Ocaso de Silvio Berlusconi
O líder italiano já passou por vários momentos difíceis. O fato de ter sobrevivido a tais provas – muitas vezes em circunstâncias que seriam letais para outros homens políticos – torna eventuais previsões sobre uma próxima queda objeto de cautela. Se tal reserva é compreensível, todavia a conjunção de fatores contrários impressiona.
Se a coleção de escândalos sexuais nunca abalou a popularidade de Berlusconi, tampouco a principal alternativa ao seu partido de centro-direita, o Partido da Esquerda Unida jamais ameaçou seriamente o poder do empresário da comunicação que ascendera a Palazzo Chiggi[1] em 1994. Além de não dispor de personalidade carismática para enfrentá-lo, a esquerda, quando no governo, desperdiçaria, por incompetência política, a oportunidade de afastá-lo definitivamente.
Por outro lado, Berlusconi tem, através dos anos, acumulado o renome de superar – ou pelo menos entravar – perigos nas áreas judiciária e política que, à primeira vista, semelhavam inexoráveis.
Na crônica futura da saída de cena de Silvio Berlusconi, a húbris terá a sua parcela. O seu partido ‘Povo da Liberdade’ na verdade, é aliança de centristas, direitistas e antigos fascistas. Em julho último, por dissensões, o segundo desse partido e seu co-fundador, Gianfranco Fini foi afastado por Berlusconi. Em represália, no corrente mês de novembro, Fini retirou quatro ministros do gabinete, o que precipitou a crise.
Não dispondo mais de maioria, a sorte do ministério Berlusconi, posta à prova em catorze de dezembro p.f., por uma questão de confiança nas duas Casas do Parlamento, pareceria selada.
Embora a longa permanência de Berlusconi no poder haja contribuído para um desvirtuamento das instituições - é notória a teia de leis e leizinhas (leggine) urdida por Berlusconi para proteger os seus ministros e a ele próprio dos inúmeros processos judiciários que correm contra il Capo e muitos de seus auxiliares -, a Constituição italiana ainda se assemelha às antigas constituições francesas da III e da IV Repúblicas, pela sua entranhada ascendência parlamentarista. A habilidade de Berlusconi e a sua distribuições de benesses e vantagens para os aliados tem garantido vida longa para os seus gabinetes.
Não obstante o retrospecto, as apostas políticas pendem decididamente para a queda quiçá definitiva do velho líder. Os escolhos no horizonte e a convergência de eventos negativos em dezembro não se cingem à votação da sfiducia[2]. Nesta mesma data aziaga, a Corte Constitucional italiana deverá julgar sobre a constitucionalidade da lei que concede imunidade a Berlusconi dos processos judiciais por corrupção de que é objeto. No caso de que a dita lei seja declarada inconstitucional, do dia para a noite Silvio Berlusconi se descobrirá réu de diversas ações, em que já foi condenado em instâncias inferiores. Não é um bom augúrio para Berlusconi o precedente de que a mesma Corte se pronunciara no passado inviabilizando o esquema das imunidades. A atual ação se deve à circunstância de que a maioria de centro-direita no Parlamento inventou outra lei que supostamente volta, sob tortuosos pretextos, a blindar o Primeiro Ministro de seus problemas judiciários.
A saga de um cachorro afegão
Em fevereiro último, quando um homem-bomba tentou adentrar quartel das tropas americanas no Afeganistão, a própria incolumidade os soldados de Tio Sam a devem não a companheiros de armas, mas a três cachorros vira-latas, que investiram contra o atacante suicida, e o levaram a detonar a carga na entrada do quartel, sem provocar nenhuma outra morte humana.
Da trinca canina, um dos cães morreu por lesões da explosão. Os outros dois foram expedidos para os Estados Unidos, aos cuidados de instituição de caridade, e lá adotados por famílias estadunidenses.
Da dupla remanescente, Target [3] se tornaria uma quase celebridade. Além das atenções recebidas pelo heroísmo, Target esteve entre os convidados do famoso show de Oprah Winfrey. Recebeu, outrossim, a medalha outorgada ao “Cachorro do Ano”, e se não deu entrevistas, compareceu aos principais canais televisivos americanos.
Acolhido na casa do Sargento Terry Young – que presenciara a bravura dos três vira-latas – a sua adaptação foi um tanto difícil a princípio. Compreende-se que um cachorro que circulava pelas ruas afegãs não esteja acostumado aos confortos da vida doméstica americana, confortos esses que se estendem à espécie canina doméstica.
Outra dificuldade vencida foram as boas relações por fim estabelecidas com o cachorro da família. Mostraram assim esses dois bichos louvável senso de acomodação, que muitas vezes não se depara em humanos.
Target também logrou adaptar-se à comida canina e à conveniência das necessidades serem atendidas fora das quatro paredes.
