sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Artimanhas do GOP contra Hillary

                            

       A Câmara de Representantes - que nos Estados Unidos ainda por um tempo não previsível será dominada pelo Partido Republicano, o que se deve ao maciço redesenho de distritos eleitorais em muitos Estados da União Americana, em consequência do shellacking (tunda) da eleição intermediária de 2010 - depois de longa e pertinaz tentativa de implicar Hillary Clinton pela morte do embaixador americano Chris Stevens - nada logrando, agora parte na sua busca esfaimada de supostas revelações em outro alegado escândalo - o do servidor particular do computador da então Secretária de Estado.
        Nada logrando até hoje, conseguiu através da convocação do diretor do FBI (Bureau Federal de Investigações), o Sr. James B.Comey Jr - quase que como um prêmio de consolação - esse senhor, que depois do exame pelo pessoal do FBI nada determinara que fosse motivo de acusação penal,  não conseguiu calar um comentário desrespeitoso no que tange ao emprego desse servidor particular pela então Secretária do State Department como 'extremamente descuidado'.
        No seu depoimento à Câmara também disse que os deputados poderiam acessar as declarações de Hillary através do chamado 'referral' , em que o FBI retransmitiria para a Câmara de Representantes os documentos em apreço.
         A Câmara vinha tentando desde muito implicar de alguma forma jurídica  Hillary Clinton. Ao proceder dessa maneira, o seu único escopo é servir de linha auxiliar para o Partido Republicano, e agora com as candidaturas lançadas - e a péssima situação eleitoral do candidato Donald Trump - o único objetivo da Câmara de Representantes é encontrar algo nesses papéis que  lhe dê eventuais elementos para montar uma acusação de perjúrio à candidata Hillary.
           Sabemos como funciona o perjúrio em muitos casos nos Estados Unidos. Ken Starr, o comissário Javert que investigava o casal Clinton pela questão de Whitewater - submeteu a Senhora Hillary Clinton  a um grand jury (que é um processo jurisdicional de acusação penal) sem nada lograr, por causa de declaração sua.
           Ao mandar para a Câmara todos os papéis em causa, sem nenhuma pré-condição, o procedimento do FBI provocou estranheza, eis que ao remeter tal volume de trabalho para ser revisto pelos republicanos, sem submetê-lo a nenhuma pré-condição que assegurasse de sua parte uma atitude justa e equânime,  esse senhor Comey deu um tratamento muito descuidado a esse tipo de documentação (a comparação com a sua repreensão à Hillary no manuseio dos e-mails é proposital ), não colocando regra alguma para evitar que os republicanos façam um cherry-picking (selecionem aquilo que lhes interesse para prejudicar Hillary, não importa que desvirtuem o sentido dos documentos analisados).
            Sabe-se, por outro lado, que a acusação de perjúrio nos Estados Unidos muita vez é uma armadilha colocada para criar problemas para os eventuais acusados. Assim foi no caso do presidente Bill Clinton, e assim pode ser se uma oposição raivosa e preconceituosa à candidata democrata possa valer-se de uma acusação que não passa de instrumentalização para criar dificuldades - que apesar de totalmente estranha ao interesse americano - possa servir para criar óbices à candidata Hillary, a que o GOP deseja  impedir por todos os meios de aceder à Presidência.
             A esse respeito, é interessante citar alguns trechos da cobertura do New York Times: "Representantes democratas na Câmara expressaram preocupação de que detalhes dos documentos poderiam ser vazados seletivamente para prejudicar a Senhora Clinton na campanha."[1]
             Nesse contexto, assim se manifestou o Representante Adam B. Schiff, democrata da  Califórnia: "Isto não servirá  nem aos interesses da Justiça, nem ajudará ao Congresso nas suas responsabilidades, e colocará meramente um precedente para o FBI colocar à disposição arquivos de casos encerrados, toda a vez que um Partido no Congresso não goste de uma decisão do promotor ".
               
( Fonte: The New York Times )   



[1] Este procedimento é chamado de "cherry picking"  (escolher cerejas), em que se seleciona apenas citações favoráveis à própria argumentação, e por isso insinua má-fé.

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