O leitor me perdoe a interrogação. Esse
resquício de dúvida teima em desaparecer, apesar de que as evidências continuem
a acumular-se, mais esclarecedoras do que impiedosas.
Não teriam piedade se ainda
persistissem motivos válidos de dúvidas.
Como a então prometida resposta à entrevista do deputado Jarbas
Vasconcelos às páginas amarelas de
VEJA, que nunca veio das instâncias nervosas dos reunidos peemedebistas, paira
inarredável no horizonte político a presença da corrupção nas instâncias partidárias
da maior frente política brasileira, hoje longínqua lembrança dos dias de Ulysses Guimarães e da luta, ao lado do Povo
brasileiro, a favor da Democracia, e contra o regime militar.
A memória política semelha demasiado
curta no Brasil. O deputado Jarbas Vasconcelos, na entrevista à VEJA, dissera
da presença da corrupção nas fileiras do PMDB.
Esperou-se resposta à acusação,
decerto frontal para a Frente partidária, embora nomes não houvessem sido
pronunciados. A Frente reuniu-se. Então como hoje, o chefe ou primus inter pares era e é Michel
Temer. Reuniões nervosas e acaloradas se seguiram. Se o contexto é
previsível, não vazaram as intervenções. Apenas o teor da resolução, ou talvez
melhor seria dizê-lo, anti-resolução.
Pois as altas instâncias partidárias
do maior partido nacional - que, na verdade, mais parece a agremiação da
República Velha, que consistia em aliança de partidos estaduais, todos eles
firmemente concordes em manter o poder na então capital federal do Rio de
Janeiro (hoje ela está em Brasília).
Essa mudança é tópica e decerto superficial, pois a férrea vontade de
manter o mando na capital, hoje por artes de JK, em Brasília, continua a mesma inquebrantável determinação de, seja
como for, conservar o controle sobre
todas as máquinas, municipais, estaduais e federal, nessa República - e me perdoe
o leitor a interposição, o igual querer de ter a última palavra no que se trate
do exercício do poder continua a mesma.
E foi por tal razão, compreensível
no seu meio, mas ainda combatida por núcleos de deputados éticos - por mais
rara que vá ficando tal composição - que a direção do PMDB de então não pôde
responder àquele deputado egresso de outros tempos e outros costumes.
Aconselhados pelo respectivo chefe - que não por acaso continua a dar as cartas
na maior frente política nacional - a liderança peemedebista preferiu responder
com o silêncio às colocações do deputado Jarbas Vasconcelos.
O que Ricardo Noblat hoje frisa
na sua coluna me parece difícil de responder: "Mesmo que se prove o que
Marcelo (Odebrecht) contou em sua delação, dificilmente Temer será processado.
(O alegado crime) foi cometido antes de ele ser reeleito vice-presidente em
outubro de 2014. A partir do próximo mês, com a (previsível) cassação de Dilma
pelo Senado, Temer deixará de ser interino (para virar) presidente da
República.
O pior seria o que vem em
consequência: "Com popularidade baixa, obrigado a promover duros ajustes
na economia, como Temer conseguiria governar uma vez acusado de crime de caixa
dois?"
Em outras palavras, mudada a
situação radicalmente, continuam, no entanto, a pairar sobre Temer e seu
partido as mesmas irrespondíveis acusações.
Não foi em vão que ressoara atroador
silêncio às acusações colocadas por remanescente ético dentro do PMDB, a saber,
Jarbas Vasconcelos.
O que fazer? Confiar na habilidade política (com p minúsculo)
de Michel
Temer, ou ouvir a voz que brada no deserto de Brasília, e que porta,
malgrado tudo, o ético galardão de Jarbas Vasconcelos?
Essa
pergunta pode parecer retórica, mas tragicamente não o é.
(Fontes: artigo de Ricardo Noblat - Odebrecht mira em
Temer - em O Globo; VEJA)
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