sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Dilma e Lula: o divórcio é pra valer?


                             
        Segundo Merval Pereira, a entrevista de ontem de Dilma, no café da manhã com os jornalistas - já notaram a propósito como a crise a tornou mais acessível e falante? - a contraposição entre a Presidente e o seu suposto orientador, Lula da Silva, não poderia ter sido mais marcante.

       De acordo com o colunista, parecia outra pessoa: defendeu o equilíbrio fiscal, a inflação dentro da meta, a reforma da Previdência e mais uma série de outros pontos que são opostos ao que o PT e o ex-presidente Lula defendem.

       A relação entre os dois terá mudado desde a sua afirmativa da candidatura à reeleição, dissipando as ilusões de Lula da Silva quanto a uma nova tentativa sua de eleger-se por terceira vez.

       Nesse momento, ficara marcada a força de presidente no exercício das funções, no que tange a então permitida reeleição. De resto, eram outros tempos. A situação de Dilma, salvo a inflação, não estava ameaçada pelo Petrolão, e ela pôde, com a ajuda de muita cara de pau, auxílio institucional e a própria força inercial do cargo, manter a própria posição, em um céu ainda não excessivamente nublado por denúncias.  Elas viriam, decerto, mas então a Inês presidencial já tinha exalado o próprio suspiro.

       Agora, Lula faz liga nas reuniões com Rui Falcão, presidente do PT. As posições dos dois maiores astros da constelação petista hoje são diferenças bem marcadas: basta ver os tópicos assinalados no segundo parágrafo - equilíbrio fiscal, inflação na meta,etc.  - para ver que são posições bastante distintas.

       Dilma sendo o que é, semelha difícil garantir que tais posições devam ser levados a sério. É de notar-se que ela própria ateou fogo à fogueira, e a crise que se nos depara, sabemos bem a quem atribui-la, a começar pela inflação. Não sei aonde quis chegar com as suas loucuras fiscais. Além de tratar a sociedade e o povo brasileiro como se fossem imbecis - o seu 'combate' à carestia se resumia a expressões sovadas, do gênero "não permitiremos que a inflação corroa os salários, etc. etc. dentro de uma retórica de que o dragão se lixa solenemente.

        Pode ser que Dilma esteja bancando a boazinha, enquanto arde a fogueira do impeachment. Depois da votação do Supremo, e a mudança radical na situação do impeachment: o Congresso e notadamente a Câmara paga pela sua desídia, não reformando a atualização a lei de 1950, que regula o processo, dadas as aparentes dificuldades de compatibilizá-la com a Constituição de 1988 (embora o bom voto do Ministro Edson Fachin tenda a mostrar que não é bem assim).  No final, prevaleceu a posição do Ministro Luis Roberto Barroso, ainda que por um voto apenas, que constituiu uma verdadeira peripeteia do teatro grego clássico. A votação para a Câmara Especial foi anulada, deu-se precedência ao Senado de Renan Calheiros, que ora pende para Dilma, e por aí afora. Não é à toa que a poule do impeachment parece em baixa, salvo chuvas e trovoadas de última hora...

         A época para aferição do mood nacional não é a melhor possível, eis que o carnaval (e não Anibal) está às portas. Só depois de virar-se esta página é que se pode examinar ou as cartas, ou as conchas, ou vá-lá o que seja, para tentar entender para onde vai o movimento pró-impeachment. Continuará encolhendo, como as prévias do Data-folha e sobretudo a volta - cautelosa, é verdade - de dona Dilma à telinha da tevê, sem que se possa auscultar panelaços ? Até os aumentos nas passagens de ônibus foram engolidos, a despeito da falta de qualquer sentido social no serviço, mantendo os passageiros no Rio sob a canícula de coletivos sem ar-condicionado, malgrado as repetidas promessas das empresas...

          No entanto, as opiniões sobre o futuro podem variar. Merval Pereira, na sua coluna, por exemplo, parece pensar que os tempos podem mudar para valer: "O ex-presidente Lula deve ter entendido  que já não tem condições de ditar as regras como antigamente. Os tempos mudaram, e nada mais exemplar  dessa transformação do que  as cinco horas em que Lula  passou depondo na quarta-feira na Polícia Federal sobre a Operação Zelotes".

 

( Fontes:  O Globo, Estado de S. Paulo )           

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