sábado, 13 de agosto de 2016

Colcha de Retalhos D 34

                              

Endurecimento do regime de  Erdogan


       O clérigo Fetullah Gülen, acusado pelo homem forte da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de planejar a tentativa de golpe de estado de quinze de julho último, veio a público em carta a Le Monde, estampada pelo jornal a doze de agosto corrente.
        Negando ter alguma responsabilidade na intentona, Güllen na carta pediu a formação de comissão internacional para apurar se ele de fato teve participação na rebelião.  A propósito, Gülen aduz que aceitará as conclusões dessa comissão e, se for o caso, voltará ao país.
        Erdogan acusa o clérigo de tentativa de golpe militar frustrada. Gülen, asilado nos Estados Unidos desde 1999, nega qualquer responsabilidade.
         Dentro do que pode ser interpretado como guerra de nervos, o governo turco afirmou  na última sexta haver recebido "sinais positivos" dos Estados Unidos quanto ao pedido de extradição do clérigo. 
         Por outro lado, o presidente Erdogan se reaproximou de Vladimir Pùtin, com que visa 'punir' a Comunidade Europeia - por deixar na 'geladeira' a pretensão turca de integrar o organismo de Bruxelas - e o próprio governo de Washington, de quem Putin se arvora a assumir a antiga função da extinta URSS como adversária dos Estados Unidos. A esse propósito, no ano passado, Obama assinalara a gospodin Putin que o papel de Moscou é o de um fator continental, não tendo condições de substituir a União Soviética que antes da própria implosão tinha papel mundial, que hoje não mais persiste.
          De qualquer forma, está em processo a tentativa de Ancara de uma eventual reversão de alianças no Oriente Médio. Resta saber se isso há de funcionar como o deseja Recep Erdogan.
          Por outro lado, a intentona militar - decerto motivada pelo crescente arrocho no que resta de democracia na Turquia terá envolvido um grupo de militares que pensou dispor de condições de derrubar o tirano. Por enquanto, o que aconteceu foi dar a Erdogan o pretexto de realizar um grande expurgo em todos os círculos eventualmente suspeitos de posições contrárias ao presidente  e seu partido islamizante.  Em ambiente propício a delatores,  denúncias, falsas acusações e acertos de conta, Erdogan e seu regime pensaram em instrumentalizar a intentona, com uma verdadeira chasse aux sorcières[1] (que faria inveja a Salem).
            No consequente paroxismo, está indo pelo ralo a débil democracia turca. Dentre os primeiros passos nesse sentido, o Parlamento já cedeu bastante, dando poderes de controle a Erdogan que são paradigmáticos desses ataques à democracia. A primeira vítima, junto com o Povo, é a Liberdade e as garantias de expressão.
             A instrumentalização pelo tirano Erdogan da suposta intentona poderá ter os mesmos resultados para a cada vez mais frágil democracia turca do que outros movimentos de caserna tiveram para a evolução democrática no Brasil, com os previsíveis resultados.
              Resta determinar quem sairá reforçado do episódio, no médio prazo.


Campanha Eleitoral Americana.   



