quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Nesga de luz para o Impeachment ?


                    

        A surpreendente decisão do Supremo que, na prática, muda o jogo na Câmara para o julgamento do impeachment - como de resto o assinalou o Ministro Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, sublinhando que o governo Dilma ganhara vida nova - tem sido, no entanto, alvo de críticas de pesos-pesados no direito.

         Ex-ministros - e inclusive um ex-presidente do STF - avaliam que o tribunal interferiu indevidamente no Congresso.

         O atual Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, promete servir-se do chamado embargo de declaração, que pede o esclarecimento de pontos da decisão.

         O principal questionamento é de que o Supremo não poderia ter interferido no funcionamento do Congresso, ao definir como deve ser formada a Comissão Especial que analisará o pedido de impeachment na Câmara.

         O mais forte reparo à construção do veredito, está no parecer do ex-Ministro Carlos Velloso - o qual foi presidente da Corte - que afirmou haver o tribunal errado ao interferir indevidamente no funcionamento do Congresso. Para ele, todas as eleições devem ser secretas, para dar ao parlamentar a liberdade de votar segundo sua consciência.

         A lição de Velloso - que, de resto, reflete o bom senso e é conforme à realidade - me parece irrespondível: "O que garante a independência do eleitor, seja o eleitor cidadão, seja o eleitor parlamentar, é o voto secreto. Essa é a regra de ouro em se tratando de eleição. O regimento é expresso, o presidente (da Câmara) não tirou a regra  da cabeça dele".

         Outra decisão também muito questionável se refere às candidaturas avulsas.  Segundo Velloso, essa questão das candidaturas avulsas é "interna corporis" (cabe apenas ao Congresso defini-las). Nesse sentido, o Ministro Dias Toffoli também se manifestara em concordância com o que agora assevera o ex-Ministro Velloso. Para o ex-presidente do STF as candidaturas avulsas são importantes para ensejar a liberdade de escolha por parte do parlamentar.

         Embora seja difícil para o ex-Ministro Velloso que o STF modifique sua decisão em embargos de declaração, isso, segundo ele, não é impossível: "A decisão pode ser mudada em embargos de declaração, se o Supremo entender que houve um erro de fato. Se algum Ministro entender que errou, ainda dá tempo para corrigir o erro."

        Há dois outros pontos que podem invalidar a guinada impressa pelo Ministro Luis Roberto Barroso. Para Ayres Britto, o Supremo se equivocou ao proibir a apresentação de chapas avulsas, ao desrespeitar princípio "interna corporis".  Por outro lado, o Regimento da Câmara deixa claro que qualquer eleição na Câmara deve ser realizada de forma secreta.

 

( Fonte:  O  Globo )

Nenhum comentário: