quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Que futuro para a candidatura Trump?

                        

         Circularam alguns rumores quanto à possibilidade de que o candidato Donald Trump seja forçado a renunciar, por força de muitas de suas declarações estarem fora do contexto de o que pensa a maioria dos eleitores republicanos.
          Antes de ceder à doce ilusão de que a direção do GOP voltaria atrás e se viria compelida a  encontrar outro candidato que estivesse mais enquadrado no main stream da política americana, talvez coubesse no caso a velha consulta às bases de que nos fala a gente do ramo.
          Malgrado suas declarações, na contramão do sentir da maioria, será importante ter presente que - excluída alguma gafe do gênero monumental - não parece haver por ora contra essa candidatura ameaça que configure o velho espantalho da gafe terminal. 
           Nesse contexto, seria oportuno ter presente que a sua campanha - que anteriormente atravessara uma fase de baixa arrecadação - levantou em julho último US$ 64 milhões, o que perfaz total US$ 82 milhões em caixa, sendo que US$ 74 milhões em espécie.
            Assim, Trump não é mais o patinho feio em termos de arrecadação de fundos políticos, se comparado com o que dispõe o comitê democrata, que gere os fundos da candidata Hillary Clinton.
            Dado o tipo de gente que se sente por ele entendida e representada, o que Donald Trump tem afirmado quanto a posturas anti-islâmicas e anti-imigração, nada ou muito pouco dessas suas rotundas e preconceituosas asserções o pilhariam em terreno em que contrariasse à massa americana. As classes C e D  o vêem muito próximo do respectivo ethos e com ele ruidosamente se identificam, na medida em que o candidato se afaste das alegadas  imposições da linguagem do politicamente correto. Os rough necks ou pescoços vermelhos (bronzeados pelo sol inclemente do trabalho braçal) se assemelham muito à classe C inglesa, aquela dos chamados hooligans que assusta a muitos países europeus ao ensejo de sua presença como torcida em jogos de futebol de que participem equipes inglesas (pela quantidade de alcool - em geral cerveja - que consomem, e seu comportamento em consequência).
            A sua intransigência não é necessariamente sinal de fraqueza. Esses que os seus adversários chamam de zé-povinho, ao sentir-se por Trump representado, com ele se identificam plenamente e, por isso, muitas das grosserias do candidato republicano não lhes farão mossa. Muito pelo contrário. Quando Obama declarou que Trump é um candidato que vai contra o sentir americano, ele não fez - nem poderia fazer, por motivos óbvios - a distinção entre aqueles que se sentem atingidos pelos doestos e ofensas de conotação racial ou religiosa, e os sectários da candidatura Trump, que  se vêem  confortados,  de alguma forma, pelas invectivas de caráter étnico e religioso, na medida em que tal proletariado se sente ameaçado por estrangeiros ou similares, os quais lhes tirariam  espaço vital e trabalho.
                Fundando  sua candidatura nesse núcleo, em geral enjeitado pelos dois grandes partidos, Trump pode não ganhar a eleição, mas dificilmente a direita concordará em afastá-lo da competição, na medida dos fortes laços do apoio que recebe, inclusive em numerário cash. De certa forma, retorna o populismo ao processo americano - o que aqui importa é o fato político de que tais correntes afluam em nível presidencial. O populismo teve muita presença na política americana em fins do século dezenove e começos do vinte.
                 Marginalizada por um tempo, essa turma decidida e, por vezes violenta, pode transformar-se em braços de um fascismo americano.  Dentro do sistema bipartidário estadunidense, essa irrupção do candidato Donald Trump representa o núcleo duro de sua candidatura. Sofisticado ou não, o candidato reconhecido pelo sistema ora representa um dos dois grandes partidos da política estadunidense.
                  A injeção de meios que lhe traz o proletariado americano garante ao candidato situação de quase autonomia perante as diversas expressões da oligarquia do Grand Old Party. E é por isso que as expressões da aristocracia republicana engolem em seco, aceitam e se compõem com as forças, grosseiras decerto, mas empenhadas no êxito do candidato em que vislumbram a esperança de empolgar o poder na velha América.


( Fonte subsidiária:  The New York Times )

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