segunda-feira, 27 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XX)

                          


        A segunda novela da Rede Manchete seria grande, em verdade, descomunal êxito. Com efeito, Dona Beja, na interpretação de Maitê Proença, fez muito sucesso, com a história da cortesã de Araxá.  Dada a jovem beleza de Maitê, as cenas de nudez explícita, como o seu desfile em cavalo branco, sacudiram a modorra da tevê, e levaram o Ibope às alturas. Teve 89 capítulos, em texto de Wilson Aguiar e direção de Herval Rossano.
         Com a formosura da protagonista, sintonizar para a Tevê Manchete deixou de ser opção eventual, e o sucesso de público da novela desbancaria a concorrência.
         Nessa primeira década da tevê Manchete, houve outros êxitos, como Tudo ou Nada, de Manoel Carlos e direção de Herval Rossano. Essa foi a primeira novela que chegou à marca de 161 capítulos.
          Por sua vez, com Helena, de Mário Prata, surge Luis Fernando Carvalho, na direção.  Ele voltaria na novela seguinte, Carmen, de Glória Perez, dividindo a direção da novela com José Wilker, em seus 180 capítulos.
          Essa década terminaria com Kananga do Japão, que teve 208 episódios.  Com a autoria de Wilson Aguiar e a direção de Tizuka Yamasaki,  a novela foi inspirada pela vivência boêmia de Adolpho nesse bar da sua mocidade.
          A segunda década foi aberta pela novela Pantanal, com 216 episódios, escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Jayme Monjardim.
          Com o grande, descomunal êxito de Pantanal, Adolpho  vivenciou a realidade de tratar de igual para igual com a Rede Globo. Pantanal conquistou nossa gente pela sua telúrica brasilidade, originalidade extrema e pelo que significava através da ampla penetração em uma terra real, que se tornou  rara, inigualável experiência  para o público brasileiro. Por isso, não havia opção nem possível concorrência com a novela, até que boa,  Rainha da Sucata, na programação da Rede Globo. A diferença era demasiado grande para que o espectador sequer considerasse ver a produção da Globo, diante do fenômeno telúrico que foi Pantanal. A disparidade se afirmou de tal forma que a habitual ambivalência do telespectador não tinha sequer condições de colocar-se.
            Desde fins de março até princípios de dezembro de 1990 Pantanal encanta o Brasil, e a Rede Manchete, com o ibope nas alturas, fez com que a Rede Globo se arrastasse nos baixios dos públicos menores.
             Também o cast de Pantanal foi montado para corresponder à força do desafio. Cassia Kiss é a grande protagonista, com o personagem de Maria Marruá, e a sua filha, Junia Marruá (Cristiana Oliveira) faz o papel de sua vida. Nos papéis masculinos, na segunda parte da trama, avulta a presença do ator Paulo Gorgulho, como José Leôncio.
              Como esses grandes tableaux cênicos - no qual a simples presença constitui menção notável de desempenho numa carreira artística - nele encontramos na primeira e segunda partes José Duarte, Claudio Marzo, Jussara Freire, Enrique Diaz, Ewerton de Castro Sérgio Britto, Marcos Winter, Marcos Palmeira, Andrea Richa, Carolina Ferraz, José de Abreu, Oswaldo Loureiro, Itala Nandi e Nathalia Timberg.
              Nos cinco anos que lhe restaram de vida, Adolpho não viu sucesso equivalente a Pantanal. O fora do comum, o extraordinário convive mal com as novas produções. Se as novelas seguintes - A história de Ana Raio e Zé Trovão - teve 251 capítulos e Amazônia, 162, tampouco as ulteriores - Guerra sem Fim, e 74.5-Uma onda no Ar  - seriam grandes sucessos. Como as grandes árvores na floresta não convivem em sua cercania com outras que se lhes comparem em pujança. Assim como o tamanho descomunal, também o grande sucesso só o será se cercado por realidades que não lhe façam sombra.

              Quando Adolpho Bloch falece na mesa de operação do Hospital da |Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 19 de novembro de 1995, em extrema tentativa da equipe médica de recompor-lhe a válvula mitral, tem ele oitenta e sete  anos, há pouco completados em oito de outubro.

Um comentário:

Mauro disse...

Caro Pai, não tinha ideia que você sabia tanto sobre as novelas da Manchete. Confesso que os nomes evocam longínquas recordações para mim, mas sua descrição me fez rever a sala em Brasília, e todos ao redor da mesa mexicana, vendo a novela. Sinto saudades daqueles dias. Hoje olho para Cecília, assistindo TV conosco. Espero que daqui a 30 anos também ela se lembre saudosamente disso...