Como se previa, o Partido Republicano recuperou o controle da Câmara de Representantes, que os democratas mantinham desde a eleição de novembro de 2006. Pela demora na apuração dos resultados naquele país, não há por ora dados definitivos. O que se dispõe são de projeções de pesquisas, com o delineamento grosso modo da vontade do eleitorado estadunidense nos comícios desta terça-feira, dia dois de novembro.
Cabe aqui um parêntese. Para país tão avançado em termos tecnológicos, é estranhável essa tardança, que fica ainda mais gritante no imediato contexto da rapidez dos procedimentos de quantificação de votos pelos computadores do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. Embora as inúmeras proposições eleitorais – referendos no âmbito estadual com força de lei – contribuam para tornar mais complexo o processo de apuração, não há negar a lentidão dos atuais instrumentos de apuração nos Estados Unidos. Não é só, de resto, uma questão de tempo, eis que, como se verificou na Flórida, em 2000, o caráter obsoleto dos meios empregados se prestou naquela eleição a resultado muito controverso, com a atribuição dos votos eleitorais da Flórida para o candidato George Bush, em decisão inédita e deveras contestada da Suprema Corte (o que equivaleu ao seu reconhecimento, apesar de minoritário na votação popular, como presidente eleito).
Ainda na noite de ontem, o presidente Barack Obama telefonou para o atual Lider da Minoria na Câmara de Representantes, o deputado John Boehner (Rep./Ohio). Com a sua habitual elegância, o presidente democrata cumprimentava o futuro Speaker da Casa de Representantes. Ao fazê-lo, Obama reconhecia a derrota de seu partido (e dele próprio), com a perda da maioria na Câmara baixa. Depois de quatro anos como Speaker, Nancy Pelosi (Dem./ Calif.) voltará a ser a Líder da Minoria. Pela lentidão da apuração, não se pode por enquanto determinar os números exatos das bancadas que assumirão em janeiro próximo. As projeções da CNN indicam um avanço líquido de sessenta deputados sobre a presente representação do G.O.P.
Os meios de comunicação ainda não estabeleceram o porte da reviravolta republicana. Atendidos os cômputos iniciais, seria o maior ganho desde 1948 que o partido republicano alcançaria às expensas dos democratas, superando mesmo a vitória de 1994, de Newt Gingrich e o Contract with America, no primeiro governo de Bill Clinton.
Por sua vez, sempre segundo as projeções, o Partido Democrata teria conseguido evitar a perda da maioria no Senado. De modo simbólico, o lider da maioria na Câmara alta, Harry Reid (Dem./Nevada) logrou vencer a dura refrega com o candidato republicano. No entanto, da atual maioria de 59 senadores (em 100), os democratas têm exatos cinquenta garantidos, com mais duas ou três cadeiras em situação difícil de determinar. Se a bancada democrata ficar em 50, o que é a metade do Senado, se repetiria o que ocorreu durante o governo de Bill Clinton, em que o Vice-Presidente Al Gore era chamado amiúde para dar o voto de minerva em favor dos democratas.
Quais são as causas da debacle do partido do Presidente Obama ? Há grande irritação do eleitorado com a situação econômica. Se o fim da recessão foi oficialmente declarado, as perspectivas econômicas continuam bastante sombrias, com altos índices de desemprego e baixas quotas de crescimento. O desafio na economia constituiu a principal motivação do triunfo de Bill Clinton em 1992, e o seu slogan – é a economia, seu burro ! – sublinhava a ênfase que o então candidato democrata dava a esse tópico. Na verdade, se as condições na economia são insatisfatórias, tal representa substancial ameaça para o presidente em função (como foi no caso de George Bush senior, derrotado por Clinton ao tentar reeleger-se).
A baixa popularidade de Obama constitui o motivo principal da desdita dos democratas. Ela se deve precipuamente ao juízo do eleitorado de que Obama não estaria fazendo todo o necessário para reestimular a economia. Por outro lado, houve um desencanto de parte dos eleitores jovens, a que entusiasmara a promessa de mudança (change) feita pelo Senador do Illinois. Se a sua campanha foi muito motivante, o desempenho na Casa Branca desiludiu a diversas camadas integrantes da dita coalizão que levou Obama ao poder. A opinião pública se queixa de reações tardias ou débeis (vide, v.g., o vazamento de óleo no Golfo do México), de falta de comunicação e de conscientização e de nem sempre atuar com a energia esperada de um presidente da república.
Os intelectuais despertam certa desconfiança ao homem comum americano. Nunca ter exercido antes cargo executivo não há de servir-lhe muito para desfazer essa imagem.
Por outro lado, as suas indicações para os postos-chave na economia tampouco o ajudaram a mostrar política mais pró-ativa em relação às questões economico-financeiras. Em sua maior parte, as principais autoridades na área financeira teriam muitos, quiçá demasiados, laços com Wall Street.A circunstância de estar ele cercado por tal equipe terá sido determinante, no parecer de expertos, para que se visse impedido de tomadas de posição mais firmes, entendidas como indispensáveis seja para coibir o comportamento irresponsável de diretores de bancos (uma das causas da grande crise financeira de 2008), seja pelas grandes parcelas de dinheiro público que vieram salvar muitos grandes bancos de uma provável falência. A má fama do pessoal de Wall Street não terá sido minorada pela divulgação dos excessivos e despropositados bônus distribuídos por esses estabelecimentos a seus dirigentes. Esses pagamentos cujo montante muito vez supera o que um americano médio possa auferir não em um ano ou dois, mas em um decênio são encarados como verdadeiro acinte pelo americano médio.
A solução dada pelo povo americano – votar nos republicanos e não nos democratas – responde mais a um ‘castigo’ dado ao partido no poder e sobretudo endereçado ao atual morador da Casa Branca - pode não ser a mais apropriada, eis que o G.O.P. preconiza a redução dos gastos do Estado, quando os princípios keynesianos propugnam justamente o contrário. Não se deve esquecer que os Estados Unidos para sair da Grande Depressão dos anos trinta, além de dispor de um líder da estatura de Franklin Delano Roosevelt, careceu do New Deal e de quase uma década para virar a esquina e reencontrar a ambicionada properidade.
( Fonte: C N N )
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
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