Circularam alguns rumores quanto à possibilidade de
que o candidato Donald Trump seja forçado a renunciar, por força de muitas de
suas declarações estarem fora do contexto de o que pensa a maioria dos
eleitores republicanos.
Antes de ceder à doce ilusão de que a
direção do GOP voltaria atrás e se
viria compelida a encontrar outro
candidato que estivesse mais enquadrado no main
stream da política americana, talvez coubesse no caso a velha consulta às
bases de que nos fala a gente do ramo.
Malgrado suas declarações, na contramão
do sentir da maioria, será importante ter presente que - excluída alguma gafe
do gênero monumental - não parece haver por ora contra essa candidatura ameaça
que configure o velho espantalho da gafe terminal.
Nesse contexto, seria oportuno ter
presente que a sua campanha - que anteriormente atravessara uma fase de baixa
arrecadação - levantou em julho último US$ 64 milhões, o que perfaz total US$
82 milhões em caixa, sendo que US$ 74 milhões em espécie.
Assim, Trump não é mais o patinho
feio em termos de arrecadação de fundos políticos, se comparado com o que
dispõe o comitê democrata, que gere os fundos da candidata Hillary Clinton.
Dado o tipo de gente que se sente
por ele entendida e representada, o que Donald Trump tem afirmado quanto a
posturas anti-islâmicas e anti-imigração, nada ou muito pouco dessas suas
rotundas e preconceituosas asserções o pilhariam em terreno em que contrariasse
à massa americana. As classes C e D o vêem
muito próximo do respectivo ethos e com
ele ruidosamente se identificam, na medida em que o candidato se afaste das
alegadas imposições da linguagem do
politicamente correto. Os rough necks
ou pescoços vermelhos (bronzeados pelo sol inclemente do trabalho braçal) se
assemelham muito à classe C inglesa, aquela dos chamados hooligans que assusta a muitos países europeus ao ensejo de sua
presença como torcida em jogos de futebol de que participem equipes inglesas
(pela quantidade de alcool - em geral cerveja - que consomem, e seu
comportamento em consequência).
A sua intransigência não é
necessariamente sinal de fraqueza. Esses que os seus adversários chamam de
zé-povinho, ao sentir-se por Trump representado, com ele se identificam
plenamente e, por isso, muitas das grosserias do candidato republicano não lhes
farão mossa. Muito pelo contrário. Quando Obama declarou que Trump é um
candidato que vai contra o sentir americano, ele não fez - nem poderia fazer,
por motivos óbvios - a distinção entre aqueles que se sentem atingidos pelos
doestos e ofensas de conotação racial ou religiosa, e os sectários da
candidatura Trump, que se vêem confortados,
de alguma forma, pelas invectivas de caráter étnico e religioso, na
medida em que tal proletariado se sente ameaçado por estrangeiros ou similares,
os quais lhes tirariam espaço vital e trabalho.
Fundando sua candidatura nesse núcleo, em geral
enjeitado pelos dois grandes partidos, Trump pode não ganhar a eleição, mas
dificilmente a direita concordará em afastá-lo da competição, na medida dos
fortes laços do apoio que recebe, inclusive em numerário cash. De certa forma, retorna o populismo ao processo americano - o
que aqui importa é o fato político de que tais correntes afluam em nível
presidencial. O populismo teve muita presença na política americana em fins do
século dezenove e começos do vinte.
Marginalizada por um tempo,
essa turma decidida e, por vezes violenta, pode transformar-se em braços de um
fascismo americano. Dentro do sistema
bipartidário estadunidense, essa irrupção do candidato Donald Trump representa
o núcleo duro de sua candidatura. Sofisticado ou não, o candidato reconhecido
pelo sistema ora representa um dos dois grandes partidos da política
estadunidense.
A injeção de meios que lhe
traz o proletariado americano garante ao candidato situação de quase autonomia
perante as diversas expressões da oligarquia do Grand Old Party. E é por isso que as expressões da aristocracia
republicana engolem em seco, aceitam e se compõem com as forças, grosseiras
decerto, mas empenhadas no êxito do candidato em que vislumbram a esperança de
empolgar o poder na velha América.
( Fonte subsidiária: The New York Times )
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