domingo, 31 de janeiro de 2016

A Qualidade é Importante ?


                                       

           Há tempos escuros e tempos brilhantes? E, se existem, qual a sua influência sobre a sociedade?

           Nem sempre é fácil classificar a época em que se vive.

           Há exemplos de pessoas que, em momentos sociais depois reconhecidos como altamente satisfatórios, se lamentam da sorte, interpretando tropeços individuais ou conjugais, como fatores determinantes.

           O conjunto social e a sua situação serão decerto relevantes para a avaliação de certa realidade, que, por conta de vivermos em espaço determinado, adquire uma presença que tende a contribuir para o juízo individual, familiar, local e nacional.

            Já mencionei neste blog que os chineses - um dos povos de mais antiga organização sócio-política - consideram como maldição que se dirija a outrem o voto de que viva em tempos interessantes. Para o chinês, esse interessante assinala as convulsões sociais e os momentos difíceis das épocas de crise na organização política do Estado, seja por ameaça externa, seja por influxos internos.

            Por que o momento interessante (atendidas as condições acima) pode ser socialmente desestabilizante? Não só em determinadas tarefas, mas também se atravessarmos hora que a todos afeta em geral, parecerá à grande maioria preferível que ela não provoque emoções (ou comoções) demasiado fortes (por mexerem com a qualidade e/ou a expectativa de vida). O ser humano não enjeita as emoções, ainda que deseje ter algum controle sobre elas. Assim, viver em tempos interessantes pode implicar horas difíceis e imprevisíveis ameaças. Passada a tempestade, muita vez se avalia como positiva a experiência vivida, mas isto não quer necessariamente dizer que a travessia - plena dos riscos do ignoto - venha a ser experiência que valha a pena de ser vivida.

            No Brasil atual, não vivemos decerto na tranquilidade da sociedade bem organizada. Antes de ocuparmo-nos desta importante característica negativa, parece-me oportuno (a) compará-la com êxitos sociais no passado, e tentar prever-lhe a postura no próximo-futuro.

            A excelência brasileira, em épocas recentes, não parecia apta a sofrer contestações no campo do futebol, em que o Povo brasileiro considerava de altíssimo nível, como o demonstraram os sucessivos (5) campeonatos mundiais, todos conquistados fora do país. A  experiência de mais um título perdido no próprio país - 1950 e 2014 - não se limitou, porém, a tal, pois a derrota para a Alemanha por 7x1 foi um trauma nacional, além de constituir  sinalizador de   desestabilização mais ampla.

             O vexame de Belo Horizonte mostrou que temos de evoluir em termos de organização tática e de postura atlética. Algo está muito errado com o nosso desporto nacional se nas semifinais a Alemanha vence com dificuldade a Argélia por 2x1, e nos esmaga em menos de vinte minutos, com quatro gols, e para o que o técnico nacional não atina com defesa alguma.

              Havia a ilusão de que a nossa qualidade nesse campo era tal que era desnecessária a refundação de nossas estruturas futebolísticas. A saga brasileira começada na Suécia em 1958, tinha base sólida pela simples razão de que a CBF estava em boas, íntegras mãos. A situação atual, após a prisão na Suiça do presidente da CBF e a fuga desabalada de seu sucessor para o Brasil mais do que indicam a necessidade de  urgente reformulação da chefia da CBF. Não estranha que nada tenha sido feito, e agora se assiste a patética tentativa de Del Nero (que não viaja para o exterior por óbvios motivos) de, ou continuar à testa da CBF, ou lá instalar alguém de sua confiança.

               Se queremos vencer a corrupção, não temos alternativa. Devemos desalojá-la das praças, das tocas, dos estádios e dos palácios. E, sem embargo, essa inação do presente se afigura tristemente típica do momento hodierno. De certo modo, a política imita o esporte, eis que a atual Presidente - Dilma Rousseff -, uma das mais fracas e decepcionantes mandatárias que a História brasileira conhece, não tem condições de liderar, estando em uma luta de vida e morte pela manutenção do próprio segundo mandato, que é pendente de um processo de impeachment impetrado pelo político e jurisconsulto Hélio Bicudo.

