domingo, 19 de setembro de 2010

Colcha de Retalhos LIV

Os ciganos, Sarkozy e a crise na U.E.

A reunião de cúpula da União Europeia para debater a política externa transformou-se em um encontro tumultuado, com ásperas discussões entre os líderes europeus e os representantes da Comissão Europeia.
No centro da controvérsia, estava o Presidente Nicolas Sarkozy, acusado pela sua recente expulsão da França de um grupo de ciganos da etnia Roma. Ora, se os tratados europeus não proíbem a expulsão de estrangeiros dos territórios dos países membros, está especificamente vedado que tais medidas se baseiemem criterios étnicos, como foi justamente o caso na iniciativa do governo francês.
Durante a reunião, a Comissária europeia para a Justiça, Viviane Reding verberou o procedimento. O seu problema ao fazê-lo, não foi que não tivesse razão em censurar a França, mas sim que se deixou levar pela eloquência, ao comparar a ocorrência “a uma situação que pensava não tivesse a Europa de defrontar-se de novo depois da Segunda Guerra Mundial”.
Por tal tropeço da Sra. Reding, o Presidente Sarkozy logrou trocar o banco dos réus pelo púlpito de um promotor. No entanto, é discutível se houve reais vencedores na reunião.
Marcada por acerbas discussões entre o Presidente da U.E., José Manuel Barroso e Sarkozy, a habilidade do líder francês não deixou de causar-lhe atritos, como ao dizer que a Chanceler Angela Merkel lhe teria dito ter igualmente a intenção de expulsar ciganos. Além de que tal assertiva foi categoricamente desmentida por Merkel, a gratuita acusação de Sarkozy pode turbar o entendimento entre Paris e Berlim.
Embora o presidente francês tenha declarado haver recebido apoio de seus colegas - o Primeiro Ministro inglês David Cameron disse que “membros da Comissão devem igualmente usar cautela na própria linguagem”- tal concordância não se estendeu aos decretos de expulsão dos ciganos.
O resultado da cimeira não foi um presságio para o propósito do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, de realizar reuniões mensais dos líderes da U.E. A reunião de quinta-feira mostrou que tais contatos nem sempre podem ser necessariamente propícios à criação de atmosfera de concórdia.

A Visita de Bento XVI ao Reino Unido

A despeito dos prognósticos sombrios feitos pela imprensa, no contexto das relações entre a Santa Sé e a Igreja Anglicana, assim como do escândalo envolvendo religiosos em abusos sexuais contra menores, o Papa Bento XVI soube navegar com cautela em águas difíceis. Foi recebido na Escócia pela Rainha Elizabeth II, ali expressou a sua consternação, reunindo-se com representantes das vítimas.
Na escala de Londres, destaque foi dado à circunstância de ser a primeira visita de estado de um Soberano Pontífice, após a ruptura e cisma de Henrique VIII, no século XVI.
Malgrado terem sido detidos cinco argelinos e um sexto indivíduo – também limpador de rua – que trabalhavam em área a ser percorrida pelo cortejo papal, a Scotland Yard não modificou o programa da visita. A suposta conexão com a rede al-Qaida levou as autoridades britânicas a um incremento discreto da segurança. Posteriormente, no entanto, os suspeitos foram libertados. Uma busca em suas residências não havia revelado nada que indicasse alguma conexão terrorista.
O caráter de reconciliação da viagem foi ressaltado pela programação do dia: Conduzido no seu veículo cerimonial, o Papa visitou Rowan Williams, arcebispo de Canterbury, chefe espiritual da comunidade anglicana, na sua sede de Lambeth Palace; atravessando novamente o Tâmisa, dirigiu-se às casas do Parlamento, onde discursou. Mais tarde, participou de sessão ecumênica de oração com os líderes anglicanos, na Abadia de Westminster.
Tambem em Westminster, perante público de líderes políticos – inclusive o antigo Primeiro Ministro Tony Blair, que recentemente se converteu ao catolicismo – Bento XVI fez considerações em que exortou os parlamentares e outras personalidades proeminentes “a buscar meios de promover um estimulante diálogo entre a fé e a razão, em todos os níveis da vida nacional”.
No dia seguinte, realizou-se multitudinária missa campal, com a participação de cerca de oitenta mil pessoas. Igualmente em Londres, houve demonstração em que dez mil caminharam par manifestar o seu repúdio aos episódios dos abusos sexuais e a necessidade de que sejam punidos os eclesiásticos responsáveis.

