Estamos a cinco dias das eleições de três de outubro. Ao contrário da situação há duas semanas atrás – quando irrompeu o escândalo da Casa Civil – a posição de Dilma Rousseff (PT) se enfraquece, a de José Serra (PSDB) permanece estagnada, e a de Marina Silva (PV) cresce de onze para catorze por cento. Em termos de votos válidos, Dilma tem 51%, Serra 32% e Marina 16%. Sempre de acordo com os dados do Datafolha, como se vê, a soma dos dois candidatos de oposição (48%) está bastante próxima daquela da candidata oficial.
Em função das revelações, aumentou muito a rejeição à Dilma (27%). As principais baixas sofridas pela candidata de Lula estão na faixa dos que ganham de dois a cinco salários mínimos (5%) e com mais de dez salários mínimos (10%).
À queda de Dilma se contrapõe o crescimento de Marina. Em pouco mais de trinta dias a candidata verde cresceu seis pontos entre as mulheres. A sua curva, se não apresenta crescimento dramático, tem, no entanto, aumentado de forma consistente e constante. Nos setores mais próximos ao Presidente Lula, a candidata do PV também registrou avanços, embora menores: cerca de 3% entre os menos escolarizados e os de renda inferior a dois salários mínimos.
A vantagem de Dilma, portanto, se adelgaçou bastante. O último debate – o da Rede Globo – poderá influenciar o voto com renda superior a dois salários mínimos, e com escolaridade média e superior. Semelha pouco provável que influa naqueles segmentos menos favorecidos da população.
Nesse sentido, Dilma Rousseff ainda tem possibilidade substancial de se eleger no primeiro turno, mas o que antes se apresentara como forte probabilidade agora passa a depender de vários fatores. Os escândalos – sobretudo o da Casa Civil – enfraqueceram a candidata situacionista. Resta, no entanto, determinar se ainda terão força residual – a menos de outro desenvolvimento imprevisto – para impedir-lhe a eleição no primeiro turno.
A performance do candidato José Serra nas pesquisas tem sido muito abaixo da expectativa. A sua campanha não soube motivar o eleitorado. Desde 1º de julho o respectivo percentual começou a cair, para despencar a partir de agosto. A recente queda de Dilma não lhe engordou o total, estagnado entre 27 e 28% dos sufrágios. Apesar de suas qualidades e experiência pregressa, uma série de fatores obstaculizou-lhe a capacidade de transmitir ao eleitor comum a própria mensagem. Semelha difícil, posto que não impossível, que Serra vença tantas resistências e não poucas traições.
Marina Silva é a surpresa do corrente pleito. Com base partidária muito fraca, o que se refletiu no escasso minuto do horário gratuito, a candidata do PV impressionou pela simplicidade e seriedade. A segunda candidata de muitos, tem sido a principal ganhadora da inflexão de Dilma. Descontadas as sólitas mudanças imprevisíveis, a sua progressão poderá negar à candidata oficial a vitória já no primeiro turno, mas não se afigura suficiente para que venha a ultrapassar o estagnado Serra. Tal somente ocorreria na hipótese de grave tropeço do candidato do PSDB nesta última semana, vale dizer no debate da Rede Globo. Por ora, tal semelha improvável – tanto que a oposição torce para a continuação do fenômeno Marina nesta derradeira semana, eis que ensejaria um segundo turno entre Dilma e Serra.
Ainda no caso presente, embora Dilma não seja Lula, poderia repetir-se o fenômeno de 2006, quando, por causa dos ‘aloprados’, o candidato Alckmin cresceu o bastante para impedir a reeleição do presidente já no primeiro turno. O seu apoio, todavia, refluíu no segundo turno, para a fácil vitória de Lula.
Se tal cenário se repetir, para que o segundo ato venha a diferir do espetáculo anterior, será necessária transformação radical no ânimo do candidato e na motivação das forças que o apóiam. Se o presente baixo astral perdurar, e se se repetirem as evidências de infidelidades, o final do filme deverá ser o mesmo.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
terça-feira, 28 de setembro de 2010
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