Infelizmente, Target estava acostumado à vida livre nas ruas e nos largos espaços, e acabou cedendo à tentação de escapar-se.
Aí, é que as coisas principiaram a ficar feias para o cachorro afegão. Em função dos apelos da família americana, Target acabou localizado, havendo sido conduzido para o abrigo do Condado de Pinal, no estado do Arizona.
Antes no entanto de ser devolvido ao Sargento Young, um zeloso burocrata encarregado da ‘eutanásia’ dos animais recolhidos, confundiu-se na escolha da vítima. Seguiu-se a pronta aplicação da injeção letal, que na instituição tem o ominoso nome de P.T.S. ,das iniciais de put to sleep (pôr para dormir).
A senhora Ruth Stalter, diretora do centro de cuidados e controle do condado, se confessou mortificada (heartsick) com a ocorrência. “Tive de pessoalmente transmitir a notícia para o proprietário do cão. Ele e sua família ficaram inconsoláveis.”
As Confusões do Jabuti
As premiações a Edney Silvestre, por seu livro “Se eu fechar os olhos agora” como ‘Melhor Romance’ e a Chico Buarque, pelo romance “Leite Derramado”, como ‘Livro do Ano de Ficção’, prestaram um serviço à instituição do Prêmio Jabuti. Tal se deve não às escolhas individuais dos prêmios, mas à constrangedora contradição decorrente de juizos logicamente inconciliáveis.
Com efeito, como se pode admitir que a obra de Chico Buarque, classificada em segundo lugar na categoria romance tenha suplantado como Livro do Ano de Ficção o romance de Edney Silvestre, que fora galardoada com o prêmio de Melhor Romance ?
Depois de terçar armas, os editores respectivos, Sérgio Machado, da Record, e Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, concordaram substancialmente acerca da conveniência de reduzir o número de categorias, assim como mudar para o modelo da ‘short list’. Há, por outro lado, abertura em introduzir transformações no regulamento pelo Curador do Prêmio, José Luiz Goldfarb. Sem pressa, no entanto, eis que as discussões só serão encetadas no ano próximo.
O desastrado Relatório Aldo Rebelo
Notícia a imprensa acerca de mais um ponto negativo do chamado Relatório Aldo Rebelo (PCdoB-SP), no seu intento de alterar o Código Florestal.
Dessarte, o Observatório do Clima – que reúne ONGs ambientalistas – concluíu, após análise do aludido relatório, que se as alterações forem aprovadas, há risco de o Brasil não cumprir sua meta de redução de emissões de gases do efeito estufa.
Na realidade, se os pequenos agricultores – como irresponsavelmente propõe o deputado – forem desobrigados de preservar o percentual de suas terras hoje exigido por lei (a chamada reserva legal), 25,5 bilhões de tons. de CO2 serão emitidas na atmosfera.
Esse volume de CO2 significa aumento de treze vezes das emissões totais do país em 2007 (inclusive a poluição causada por desmatamento, agricultura, indústria e energia). Se é o cenário mais pessimista, não pode ser descontado a priori, se os pequenos proprietários desejarem valer-se prontamente da munificente dispensa, e transformar as suas matas em pasto.
No nível intermediário (50% da reserva) já se assistiria à geração de 12,5 bilhões de toneladas de CO2.
Diante desses dados estarrecedores, entende-se porque o deputado Rebelo sempre se negou nas suas ‘audiências públicas’ a manter contato com os cientistas e especialistas em meio ambiente. Para quem pretenda inserir emendas tão ruinosas para a preservação do maior dos nossos recursos naturais, não há de interessar entabular diálogo e melhor informar-se com quem conhece o assunto.
Acresce notar que as ‘metas’ de poluição estabelecidas pelo desastrado relatório se chocam com compromissos internacionais assumidos em Copenhague pelo Presidente Lula. Com efeito, o compromisso do Brasil é de reduzir as emissões entre 36% e 39% até 2020. Assim, ao invés dos 2,7 bilhões de tons anuais que seriam emitidas nesse ano de 2020, o total admissível da emissão passará a ser 1,7 bilhão de tons.
( Fontes: International Herald Tribune, Folha de S.Paulo e O Globo )
[1] A sede dos Primeiros Ministros na Itália.
[2] Voto de desconfiança.
[3] Alvo.
domingo, 28 de novembro de 2010
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Um comentário:
Basta abrir um romance do CB para ficar constrangido com a patranha do Jabuti - é ruim de doer, pretensioso. Será que o Chico realmente acredita que é escritor? Se sim, se deixou levar pelos sicofantes. Se não, deve achar que não é apenas a sua qualidade como escritor que deve ser avaliada - é um hipócrita. Em ambos os casos, triste ver o ocaso moral uma pessoa tão importante para a cultura brasileira. Isso tudo no contexto da contenda por um prêmio notoriamente acertado entre as grandes casas editoriais... Ridículo.
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