Para alguma coisa serve o infortúnio, meu caro Técnico. Tinha o senhor alguma dúvida que a série da pretensa invencibilidade chegaria ao fim dessa maneira, a que tivemos o desprazer de assistir no campo do Beira Rio, por especial cortesia da Rede Globo ?
O senhor tem preparado com muito afinco a equipe do Clube de Regatas Vasco da Gama. Vimos tal atenção no primeiro tempo do jogo com o Internacional. Além de montar bem a defesa, procurando desfazer as jogadas do Inter já no próprio campo do adversário, montou com precisão esquemas de ataque, seja valendo-se das roubadas de bola, como no rush de Zé Roberto, seja na troca rápida de passes, em que se abria a defesa do Colorado.
Através do profissionalismo que demonstrou nesse particular, o Vasco dominou o time da casa – o que não é usual -, registrando o dobro dos chutes com perigo a gol. Nos assistentes e nos vascaínos, em particular, via-se com prazer a presença da equipe da Colina, que encurralava, diante da própria torcida, o time do Internacional.
Houve apenas, meu caro PC Gusmão, um pequeno detalhe que o senhor não tem logrado incutir nos seus jogadores, e em especial naqueles que chamamos de atacantes. Toda essa montagem, toda essa esmerada costura somente faz sentido e só é lembrada com gosto após a partida, se os seus comandados conseguirem converter a resultante predominância em gols.
Dessa maneira, de nada adianta treinar o esquadrão, acertar as jogadas, se ao final não surge alguma botina que saiba traduzir esta vantagem do único modo pelo qual o Vasco – ou qualquer outra equipe – pode vencer um jogo: marcando um tento, seja estufando a rede, seja até fazendo apenas a bola atravessar a linha fatal – basta isso, meu caro PC Gusmão !
Agora, essa sua postura de passar a mão na cabeça dos jogadores, e com eles chorar a suposta má sorte, isto, meu caro técnico ex-invicto, só contribui para dar uma desculpa àquilo que não o merece.
Citarei apenas três lances no primeiro tempo, que anunciaram um time caricato – pois caricato é o conjunto que não consegue concluir as jogadas. Concluir, em futebol, meu prezado Gusmão, o que na verdade é o sentido do velho esporte bretão – fazer gols ! Ou pelo menos, anotar mais do que o adversário ! O primeiro lance foi logo no início do jogo, com um belo rush de Zé Roberto, que desperdiçou a oportunidade, pois Renan defendeu. O segundo foi de todos o mais incrível: de frente ao arco vazio, sozinho, Rafael Coelho conseguiu o mais difícil, embora não seja nisso o primeiro desse Vasco: de alguma maneira logrou pôr a bola nas mãos do agradecido goleiro Renan ! E, por fim, o terceiro: o ataque vascaíno forçou a defesa do Inter a fazer uma falta na linha da grande área, frontal ao gol. Para um batedor de classe média, isso já é meio gol. E, não obstante, Nilton logrou perder mais uma inacreditável chance (houve outras), chutando a pelota com grande violência, mas no centro do arco, onde, surpresa !, estava Renan !
Por isso, não estou de acordo com os jogadores, para quem faltou sorte ao time; tampouco, estou com o técnico, para quem o resultado foi injusto para o time.
Lamento discordar. Não adianta choramingar por falta de sorte, urucubaca, ou macumba adversária, como fazem os jogadores, ou alguns torcedores. Nem passar a mão na cabeça dos pupilos, como fez o técnico.
Fernando Calazans disse que faltou categoria ao time do Vasco. Concordo, mas agrego: faltou também vontade de fazer o gol, pois no caso de Rafael Coelho, não era preciso sequer técnica. Um perna de pau qualquer faria aquele gol. Bastaria a vontade.
E antes desse ridículo espetáculo de pôr as mãos na cabeça, depois de errar uma jogada infantil, ou passá-la, como falso consolo, na cabeça dos jogadores, lembrem-se de o que dizia Neném Prancha:
Quem não faz, leva !
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
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