A aparente simplicidade deste filme pode induzir o espectador a nele ver apenas uma história de aventura. Na verdade, a película dirigida por Harald Zwart tem ritmo e unidade. Nela o roteiro de Christopher Murphey e Robert Mark Kamen desenvolve a trajetória do quase adolescente Dre Parker (Jadie Smith), que com a transferência da mãe (Taraji P. Henson) viaja de Detroit para Beijing.
A história tem três partes: o desafio inicial, com o sofrimento e a experiência; o aprendizado como único aluno de um reservado operário – que é também mestre de kung fu; e a catarse final, em que Dre enfrenta a necessária prova diante do grupo que lhe personifica a adversidade.
A estrutura de Karatê Kid no seu tecido mostra a interação do menino com o seu preceptor. Colateralmente, se intercala outro aprendizado de menina-moça, com diferente posição social mas temperamento e incertezas similares às do herói-menino. Através da relação singela entre dois jovens solitários, ambos compartilham a experiência da prova e de o que possa significar para o respectivo desenvolvimento.
No entanto, os dois personagens centrais evoluem em roteiro onde irão surgir cenas da China milenar, umas corriqueiras como a grande muralha, outras menos, como a utilização do kung fu, não como violência, porém espelho e controle das suas potencialidades.
O sisudo e taciturno senhor Han (Jackie Chan) ensina ao jovem através de métodos na superfície vazios e repetitivos, como o decoreba irracional de um texto sem escrita. Com efeito, será por meio desse aparente antiprocesso que o mestre há de escancarar para o discípulo as portas do conhecimento. E o kung fu, da violência superficial, entremostra a sua capacidade de controle e domínio, em dramática reversão de papeis.
Igualmente, a trama nos leva a surpresas, em que o relacionamento de mestre e aprendiz tende a tornar-se mais complexo. Nesse contexto, o bom professor crescerá no conhecimento graças a um aporte trazido pelo discípulo.
Karatê Kid vai num crescendo até o final. Até mesmo o vilão central, um coetâneo chinês de Dre Parker, de quem é a virtual nêmesis, tem traços recônditos de uma reprimida e não de todo perdida humanidade.
Recomendo Karatê Kid, tanto aos amantes de filmes de aventura, quanto aos admiradores das trajetórias de formação, que muitos romances clássicos desenham.
Há um paralelismo com o Million Dollar Baby, de Clint Eastwood , mas me deterei por aqui para não ser um estraga-prazeres. Pois, pelo estro do diretor e do corte, a história flui com crescente emoção e empatia. Não é filme de olhar para o relógio.
sábado, 11 de setembro de 2010
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2 comentários:
O título não me desperta curiosidade mas face aos comentários elogiosos estou tentada a ver o filma.
Agradeço à comentarista pela confiança no senso estético do autor.
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