A China tem sido acusada pelo movimento ambientalista como um dos grandes obstáculos para a criação de condições que detenham a marcha do planeta no rumo do superaquecimento global. Nesse sentido, também se mencionam a dependência nas usinas de carvão, as grandes barragens que alteram o equilíbrio ecológico. Desse secular desrespeito à natureza, com a destruição dos recursos naturais, os chineses lidam diariamente com a poluição atmosférica, com os seus sinistros subprodutos de afecções respiratórias e corporais, que sobrecarregam o sistema sanitário e não tão lentamente vão amontoando sua colheita de infortúnios privados e desgraças sociais.
No entanto, o governo chinês, com o aturado esforço que caracteriza a maior nação na demografia da terra, se empenha atualmente em ação política que poderia assinalar-se em um oxímoro, esta antinomia de qualidades ou fatores opostos. Desde algum tempo, os governantes chineses, inda que apegados às velhas práticas acima referidas, intentam igualmente contrabalançar, por meio de políticas setoriais e não-poluídoras, o ominoso desafio ambiental. Através do recurso a fatores virtuosos dentro do panorama energético, a China, no seu projeto de desenvolvimento e de superação, acredita possível, assim como os seus equilibristas circences, conviver com elementos antagônicos, valendo-se simultaneamente de energias poluentes e limpas.
O que, à primeira vista semelha uma construção fadada à própria ruína, apresenta elementos que ao consubstanciar a inventiva e sobretudo a tenacidade laboral do povo chinês reivindica, pelo menos, o direito não só de ser analisada, mas também e, precipuamente, fruir de uma pausa de consideração, menos principista talvez, porém digna de uma experimentação empírica.
Em outras palavras, vítimas de um processo poluidor, empregado como instrumento de industrialização e riqueza, os chineses acreditam possivel realizar, através do gradualismo, o sonho ambientalista de um desenvolvimento amparado em energias limpas. Na sua ânsia de tornar-se a principal economia do planeta, se ainda não escatimam o emprego de fatores contribuintes para o continuado aquecimento, recorrem, de modo crescente, com fins compensatórios de início, mas sem renunciar à esperança de futura substituição efetiva e ampla, às chamadas energias limpas, que não agridem ao meio ambiente.
A China vem-se tornando lider mundial na produção de painéis para energia solar, assim como em turbinas moldadas para converter a força das correntes aéreas em energia eólica.
Para tornar-se uma potência no fabrico de peças e ferramentas de indústrias não-poluentes, os chineses se servem de largos subsídios governamentais, e por isso suscitam censuras e mesmo ações junto à Organização Mundial do Comércio. O segmento da energia limpa chinesa congrega mais de um milhão de empregos, e a presença de seus produtos não se limita ao Império do Meio, mas se expande por suas exportações no mercado europeu e norte-americano.
O dinamismo do esforço chinês igualmente se reflete no aperfeiçoamento das tecnologias respectivas a esses ramos de energia natural. Este avanço também se observa nos veículos a tração eletromotora. Cresce nas megalópolis chinesas a utilização das motonetas elétricas. A sua preferência pelos chineses, além de proporcionar-lhe meio de transporte não-poluente e barato, abre perspectivas para a eventual superação dos desafios ainda colocados para o fabrico de viaturas que sejam economicamente viáveis e que possam concorrer com o automóvel movido a combustível fóssil.
A RPC tem decerto enormes desafios a enfrentar. A derrota de Zhao Ziyang e da alternativa democrática marcada pelo massacre de Tianamen assegurou uma sobrevida ao comunismo tecnoburocrático de Li Peng encarnado pelos atuais altos funcionários, que se sucedem no poder. Com a abertura para o liberalismo econômico, de que foi arquiteto Zhao, e a tácita aceitação pelo líder Deng Xiaoping, o recurso do partido como instrumento de poder e a corrupção disso decorrente, hão de criar dificuldades progressivas, com o eventual inelutável afrouxamento dos controles do PC e a reinserção gradual numa sociedade mais afluente da ideia democrática.
Dada a força inercial da sociedade chinesa, sua relativa pobreza em recursos naturais fósseis, e a própria dinâmica de economia que cresce a taxas de dois dígitos, colocam-se muitos fatores tendentes a estimular tecnologias energéticas limpas, assim como o provável aperfeiçoamento do veículo a tração elétrica, o que representará um grande avanço no combate à poluição do carbono, a par de outras consequências potencialmente sérias para países que dependam em boa parcela da explotação de combustíveis fósseis.
( Fonte: International Herald Tribune)
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
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