensagem de Juscelino Kubitschek para deformá-la e deturpá-la em imagem que nada tem a ver com a obra e o pensamento do grande presidente.  Tomou de empréstimo a figura do construtor de Brasília para ideologia a ele estranha. 
             Pode-se interpretá-la como brincadeira de mau-gosto ou apropriação indébita.  Juscelino não merecia isto.


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