quinta-feira, 23 de junho de 2016

Lembranças de meu Tio Adolpho (XVIII)

                      

        No começo do blog anterior, reportei-me à ciranda dos bancos a que o tio Adolpho se via forçado a realizar, direta decorrência de seu projeto de desenvolver Gráficos Bloch, a ponto de tornar a designação longínquo sinal de o que tinha sido o ponto de partida das Organizações Bloch.
        Não era por cega ambição que Adolpho seguira e implementara tal projeto.  Preocupava-se com a criação de organização ampla, que não se limitasse apenas às revistas, como Manchete, Fatos & Fotos, e tantas outras voltadas a um público específico.
        Entregando o projeto da sede das Organizações Bloch - a que a antiga localização na Frei Caneca não mais satisfazia - ao arquiteto Oscar Niemeyer apontava para compromisso não só com a qualidade, mas também com projeto que transcendesse os limites até então provincianos do setor editorial.
         Para financiar tais iniciativas, Adolpho não podia dormir sobre os louros até então logrados. Sua ambição o empurrava para limites e objetivos mais altos, que colocassem o Brasil em níveis até então apenas arranhados, como sói acontecer na Terra da Santa Cruz, como nos escreve Frei Vicente do Salvador, no exemplo dos caranguejos a arranharem as costas do Brasil.
           Como não o motivaria a audácia de Juscelino Kubitschek, disposto a criar  a realidade de um Brasil por fim disposto a cumprir o mandamento de levar o próprio governo para o centro deste país-continente? Além de libertar-se dos velhos liames do litoral, seguir os passos dos bandeirantes não seria apenas aventura vazia, mas empresa voltada a despertar o nosso vastíssimo interior, escassamente populado, e cuja gente carecia de ser integrada ao projeto de um verdadeiro Brasil-continente.
           Pela sua natureza, Adolpho acolheu não só com prazer, mas também com entusiasmo, o governo novo de JK, que saía do ramerrame provinciano, e procedia em um quinquênio o seu programa de metas, que Juscelino ultimaria na sua meta-síntese, a nova Capital.
           Ao preferir atender ao chamado de quem se tornaria mais tarde seu amigo, Adolpho Bloch seguia prazerosamente a própria inclinação. E a sua ânsia de libertar-se das vistas acanhadas do provincianismo se reflete não só na construção dos dois edifícios-sede na antiga praia do Russell, mas sobretudo no sonho que tais projetos do arquiteto Oscar Niemeyer ensejavam tornar realidade.  Reporto-me às melhores condições de trabalho não só para o grupo editorial, mas também um novo ninho que abrigasse outra férvida ambição de Adolpho.
              Para o meu tio, nenhum projeto editorial no fim do século XX poderia admitir a lacuna de não adentrar a senda da televisão.
              Gráficos Bloch chegara um pouco tarde nesse campo, mas o que aí realizou em relativamente tão exíguo tempo nos faz hoje deplorar-lhe a forçada ausência. Mas disso trataremos oportunamente.
               Volto, no entanto, à questão que já adumbro nessa série sobre a magnitude do esforço e a consequente necessidade de financiá-lo.
                Daí, a ciranda bancária. Os prazos dos empréstimos exigindo repetidas renovações. Tudo isso implicando em esforço de financiamento que um contador conservador consideraria além de o que fazia prudente e necessário.
                 Adolpho sempre se voltara para os Bancos, e tinha com eles relação que oscilava entre a cordialidade e eventuais tensões, vindas dos objetivos a serem cumpridos, e das metas por vezes havidas como demasiado ambiciosas.
                  Desde o tempo de Gráficos Bloch, na Frei Caneca, em que  os irmãos Bloch - Boris, Arnaldo e Adolpho - empreendiam os primeiros passos, surge a cooperação com o Banco do Brasil.  Nesta fase, em que Adolpho ainda desempenha papel júnior, quadros desse grande banco estatal estão presentes na sede da Frei Caneca. E alguns deles passarão a atuar na organização, nessa fase embrionária de Bloch Editores. Menino ainda, eu os via nos acanhados escritórios dessa firma, que aos poucos engatinhava para as revistas especializadas, e que mais tarde se transformaria em Bloch Editores.

                    Mas a presença de funcionários do Banco do Brasil já indica a intenção dos irmãos Bloch de valer-se de financiamento para a eventual transformação do grupo. E será disso que me ocuparei no próximo blog.

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