A Câmara de Representantes - que nos Estados Unidos
ainda por um tempo não previsível será dominada pelo Partido Republicano, o que
se deve ao maciço redesenho de distritos eleitorais em muitos Estados da União
Americana, em consequência do shellacking
(tunda) da eleição intermediária de 2010 - depois de longa e pertinaz tentativa
de implicar Hillary Clinton pela morte do embaixador americano Chris Stevens -
nada logrando, agora parte na sua busca esfaimada de supostas revelações em
outro alegado escândalo - o do servidor particular do computador da então
Secretária de Estado.
Nada logrando até hoje, conseguiu através
da convocação do diretor do FBI (Bureau Federal de Investigações), o Sr. James B.Comey
Jr - quase que como um prêmio de consolação - esse senhor, que depois do exame
pelo pessoal do FBI nada determinara que fosse motivo de acusação penal, não conseguiu calar um comentário
desrespeitoso no que tange ao emprego desse servidor particular pela então Secretária
do State Department como 'extremamente descuidado'.
No seu depoimento à Câmara também disse
que os deputados poderiam acessar as declarações de Hillary através do chamado
'referral' , em que o FBI
retransmitiria para a Câmara de Representantes os documentos em apreço.
A Câmara vinha tentando desde muito implicar
de alguma forma jurídica Hillary Clinton. Ao
proceder dessa maneira, o seu único escopo é servir de linha auxiliar para o
Partido Republicano, e agora com as candidaturas lançadas - e a péssima
situação eleitoral do candidato Donald Trump - o único objetivo da Câmara de
Representantes é encontrar algo nesses papéis que lhe dê eventuais elementos para montar uma
acusação de perjúrio à candidata Hillary.
Sabemos como funciona o perjúrio em muitos
casos nos Estados Unidos. Ken Starr, o comissário Javert que investigava o
casal Clinton pela questão de Whitewater - submeteu a Senhora Hillary
Clinton a um grand jury (que é um
processo jurisdicional de acusação penal) sem nada lograr, por causa de
declaração sua.
Ao mandar para a Câmara todos os
papéis em causa, sem nenhuma pré-condição, o procedimento do FBI provocou
estranheza, eis que ao remeter tal volume de trabalho para ser revisto pelos
republicanos, sem submetê-lo a nenhuma pré-condição que assegurasse de sua
parte uma atitude justa e equânime, esse
senhor Comey deu um tratamento muito descuidado a esse tipo de documentação (a
comparação com a sua repreensão à Hillary no manuseio dos e-mails é proposital
), não colocando regra alguma para evitar que os republicanos façam um
cherry-picking (selecionem aquilo que lhes interesse para prejudicar Hillary,
não importa que desvirtuem o sentido dos documentos analisados).
Sabe-se, por outro lado, que a
acusação de perjúrio nos Estados Unidos muita vez é uma armadilha colocada para
criar problemas para os eventuais acusados. Assim foi no caso do presidente
Bill Clinton, e assim pode ser se uma oposição raivosa e preconceituosa à
candidata democrata possa valer-se de uma acusação que não passa de
instrumentalização para criar dificuldades - que apesar de totalmente estranha
ao interesse americano - possa servir para criar óbices à candidata Hillary, a
que o GOP deseja impedir por todos os
meios de aceder à Presidência.
A esse respeito, é interessante citar alguns
trechos da cobertura do New York Times: "Representantes democratas na
Câmara expressaram preocupação de que detalhes dos documentos poderiam ser
vazados seletivamente para prejudicar a Senhora Clinton na campanha."[1]
Nesse contexto, assim se
manifestou o Representante Adam B. Schiff, democrata da Califórnia: "Isto não servirá nem aos interesses da Justiça, nem ajudará ao
Congresso nas suas responsabilidades, e colocará meramente um precedente para o
FBI colocar à disposição arquivos de casos encerrados, toda a vez que um Partido
no Congresso não goste de uma decisão do promotor ".
( Fonte: The New York Times )
[1] Este procedimento é
chamado de "cherry picking"
(escolher cerejas), em que se seleciona apenas citações favoráveis à
própria argumentação, e por isso insinua má-fé.
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