O que parece ser a política no Brasil? Será exercício azeitado pela corrupção?
Os defensores da honestidade e da
lisura - que não são sinônimos, mas que devem complementar-se - estão na
imprensa, mas não se vêem amiúde na política.
Não me atreveria a dizer que, por aqui,
não existam. Há de convir-se, no entanto, que procurar tal personagem é faina
prenhe de fadigas e de desilusões.
Muitos decerto cuidam de parecer honestos, quando simplesmente
deveriam apenas sê-lo, deixando o
efeito demonstração para quando necessário for deles folhear o respectivo caderno.
A famigerada lei de Gerson - de que até o próprio se dissocia - parece dar as
cartas, nesta segunda década do século XXI.
Não seria o que hodiernamente quase
todos deem a impressão: querer levar vantagem em tudo?
O mundo pós-petista mostra como esse
pequeno partido, que repontou na agonia do regime militar, e que surgira como
se fora novo Robespierre - e este
foi realmente incorruptível. Muito depois de morto, continua a provocar ódios e
radicais censuras: o próprio presidente François Mitterrand - que presidiu às
cerimônias do bicentenário da Revolução Francesa - não é que mandou apagá-lo
dos festejos? O homem de Arras, oriundo da pequena nobreza, chamado de incorruptível
pelo povo parisiense Maximilien de Robespierre,
ultra-jacobino, admirador do filósofo Jean-Jacques
Rousseau, guilhotinado pela direita vencedora em 9 de Thermidor (1794), não
é que receberia do ultra-moderado Mitterrand a maior homenagem? O seu nome não
deveria ser designado com qualquer destaque! No bicentenário da Revolução,
recebia, pois, homenagem de porte: a
menção do próprio nome deveria ser evitada, porque há dois séculos da respectiva
morte, Robespierre continuava a motivar paixões políticas e, sobretudo, a ser
pertinente e estranhamente presente, como se vivo fora - após duzentos anos!. Por
conseguinte, para a direita, persistia como ameaça !
Quando o PT de Lula poderá pretender
tal feito? Pequeno partido, surgiu jacobino e ultra-zeloso, expulsando de suas
fileiras o punhado de deputados que votara em Tancredo para Presidente.
Supostamente intransigentes na democracia, assumiam a postura de negar qualquer
tergiversação na regra do voto direto
popular, mesmo que fosse destinado a um político por excelência como Tancredo Neves.
O
PT continuaria a assumir a postura dos ultra-zelosos, quando - folhas
adiante - se recusaria a assinar a Constituição de 1988. Ulysses e os líderes
de então deixariam que mais tarde, na calada dos meses subsequentes, se
permitisse aos Zelotes do PT pudessem assinar aquela mesma Constituição! Os
políticos brasileiros pecam pelo bom-mocismo, que passa a mão na cabeça de
demagogos como Lula et caterva.
Não carece de falar mais sobre o
quanto mostrou o Partido dos Trabalhadores estar longe do jacobino código de
conduta que professavam exercer enquanto fora do poder.
Quando assumiu o mando, com o Lulinha paz e amor, em 2003, o PT já
carregava o proto-escândalo, aquele do assassínio do prefeito Celso Daniel. Todo o engruvinhado desse
affaire resulta da ânsia de apagar do
mapa os registros da corrupção estatuída pelo Partido dos Trabalhadores em prefeitura
paulista, presidida por Celso Daniel. E a tentativa de apagar esse escândalo se
estende incongruamente até os dias de passado bem-próximo, com o pagamento de
chantagens, além de mecanismos supostamente complexos envolvendo personagens
como o empresário Ronan, e tantos outros, sem esquecer os manda-chuvas do PT em
Brasília.
Terá sido a mega-corrupção, com a
exploração desavergonhada da nossa maior indústria, a Petrobrás, que criou o
escândalo do Petrolão - que viria superar outros escândalos menores do PT
- e que, em dando nascimento a Lava-Jato, criaria as condições para
implodir o poder petista.
A própria Dilma Rousseff - que
unia a ineficência à suspeitas de corrupção - viria a preparar a desmoralização
do regime petista.
A corrupção não é privilégio do
Partido dos Trabalhadores, mas desde os primórdios do primeiro mandato de Dilma
Rousseff, o petismo vai-se confundindo com a corrupção (ação penal 470 do Supremo
- o chamado Mensalão). O seu relator foi o Ministro Joaquim Barbosa, e
muito a ele se deve para que essa ação do Supremo não tenha virado a sólita
pizza.
Dona Corrupção continua a dar
as cartas em Brasília. O último exemplo aparenta ser de gravidade. Logo, na
reta terminal do processo de impeachment
de Dilma Rousseff - hoje presidente afastada - ao aproximarmo-nos do seu
julgamento final (que a decretará destituída ou a reporá no poder), estoura
mais um escândalo, desta feita contra o Presidente interino, Michel
Temer (PMDB). Segundo negociação
de acordo de delação, o preso Marcelo Odebrecht revelou que Michel Temer recebeu,
em nome do PMDB, a 'contribuição' de 10 milhões da Odebrecht, em dinheiro vivo,
como caixa-dois.
Tal ocorreu na abertura das
Olimpíadas. Tal "contribuição"
de "caixa dois" pode levar a
implodir o governo Temer, com consequências imprevisíveis.
Mas isto é matéria que exige análise
detida,a ser aprofundada oportunamente.
( Fonte: O
Globo )
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