sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Xi Jinping e a Economia chinesa


                                  

          O poder tem limites, e mais ainda o poder econômico, que é uma decorrência das leis do mercado.

          Xi Jinping, como já foi referido no blog, é o dirigente chinês que ascendeu ao mando, com maior força intrínseca. Dentro do peculiar procedimento do Império do Meio de apontar o seu presidente de turno - em geral, por dois períodos sucessivos e não mais - Xi foi o que desta feita, na velha linguagem do turfe, era verdadeira pule de dez para ser escolhido.

         Ao contrário do antecessor Hu Jintao, pelo seu currículo e nomeada, não havia maiores dúvidas quanto a que fosse o indicado.

         Por vezes, no entanto, demasiada força pode representar um ulterior obstáculo, seja pela criação de maiores expectativas,  seja por eventuais resistências que presença demasiado dominante possa vir a causar.

        Xi se tem deparado com obstáculos não-previstos na seara econômico-financeira.  É a segunda vez que há problemas com o renminbi. Como se sabe, em novembro último, o Fundo Monetário Internacional acolheu a moeda chinesa entre as principais divisas mundiais.  O problema com a elevação de status é que ela implica a cessão de determinados controles. Não se pode gozar das benesses de adentrar o reduzidíssimo círculo das grandes moedas internacionais, sem a contrapartida da cessão de algum poder interno sobre a paridade, eis que se permite às forças do mercado exercerem um poder maior na determinação do respectivo valor de troca.

         Assinale-se, outrossim, que ao invés de seus antecessores, que se caracterizavam por posições burocráticas e o consequente exercício de menor poder, os títulos de Xi Jinping lhe terão dado a dúbia faculdade de intervir com maior desenvoltura no vasto campo aberto à respectiva liderança.

         O problema da economia chinesa decorre em parte das contradições ainda existentes na sociedade desse enorme país. Reza o bom senso que a receita para o sucesso de sua inserção no mercado mundial está na própria adequação pari passu com os demais grandes mercados investidores.

        Com o excesso de poder interno do gerarca chinês, o perigo estaria nas escolhas subitâneas, porque ao contrário da política, há uma lei natural nos grandes mercados economico-financeiros de que as mudanças bruscas devem ser evitadas, dada a capacidade das inversões de resistirem a imposições que não correspondam aos interesses dos inversores. A liberdade, com as inexoráveis cautelas, é a sua pré-condição.

         Como refere o comentário do New York Times, as tentativas de orientar o mercado podem ter consequências imprevistas. Assim, nos últimos anos a RPC tem permitido e mesmo encorajado  companhias e inversores particulares a investirem mais no exterior. O escopo seria o de reduzir as pressões deflacionárias do hiper-investimento interno, assim como aumentar a influência da China no mundo.

          Mas o que era um pequeno córrego se transformou em torrente neste inverno para adquirir no estrangeiro casas e propriedades fundiárias. O Banco Central tentou operar para baixar o valor do renminbi (para ativar as exportações e também para fazer com que as inversões externas ficassem mais caras e menos atraentes).

           Dentro do intervencionismo excessivo - decorrente da relativa inexperiência de lidar com tais fluxos de investimentos privados - e a falta de conhecimento específico, fez com que o valor cambial do renminbi começasse a despencar nos mercados internacionais.

           Com a imprevista queda no valor de troca da moeda nacional, o efeito foi caótico.  De repente, as famílias chinesas e as companhias começaram a temer que a sua riqueza em renminbi se traduzisse em menor riqueza no amanhã, o que impulsiona a fuga de capital e, em consequência, aumenta o tumulto no câmbio.

           Dois outros mecanismos, dirigidos para o controle do mercado acionário, repercutiram mal, eis que, ao invés de induzir a calma, eles aumentaram a ansiedade. Nesse contexto, tanto o assim chamado circuit-breaker (controlador de circuitos) para o mercado acionário - mecanismo que pára as operações da bolsa quando as ações cáem demasiado - ao invés de controlar o nervosismo do mercado, amplificou a ansiedade. Outro instrumento, também eivado de arbítrio, proibia grandes investidores de venderem ações, tinha como prazo de vencimento a sexta-feira. A pressão para a venda e o temor de incorrer em prejuízos ainda maiores levou os pequenos inversores a venderem de forma precipitada (dump shares), o que obviamente só incrementa a tendência à queda nos valores dessas ações.

          Saídos de uma longa noite de arbítrio, o inversor chinês (e a autoridade das bolsas) se depara com a dificuldade a conviver com a liberdade nos mercados acionários.  O mercado mundial parece ansioso de valer-se da poupança chinesa, vale dizer da segunda potência econômica do planeta.

          Há duas tendências no mercado chinês que exigem maior autocontrole. Se a longa noite de um domínio excessivo de parte da autoridade governamental afeta o inversor no seu desejo de valer-se da liberdade para aumentar as respectivas posses, o intervencionismo excessivo, que a longa prática faz funcionar com demasiada prontidão tende a trazer insegurança para o mercado, eis que o arbítrio foi longo e ele parecerá sempre estar a aguardar na próxima curva do caminho para de novo intervir burocratica e imprevisivelmente.

           Conviver com a liberdade implica em responsabilidades de parte a parte. De um lado, o poder comunista habituado a dispor a seu bel prazer dos interesses do particular. De outro, a expectativa do mercado ocidental em valer-se da enorme poupança da economia chinesa, e a tendência a se deixar dominar menos pelo bom senso, do que pela expectativa do ganho.  

            As Bolsas podem ser vistas como um jogo, posto que controlado. As regras devem existir, se não quisermos que as elas regridam ao passado, que se marcava por grandes lucros e precipitosas quedas.

             Se os chineses tiverem bom senso, essas dores da infância e do crescimento das bolsas - em que a liberdade deve ser respeitada, desde que haja um mínimo de responsabilidade - tenderão a diminuir, de modo a trazer a Bolsa de Shangai para a companhia de suas irmãs mais velhas (e mais experientes), no jogo nem sempre fácil de combinar liberdade com responsabilidade.

 

( Fonte: The New York Times )

Nenhum comentário: