Escrevia no outro dia de Adhemar Ferreira da Silva, o brasileiro
que arrasara na Olimpíada do México - se não estou errado - com salto tríplice
que em um mesmo dia iria quebrar vários records nas suas diversas tentativas.
Naqueles tempos em que as notícias
chegavam devagar, o nosso patrício arrasou na pista, de total desconhecido
virando celebridade na mesma jornada.
Mencionara tal fato saudoso do tempo
em que surgiam, não se sabe bem de onde, grandes valores nacionais.
Pois, pelo visto, subestimei a
potencialidade de nosso país em produzir grandes atletas.
No entanto, no meio do caminho havia uma pedra. Em
Londres, na Olimpíada anterior, o francês Renaud Lavillenie fôra o campeão no
salto com vara.
Terá pensado, por conseguinte, que
estaria assegurado lá-bàs, a Rio de Janeiro, mais uma medalha de ouro
para ele.
Não contou com a presença de Thiago Braz, e seus vinte e dois anos,
para disputar-lhe a prova.
Com a ousadia dos desafiantes,
Thiago enfrentou o favorito. Bem, isso já foi contado. Partiu para os 6,03,
marca que conseguiu no segundo salto. Já o francês tentaria imitá-lo. Partiu
para os 6,08 (errara nas duas primeiras tentativas de 6,03), após autorizado
pela mesa. Esse intento foi vaiado pela torcida, o que terá desestabilizado
Lavillenie, eis que perderia o último. Depois, chamaria o público brasileiro
de torcida de m... Mal-educado e
preconceituoso esse francês, não acham?
Na cerimônia de ontem, de outorga
das medalhas, Lavillenie tinha a fisionomia abatida, quase sepulcral.
A sua derrota já repercutira em
Paris, e a interpretação francesa foi a princípio também preconceituosa, como
se o compatriota tivesse sido derrotado por uma guerra de nervos. A cobertura
de Le Monde tampouco obedeceu aos
seus habituais padrões, com comparações bizarras, insinuando emanações do
candomblé. Nesse contexto, Lavillenie se comparou ao grande Jesse Owen, quando
humilhou Hitler em Berlin.
.
Apesar de todo o teatro - e Renaud
Lavillenie exibia na premiação semblante
soturno, quase cadavérico - a mídia francesa já recuara da sua interpretação à
quente, dando-se conta da comparação
absurda de Alemanha hitleriana e de Jesse Owens. O americano foi vaiado pelo
público alemão por racismo. E ainda por cima, Owens respondeu com quatro
medalhas. Quantas ganhou Monsieur Lavillenie ? Rien (nada) como dizia a cantora Edith Piaf (je ne regrette rien[1])
Afora essa grande conquista, ontem
não foi um grande dia para o Brasil. Mas disso escreverei no blog seguinte.
( Fontes: O
Globo, Rede Globo, Carlos Drummond de Andrade, Edith Piaf )
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