quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ângela Merkel desestabilizada ?


                                    

          No seu importante artigo em The New York Review, Michael Ignatieff  'Os refugiados e a Nova Guerra', a que me reportei no blog, não excluira a possibilidade de que Angela Merkel, a Chanceler alemã, viesse a 'pagar' por sua coragem, pela circunstância de não fechar a fronteira da República Federal aos refugiados da Síria, ao contrário de tantos outros seus homólogos na União Européia.

         Como se sabe, nas celebrações do Novo Ano, multidão avaliada em  mil pessoas se instalou na praça ao lado da Catedral de Colônia, que, com cerca de milhão de habitantes, é a quarta da Alemanha.

         Conforme relatos posteriores, essa turba era formada na sua maioria por homens "de aparência árabe ou norte africana". E o que houve seria assaz previsível nas circunstâncias: vários deles assaltaram e agrediram sexualmente centenas de mulheres. Estranhamente, não houve qualquer interferência polícial.

          As ocorrências policiais - registradas post factum - são: duas denúncias por estupro  (durante os festejos). Partes íntimas de mulheres tocadas e roupas rasgadas. Ao todo, até agora, 650 queixas, cerca de 45% por agressão sexual.  Outros incidentes foram registrados em Hamburgo.

           Os lojistas de Colônia revelaram, a posteriori, que os seus estoques de spray de pimenta foram vendidos em poucas horas.

            Por outro lado, a polícia de Colônia informou que desde 1° de janeiro os pedidos de autorização para a compra de pistolas de pressão  (que exigem menos burocracia do que armas comuns) chegaram a trezentos (contra 408 em todo o ano de 2015).

           Como seria também previsível, em se tratando de gente de culturas diferentes e de sociedades opostas em termos de costumes, os incidentes de Colônia podem desestabilizar a única governante europeia que pensara cumprir o próprio dever humanitário ao receber os refugiados do interminável drama sírio.

            Nesta hora, a nova Chanceler de Ferro, Frau Angela Merkel fica desestabilizada pela insegurança trazida para a tranquila Alemanha Federal.  Ela enfrenta até mesmo a insatisfação de membros de seu partido, a CDU (União Cristã democrática), que reclamam regras mais rígidas para deter (e controlar) o fluxo de refugiados.

            Por negar-se até agora a afirmar que um milhão de refugiados já é suficiente, um cientista político da Universidade de Bonn, Tilman Mayer, refere o que o próprio Michael Ignatieff em seu supra-referido artigo já antevira: "Penso que existe até mesmo a possibilidade de que ela seja derrubada depois das eleições para as assembléias estaduais marcadas ao longo de 2016. Temos uma Chanceler que não diz que um milhão de refugiados já é o suficiente."

                A irritação do eleitorado se acirra diante da disparidade entre a Alemanha Federal - que acolhe mais de milhão de refugiados - e os demais países da U.E., em que eles são barrados ou admitidos na base do conta-gotas.

                Como sublinhara Ignatieff, essa exasperação cresce diante da disparidade de valores, sobretudo de parte de países como os Estados Unidos, que tem acolhido apenas um punhado de refugiados, apesar de ter não pouca responsabilidade pelas condições presentes do conflito na Síria.

 

( Fontes: The New York Review, Folha de S. Paulo )

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