Depois que a candidata do Presidente Lula assumiu a dianteira a sua posição nas pesquisas só tem melhorado, proporcionando-lhe confortável vantagem de vinte e três pontos sobre José Serra. Tal diferença assegura a Dilma Rousseff a vitória já no primeiro turno. De resto, a última prévia do instituto Datafolha não altera substancialmente o quadro: Dilma agora tem 50%, subindo um ponto, Serra está com 27%, perdendo um ponto, e Marina atinge 11%, ganhando um ponto.
O que torna essa estabilidade do quadro significativa está na aparente dissociação do eleitor do escândalo da quebra em série de sigilos na agência da Receita Federal em Mauá, no ABC paulista. É inegável que, além de Eduardo Jorge, outros políticos da direção do PSDB tiveram o sigilo fiscal violado, e, outrossim, foi comprovada a outorga por procurações falsas de acesso aos dados fiscais de Veronica Serra, filha do candidato José Serra, e igualmente aos de seu marido, Alexandre Bourgeois. Existe igualmente a participação ativa de mais de um membro do PT na obtenção ilegal de tais dados.
Por força de tal situação, o candidato Serra resolveu, devido a esta quebra de sigilos, investir contra a rival Dilma Rousseff, buscando responsabilizá-la. Serra, em seu programa do horário gratuito, assim como em declarações à imprensa, tem caracterizado o crime de quebra sigilo como dirigido não apenas contra ele, seus familiares e correligionários, mas também como um crime contra o Brasil.
Atendida a gravidade das acusações, enfatizadas repetidamente pelo candidato do PSDB, a não-reação do eleitorado vem configurando até o presente que os valores defendidos pelo candidato – e indiretamente pelo Presidente Lula e sua candidata – não parecem justificar para o eleitorado eventual mudança nas suas preferências.
As condenações veementes de Serra – e a intentada blindagem de Lula, além das negativas iteradas de Dilma – indicam apreciação positiva da potencialidade do escândalo. É por isso que o candidato o escolheu como tônica, e é também por razão similar que Lula vem a público para sem mencionar causas e fautores, desmerecer de sua validade. Não difere tampouco o comportamento da candidata do PT, ao taxá-lo de factóide, ou nervosamente recusando resposta a uma pergunta sobre fraldas – por confundi-la com fraudes.
O poeta Ferreira Gullar, na crônica ‘Vamos errar de novo?’, externou a respectiva perplexidade diante da preferência do eleitorado por alguém que nada tem a mostrar, ao invés de quem dispõe de invejável fé-de-ofício.
No meu entender esses dois fenômenos – o persistente desconhecimento de um crime fiscal e a preferência maciça dada à candidata – correspondem a duas realidades.
Quanto ao aspecto fiscal, o seu caráter técnico e o fato de a grande maioria do eleitorado ser isenta do imposto de renda, tende a diminuir a significação das transgressões e do escândalo resultante. Por isso, este eleitor não o computa para eventual mudança de ideia.
No que respeita à preferência por Dilma, na verdade e novamente para a grande maioria do eleitorado, o sufrágio é dirigido vicariamente a Lula. A satisfação da massa e também de segmentos da classe média com o atual presidente, eles a transferem para a sua candidata, no entendimento de que ela continuará com as políticas da presente administração. Não adianta Serra deblaterar contra a circunstância de que Dilma Rousseff seja uma incógnita, um ‘envelope fechado’, a convicção desses eleitores é um misto de gratidão ao benfeitor, e de temor de mexer em time que está ganhando.
Certamente, são impressões subjetivas, mas arraigadas ao cabo de oito anos. Para mudá-las, os recursos e os argumentos utilizados até agora se têm mostrado de pouca valia. Ainda talvez seja cedo para cinzelar epitáfios, mas para que metamorfoses ocorram será necessário surgir algum espantalho suscetível de abalar os convencimentos que alicerçam a vantagem da preferida do Presidente.
( Fontes: Folha de S. Paulo e O Globo )
sábado, 11 de setembro de 2010
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Um comentário:
Será que o recente escândalo do Amapá onde dias antes o Presidente Lula recomendava um dos indivíduos presos pela polícia federal nào afetará em nada a campanha?
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