Gostaria de pedir a atenção dos
leitores deste modesto blog sobre uma
pergunta que parece ficar na garganta - ou permanece não digitada pelos
políticos, comentaristas e jornalistas de nomeada.
Não estou me referindo a alguma
ditadura como a Bielo-Rússia, ou a um regime daqueles ditos forte ou
autoritário, como a própria pátria do
grande Vladimir V. Putin.
Lamentavelmente me estou reportando a
uma indagação que não costuma passar nos grandes jornais, seja na sua versão
nas bancas, seja naquela digital. E este respeitoso silêncio - como de alguém
que evita falar de cadeia em casa de algum larápio de nomeada - ele reponta,
incômodo, nessa inaudita incapacidade de expressar o que não deveria ser calado.
O que parece esquisito - como se acerca
da questão sobrepairasse uma espécie de ordem de silêncio, a exemplo de antigas
comunidades, ou até mesmo sociedades, imposta por uma interdição - é que o tema
será circundado, de forma a mantê-lo ausente do discurso.
É um estranho silêncio, a um tempo
difuso e sobrepairante, como se sobre o tema tivesse sido pronunciado, como na
antiga Grécia, quando recaísse sobre algum rincão ou mesmo pessoas o PëÜóôùñ[1], o que impunha o silente respeito à maldição imposta.
Ocorre assim de parte de comentaristas
políticos e mesmo simples observadores, uma espécie de respeitoso mutismo
quanto à existência daquele fenômeno. É como se existisse algo pesteado no tema
ou nas suas implicações, e o melhor que pensam fazer é circundar o tópico, que
é tratado como off-limits.[2]
Com efeito, é natural, por exemplo,
que se façam prognósticos sobre como evoluirão na iminente próxima eleição as
maiorias respectivas no Senado (estima-se que é provável que os democratas
recuperem a maioria na Câmara Alta, ainda mais pela circunstância de que há um
maior número de cadeiras hoje ocupadas por republicanos, o que dá para os
democratas uma vantagem comparativa). Os prognósticos podem ser feitos também
sobre os governos estaduais e, obviamente, a eleição presidencial, em que a
balança da opinião, por compreensíveis motivos, pende para a candidata Hillary
Clinton (daí o afã do GOP de tentar virar o jogo recorrendo a expedientes
jurídicos, como de resto é um hábito característico desse partido).
Sobre tudo se emitem palpites, ou
avaliações sérias, baseadas em cômputos de institutos respeitados, menos sobre a Câmara de Representantes dos
Estados Unidos da América.
Não importa quem assine o artigo ou coluna, a
tendência prevalente é que declare apenas que não há previsões a fazer sobre a
Câmara Baixa, na qual os republicanos ganharam a maioria em 2010, no
tristemente famoso shellacking, que
foi o castigo - com a ajuda dos irmãos
petroleiros Koch - aplicado por essa eleição intermediária, com a irrupção
do nascente movimento de direita Tea
Party na jovem e inexperiente Administração Obama. Por conta dessa eleição,
a Câmara de Representantes, biênio após
biênio, continua sob o firme controle do GOP. Esse peculiar desenvolvimento é
responsável por uma virtual paralisia em Washington - entra eleição, sai
eleição - se o Senado pode passar de republicano para democrata, ao sabor dos
pleitos bienais, desde 2010 a Casa de Representantes permanece sob o domínio do
Partido Republicano! O mais estranho é que isso ocorre mesmo em eleição que se
caracteriza por uma maioria nacional concedida aos democratas. O reflexo disso
se sente no Senado, na Casa Branca, mas não na Câmara de Representantes, que
persiste como um feudo dos republicanos, qualquer que seja a tendência
prevalente na Nação Americana.
Será por isso que os
comentaristas evitem fazer prognósticos sobre a composição da Câmara de
Deputados?
Ou será que talvez se imponha
adotar novos critérios para lidar com esse suposto desafio?
Por quanto tempo a grande
democracia americana pode conviver com tal situação, em que os articulistas, a
mídia, a imprensa em geral e os meios de comunicação continuem a proceder como
se nada houvesse a comentar... Ou como avestruzes permaneçam com a cabeça enterrada na areia...
( Fonte: The New York Times )
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