A Amazônia e o Desenvolvimento Sustentável

A campanha estadual na Amazônia não transmite sinais muito encorajantes quanto a uma visão ambiental dos políticos locais. Ao contrário da candidata Marina Silva (PV), as propostas de candidatos ao executivo em Estados amazônicos são deprimentes, no sentido de rezarem mais pelo anti-catecismo do projeto ruralista de Código Florestal, do que por uma consciência da realidade amazônica e dos perigos do desmatamento.
Ao invés da postura antagônica entre desenvolvimento e floresta, que é oportunísticamente adotada por políticos que postulam o governo de estados na Amazônia, o pesquisador Adalberto Verissimo, do Imazon, os contradita:
“O Brasil pode e deve desenvolver a Amazônia sem desmatar. Temos uma área desmatada de três vezes o Estado de São Paulo. É uma parte,inclusive, abandonada. Vamos aproveitar áreas já desmatadas, intensificar a agropecuária lá.”
Talvez o maior conhecimento da potencialidade destrutiva do desmatamento – como já o evidenciam áreas já prejudicadas pela derribada indiscriminada da mata no Mato Grosso e no Pará, estados em que essa política de terra arrasada se acha mais ‘avançada’ – poderia ser utilizado como advertência para as teses do desmate, de suas consequências ambientais (empobrecimento da terra, savanização progressiva, involução climática, com queda abrupta nos níveis pluviométricos) e de o que significam, em termos de pobreza e perda irreversível.

A Lei da Ficha-Limpa deve ser a solução da Sociedade para o problema da desmoralização do Congresso.

Não será a primeira vez que um candidato anti-establishment terá uma gorda votação popular. O exemplo de Cacareco está aí para mostrar que esse protesto eleitoral não é recente.
De acordo com a colunista Eliane Cantanhêde, Tiririca vem ocupar o espaço deixado por Enéas Carneiro. Segundo ela, é preocupante, mas não surpreendente, que o Tiririca desponte como recordista de votos.
Quiçá a ameaça colocada por Tiririca vá muito além daquela da mensagem de Enéas. Com todas as restrições que se pudessem fazer ao professor, ele se inseria em uma opção política, a do nacionalismo direitista.
Tiririca, no meu entender, é muito diferente. Mais do que o deboche, o escracho, ele representa a anti-política, a negação da política como solução social e sua afirmação como solução individual.
A existência de Tiririca está intrinsecamente ligada ao desprestígio do Congresso, aos escândalos sucessivos sem que os responsáveis sejam punidos, são as comissões de ética que não funcionam, são o chabu dos escândalos do Senado e de seu Presidente José Sarney, é o Legislativo enfraquecido e desmoralizado.
A única visão contrastante dessa deprimente realidade foi dada pela Lei da Ficha Limpa. Essa lei surgiu de uma legítima iniciativa popular, muito bem dirigida pelo Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE).
A Ficha-Limpa é a única luz no fundo do túnel, a acenar com a limpeza do Congresso.
Não obstante, apesar do silêncio da mídia, a validade da Ficha Limpa para a eleição de três de outubro ainda não está confirmada. Pende sobre ela a espada de Dâmocles da avaliação de sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal.
Contra
as indicações pessimistas, quero crer que o STF saberá confirmar a tese defendida por Ricardo Lewandowsky, o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, sobre a validade da Lei da Ficha-Limpa desde já. É o que espera a sociedade civil.

( Fontes: International Herald Tribune, CNN e Folha de S. Paulo )

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