                        O Partido Republicano dá sinais de crescente nervosismo diante das declarações e atitudes de seu candidato Donald Trump. Lídimo vencedor na batalha das primárias - quando dizimou politicamente medíocres herdeiros políticos de grandes famílias republicanas - vencendo de forma inconteste os principais expoentes das diversas correntes e tendências no GOP, a quem superou sem direito ao benefício da dúvida desde Jeb Bush - da dinastia Bush, que dera aos Estados Unidos  Bush senior (presidente de um só mandato, por que derrotado pelo democrata Bill Clinton), e uma série de outros esperançosos (hopefuls) como os senadores Marco Rubio (Florida), o governador de Ohio Joe Kasich e, por último, o Senador Ted Cruz (Texas), que levou ao cúmulo o anti-fair play, quando aceitou falar para a Convenção Republicana de Cleveland, no que pensava Trump seria discurso recomendando a sua nomination. Cruz instrumentalizou a ocasião, e escarneceu da confiança que o candidato do GOP - com indicação já segura - nele depositava, para valer-se do prazer de  uma discutível desforra, desmerecendo do nominee[2] perante os convencionais reunidos. Talvez não haja episódio que reflita com cores mais verazes do que essa 'traição' de Cruz a atual atmosfera no Grand Old Party.  Este senhor é comparado por alguns com aquele grande demagogo (que infernizou e desgraçou a muita gente inocente na Terra de Tio Sam) Joseph McCarthy, cuja notoriedade se deveu ao movimento socio-político do macartismo.
               A falta de organização, as acusações irresponsáveis vem minando a campanha de Trump. Uma de suas últimas assertivas desse gênero foi quando insinuou que os adeptos da Segunda Emenda - aquela que nos albores da democracia americana dispunha sobre o direito de formar milícias para defender a infante República, e sobretudo o direito dos cidadãos estadunidenses de portar armas - deveriam fazer alguma coisa com a candidata Hillary Clinton, pela ameaça que ela representa em querer derrogar a dita Emenda constitucional.
                Caíu muito mal esta obvia insinuação que foi interpretada como um convite ao assassínio político de Hillary. É claro que não passa pela cabeça da democrata propor uma tolice do gênero. O  que os políticos com algum juízo nos Estados Unidos preconizam é que se controle mais o porte de armas. Para a National Rifle Association e a sua vasta rede de lobby e de intimidação de congressistas o direito de portar armas faz parte dos princípios de cidadania. Essa falta de controle - há verdadeiros super-mercados de armas, onde se vende armamento sofisticado, inclusives armas de repetição e de assalto. Não se carece de ser grande conhecedor da politica americana para que se tenha ciência do poder da NRA sobre o Congresso americano e o respeito que muitos congressistas têm pelo lobby das armas.  O próprio Senador Bernie Sanders, apesar de ser de esquerda, apóia a NRA, como demonstrou em voto seu no Congresso.
              Pelas suas declarações e por posições pouco defensáveis, o candidato republicano tem quase toda a imprensa americana a fustigá-lo. A diferença dele da sua adversária é descomunal. Tudo isso explica que por enquanto as pesquisas vem mostrando o enfraquecimento do candidato, e há compreensível nervosismo nas fileiras do Partido Republicano. Um candidato que vem perdendo substanciais segmentos da opinião pública representa para o GOP uma ameaça, pois o afastamento do eleitorado do candidato Trump acarreta não apenas o enfraquecimento de sua candidatura, mas também das posições republicanas no Congresso (Senado e Câmara de Representantes), e dos próprios palácios dos governadores estaduais. Daí a inquietude dos republicanos.
                 O leitor decerto conhece a orientação do blog, mas a postura democrática não aconselha que se enfraqueça em demasia um partido com o papel histórico do Republicano. Mesmo dentro de uma postura pró-democrata, não interessa a fraqueza excessiva do GOP. Não há vácuos na Política. Se a direita - representada pelo Partido Republicano, eis que a sua corrente moderada praticamente desapareceu - sofre uma derrota desproporcional, é a democracia que será fragilizada. Não devemos ter ilusões de que o Partido Democrata preencherá todos esses vácuos. O mais provável é que se reforcem movimentos de extrema direita ou de acendrado conservadorismo (como o Tea Party), com o consequente surgimento de movimentos milenaristas e anti-democráticos.
                     A influência de candidatos como Trump pode ser bastante negativa, ao reforçar tais movimentos nas franjas da democracia. Daí a inquietude que o populismo conservador do candidato do GOP vem criando na campanha eleitoral.
                      Cresce a preocupação da direção do GOP porque não vê alternativa para os próprios interesses. Faixa considerável dos republicanos vem procurando "resolver o problema" através da arregimentação do poder da Câmara de Representantes, que em consequência do shellacking (tunda) da eleição intermediária de 2010 (que deu possibilidade a dirigentes do GOP de montar um grande gerrymander[3]) - ao mudar nos estados em que venceu o Partido Republicano os limites dos distritos eleitorais (para deputados), de forma a favorecer o GOP. Tal situação deverá um dia ser derrubada - seja pelos tribunais, seja por campanhas de esclarecimento  popular - mas essa instrumentalização tende a perdurar, pelo menos até o próximo censo demográfico.


As postagens do blog



                             Ontem as postagens do blog alcançaram mais um total que dão conforto e satisfação ao seu autor e responsável, e correspondem ao próprio desejo de opinar sobre os temas que são julgados de interesse daqueles que prestigiam esse modesto órgão com a sua leitura.
                               No dia de ontem, doze de agosto, a publicação atingiu a marca de 3.500. Surgida em fins de 2008, a sua circulação tem aumentado, como se pode verificar graças ao Google e respectivo  serviço de rastreamento por país, que além de mostrar-nos os respectivos limites geograficos, podem dar-nos gratas surpresas, ao extendê-los por vezes  ainda além da Taprobana.[i]
                                Por circunstâncias de fácil compreensão para os leitores que honram este blog com as suas visitas virtuais, devemos celebrar, com a indispensável modéstia,  o passado porque ele é a prova de nosso empenho. Quanto ao futuro, o eventual poder que sobre ele exercemos, além de não ser confiável, é bastante tênue...     



[1] Caça às feiticeiras. Salem designa comunidade na Nova Ingleterra dos Estados Unidos, que veio a tipicar atmosfera opressiva de amplas denúncias.
[2] Aquele que já dispõe da formal designação (nomination) como candidato do Partido.
[3] gerrymander é adaptar os limites dos distritos eleitorais de modo a conceder vantagens injustas para um partido em uma eleição (definição do Oxford American Dictionary.






 













































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