terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lula e o Ministério Dilma

Não se modifica até o presente o traço precípuo do Ministério Dilma. Até o momento, é samba de uma nota só. Dentre os postos principais, seja os da Casa presidencial, seja os da Economia, a origem das indicações não promana da Presidente-eleita Dilma Rousseff, mas sim do munificente criador, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Transforma-se, assim, a candidata eleita por 55 milhões de votos em vetor das designações que comporão a sua administração.
Até o momento, com a exceção do presidente do Banco Central – de que foi afastada a continuação de Henrique Meirelles, supostamente por inabilidades na condução do processo – cujo lugar será preenchido por funcionário de segundo escalão daquele banco, todas as demais personalidades selecionadas ostentam as cores da escuderia Lula da Silva.
Dessarte, com a confirmação de Guido Mantega, na Fazenda, principia a desfiar-se o novelo: Miriam Belchior, no Planejamento; Gilberto Braga, na secretaria-geral da presidência; Antonio Palocci, na Casa Civil; Marco Aurélio Garcia continua assessor especial agora da Presidente; Nelson Jobim aceita continuar no Ministério da Defesa; e José Sérgio Gabrielli permanece à testa da mega-empresa que é a Petrobrás.
Ainda não surgiu a suposta quota da Presidente, mas existem mais do que indicações de dois outros ministros – Paulo Bernardo e Alexandre Padilha – que, se não ficarão nas atuais cadeiras (Planejamento e Relações Institucionais), são eventuais coringas com destino a outros ministérios. Dada a relevância da posição destes últimos na Administração Lula, restam poucas dúvidas quanto a quem tenciona mantê-los no ministério.
Por fim, e por enquanto, a sinalização do presidente que sai pode encampar também o seu eventual capricho. Em que outro domínio se inseriria o desejo de Lula de manter, contra vento e maré, no Ministério da Educação a Fernando Haddad, após repetidas e ruinosas falhas de gestão, com danos imensuráveis na aplicação do Enem ?
Ainda faltam pastas importantes, como as da Justiça, Relações Exteriores, Agricultura, Meio Ambiente, e Indústria e Comércio, a par do batalhão das designações menores e dos ministérios-chapa (aqueles cuja presença na prática se autolimita à sua denominação, vista como declaração de princípios).
Os juízos não se formam do dia para a noite. No entanto, pela origem das indicações, se tece em torno da candidata-eleita uma teia que será mais constritiva do que conducente das aspirações e determinações da novel Presidente.
Os exemplos históricos e caboclos estão aí para indicar que não há real novidade na criação dessa estrutura. O maximato de Plutarco Elías Calles, depois de dois presidentes títeres, feneceria pelas mãos de Lázaro Cárdenas. Não obstante, diante do instrumental opressivo, Cardenas careceria de dois anos do próprio sexênio para livrar-se dos liames do Maximato.
Aguardemos os demais ministros, para determinar quantos são da quota de Dilma. Por ora, os indícios não parecem augurar a real saída de Lula do poder. A própria cerimônia de passagem da faixa presidencial, no Palácio do Planalto, com os discursos no parlatório, está consumindo tantas atenções minudentes do Presidente que sai – com a prescrição inclusive de que Dilma o acompanhe na descida da rampa até a viatura do já ex-Presidente – que toda essa construção não pode deixar de levantar indagações quanto ao papel futuro de quem dispõe de tanta força para cercar a Presidente Dilma Rousseff de toda essa coorte de dignitários que parecem dever suas posições ao dedo indicador de Lula da Silva.

( Fonte: O Globo )

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