sábado, 11 de junho de 2016

Lembranças de meu tio Adolpho (XI)

                     

         Devo, no entanto, pedir licença às minhas memórias para inserir os passeios de lancha na baía de Guanabara.
         Adolpho havia comprado uma lancha, rebatizada "Manchete", que ficava ancorada no Clube Naval, perto da praia da Urca. A entrada era mais ou menos em frente da Reitoria da Universidade.
         Como barco não era dos maiores, nem dos menores. Ficava no meio termo. Nem Adolpho, nem Lucy tinham  intenção de manejá-la, o que ficou por conta de marinheiro especialmente contratado.
         Tinha tanto na proa, quanto na popa, espaço para se tomar banho de sol.  E  havia, se não me engano, na parte inferior, dois beliches. Também aí o humor de Adolpho se fazia presente, com um aviso aos navegantes dentro da cabine: "O comandante deste barco está autorizado a convolar núpcias, que só são válidas dentro da embarcação."
          A cara marota que Adolpho fazia ao mostrar a placa a eventuais convidados - e a graça seria maior quando fosse par de noivos - infelizmente não pode ser reproduzida. Mas dizia muito das preferências humorísticas do tio. 
           Sabendo que os jovens gostam de passear de lancha, Adolpho me inseriu várias vezes nos passeios, de que eu gostava muito. Era mais ou menos na época de meus estudos no Instituto Rio Branco, que é, na prática, a Academia Diplomática. Como a preparação exigisse bastante, apreciava muito a oportunidade de espairecer em passeio marítimo.
            Mas ao referir-me a marítimo, é bom deixar claro, que tanto Adolpho e muito menos Lucy não tinham a menor intenção de sair da Baía de Guanabara.
             Os passeios - verdadeiras promenades en mer[1] - nos levavam em área próxima ao Saco de São Francisco, em Niterói.  Naquele tempo, as águas dentro da baía eram límpidas, quase cristalinas. Ficávamos, em geral, próximos de uns arrecifes, e saíamos da lancha, Adolpho e eu, até esse lugar, onde se podia ficar de pé.
               Pensar que hoje não se possa mais sequer pensar em nadar - e muito menos mergulhar - na baía mostra  quanto regrediu a situação das águas do final dos anos cinquenta e princípios dos sessenta.  Dizer que agora o mergulho de um subsecretário da Prefeitura nessas águas foi considerado pelos peritos como grande imprudência (poderia ter contraído doença grave) dá triste ideia do avanço da poluição (e do descuido dos governantes).
                 Recordo-me com saudade desses tempos que só logramos conservar nos angustos espaços da mente.  Por uma vez - ele estava de passagem pelo Rio - pedi a meus tios licença para convidar o meu primo-irmão Fabiano Maisonnave para o passeio na Baía.        




[1] passeios no mar.

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