segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Resultados da Eleição de 2010

O balanço do pleito de 2010 apresenta o processo eleitoral mais radicalizado desde 1989. Ao invés de construir pontes, nas palavras de um observador, cuidou-se de destruí-las.
No entanto, é ainda cedo para formular juízos e não prognósticos. Como as onipresentes pesquisas anteciparam, venceu Dilma Rousseff, a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teve 55 milhões de votos (56%) contra 43,4 milhões de José Serra (43,9%) Em termos de regiões, prevaleceu no Norte, com um milhão de votos a mais, decorrente do triunfo no Amazonas, Amapá e áreas no Pará; no Nordeste, com maioria acachapante, com 10,5 milhões de votos a mais, e no Sudeste, por 1,6 milhões (vencendo em Minas e Rio de Janeiro, mas perdendo em São Paulo e Espírito Santo).
José Serra ganhou no Centro-Oeste e no Sul, embora as respectivas vantagens não tenham compensado o avanço de Dilma: na região sulina, Serra teve diferença positiva de 1,2 milhão e na centro-oeste, tão sómente 130 mil votos a mais. Os únicos três estados em que o candidato do PSDB virou o jogo a seu favor foram: Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo.
Completando os dados estatísticos,
Dilma teve dez milhões de votos a menos do que o presidente Lula em sua reeleição (2006). Venceu no Distrito Federal e quinze estados, e foi derrotada em onze estados.
Por sua vez, a abstenção iguala o recorde de 1998, com um total de 21,5% dos eleitores. Esse percentual não é pequeno para um país onde o voto é obrigatório.
Deve-se em parte ao inicício de um feriadão, circunstância que foi exacerbada pelo governador Sérgio Cabral (RJ), com repetição de manobra já realizada anteriormente com sucesso na eleição de 2008 para prefeito do Rio. A par de outras medidas, o TSE careceria no futuro de inviabilizar tais reprováveis iniciativas que buscam manipular a vontade do eleitorado.
Lula, o grande eleitor, iniciando a ‘campanha’ já em 2007, teve um comportamento mais do que questionável. Ao comparecer para votar, em São Bernardo do Campo, declarou, ao deixar a seção eleitoral, que ‘Serra sai menor desta campanha’. Com isso, peca por falta de originalidade – repete o que dissera Aécio – e não contribui para apaziguar os ânimos.
Além do Presidente, Dilma Rousseff deve agradecer a sua eleição ao apoio maciço do Nordeste – a diferença a seu favor de dez milhões de votos (numa vantagem global de onze milhões e seiscentos mil) constitui o fator decisivo na sua vitória. Sem este aporte, devido em não pequena parte ao assistencialismo do bolsa-família em uma das regiões mais pobres do Brasil, o cômputo final do TSE seria bem diverso.
Por outro lado, a campanha de José Serra se assinalou pela falta de coordenação, isolamento do candidato, acrescido de erros garrafais no lançamento da candidatura e na consequente formação de apoios partidários. A própria escolha do vice – um obscuro político carioca – já mostrou qual seria o rumo da campanha. Também o comportamento de Aécio no primeiro turno deixaria cicatrizes. A sua não menção no pronunciamento de Serra, ao reconhecer a derrota – e o elogio candente ao governador-eleito Geraldo Alckmin – dizem mais do que longos parágrafos.
A oposição, à parte a contenda presidencial, não sai menor das urnas. O PSDB vence para governador em oito estados e o DEM em dois, contra cinco do PT, cinco do PMDB e seis do PSB. Com exceção do Rio Grande do Sul (PT) e Rio de Janeiro (PMDB), o PSDB domina nos principais estados (São Paulo, Minas e Paraná).
Dilma Rousseff, se está administrativamente provada na sua ‘coordenação’do ministério de Lula desde 2005, politicamente ainda é uma incógnita. Na campanha, obedeceu à palavra e aos ditames de seu criador.
Se em nome de Lula ela ganhou a eleição, resta-lhe agora arrostar a prova de construir o governo Dilma Rousseff. A história regurgita de precedentes das inevitáveis e inexoráveis dissensões entre a criatura e o criador.
É muito cedo para apontar num sentido ou noutro.
Até agora, verdade seja dita, Dilma se comportou de forma adequada e até surpreendente, haja vista a sua notória falta de experiência política.
O futuro nos vai ensinar se ela tenciona cantar com a partitura de Lula, ou se tem ambições de fazê-lo com o próprio ouvido.

(Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )

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