                 Diga-se, de passagem, que Hélio Bicudo saíu do PT no Escândalo do Mensalão, que foi a primeira grande crise política do Partido dos Trabalhadores, enquanto no Poder. Personalidade de notória integridade, ele não hesitou em deixar na estrada da vida um partido que se transformara negativamente, corrompido que foi pelo poder. Do grêmio aguerrido, honesto, jacobino mesmo nos próprios compromissos, o PT continua hoje partido aguerrido, cuja única vocação é o poder. As demais características, que o sinalizavam, ele as deixou como margaridas pelo caminho, enquanto se agarra aos atrativos mil do poder.

                 Por que  nosso futebol falhou, e deixou de ser  nossa metáfora predileta de afirmação, posto que jogando por um caneco mundial em nossa terra, e junto da boa gente brasileira? Porque essa habitual qualidade natural do brasileiro, que o tornara adversário temível das demais equipes estrangeiras não recebeu a atenção técnica necessária, que estivesse em condições de manter a seleção apta a vencer os desafios desse esporte.

                 Atravessamos um período cinzento em nossa progressão histórica. Consultando  interesses pessoais,  o então Presidente do PT preferiu indicar alguém que mais respondia aos seus interesses pessoais, do que ao interesse nacional. Depois de um desastroso primeiro mandato, Dilma conseguiria a reeleição pela ocultação da realidade econômica do País.  O Povo votou pela sua continação - em disputa apertada - ignorando o tamanho do déficit das contas públicas, o que constituiu um verdadeiro estelionato político.

                 Configurada a situação e o esbulho que o Povo sentiu haver sofrido, a rejeição de Dilma e do Partido dos Trabalhadores em geral assumiu enorme escala. Há um processo de impeachment que o PT vem conseguindo travar. Por outro lado, a justiça brasileira, através da operação Lava-Jato vem esmiuçando as contas e as irregularidades dos líderes petistas, notadamente através do Petrolão e de uma série de escândalos que tem postos executivos de empreiteiras, antes poderosos, na cadeia. Além disso, o processo está longe de concluir-se e se aproxima sempre mais dos notáveis do PT, a começar por Lula da Silva.

                  A surda revolta popular contra os desmandos e as irregularidades do Governo do PT continua a crescer, alimentada pela série de escândalos contra o governo e o universo petista, e seus cardeais. Uma boa parte deles, como José Dirceu, já estão na cadeia, e esse destino semelha encomendados para outros, em poleiros ainda mais altos.

                   É bem verdade que o brasileiro olha em vão à sua volta, na busca de grandes valores, e se depara com um deserto que pode relembrar a alguns a solidão dos espaços saáricos, em que só os ecos respondem aos gritos de quem se anime a palmilhar os pétreos ermos.

                  A esperança será a última que morre, e quem sabe os nossos tempos interessantes nos hão de elevar, na boa gente brasileira, aqueles que mais nos encham as medidas.

                   Mas como disse o poeta, a vida é luta renhida, que aos fracos abate, mas aos fortes...

                    Nessa escuridão, há muitos fanais diante do sofrido Povo brasileiro.

                    Depois de atravessar o breu da caverna, o filósofo nos promete luzes de esperança e saber.

                     Se no futebol, esse mero deporto que tanto nos é caro, o Povo aguarda voltar a ver craques de futebol, que nos encantem tanto pela maestria, quanto pelo bom exemplo na própria fazenda,  em um espaço mais amplo será demasiado querer um Presidente com a alegria e o querer fazer de um JK, com a firmeza de um Getúlio Vargas, e com a autoridade - sem as excentricidades - de um Jânio Quadros ?

 

( Fonte: Arnold Toynbee, A Study of History )

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