Agora que a Olimpíada do Rio acabou como o sucesso que
foi, não será demais que retome o tema das bicicletas.
Já me reportei a essa questão por
mais de uma vez. Em resposta, tenho colhido a glacial indiferença do Senhor
Prefeito.
Ciclovias foram construídas no Rio de
Janeiro, decerto sob o pressuposto de que os ciclistas não invadiriam as
calçadas cariocas.
Até que aconteça um desastre e algum
pedestre sofra sérias lesões pela prevaricação das autoridades, a pule de dez é
que não se faça nada em Pindorama e também no Rio de Janeiro.
E, no entanto, Sua Senhoria - ou Sua
Excelência se lhe preza conservar a distinção protocolar que data dos anos em
que o Rio de Janeiro era a Capital Federal - deveria pensar e não com a
dedicação total das Olimpíadas (o que não lhe evitou a situação da Vila
Olímpica e o vexame com a delegaçao australiana) que é preciso por cobro a uma
situação anômala.
Há tempos atrás - mas não muito -
quando tive de atualizar a minha licença de dirigir, achei engraçado dar com um
manual de Detran que taxativamente
afirmava que os ciclistas devem obedecer
a todas as leis do trânsito.
Estava diante do velho verbalismo
da burocracia brasileira, seja federal, estadual ou municipal. Uma coisa é o
que está escrito, e bem outra a realidade enfrentada pelo cidadão.
Nesse manual - que deve passar
pelos vários crivos burocráticos - alguém que desconheça a sociedade brasileira
- para um especialista dinamarquês, depois de passar uns tempos em Pindorama,
voltou à sua pátria, dizendo que o jeitinho deverá tomar tempo para que
desapareça. Pois o jeitinho, como o Senhor deve saber, na sua aparente
inocência e na suposta intenção de
resolver as coisas, na verdade é a pegada ou a impressão digital de uma
incipiente corrupção.
Há vários tipos de ciclista. A
minoria respeita a legislação, as posturas municipais (que em algum lugar devem
existir), mas a dizer a verdade, apreciaria muito se fosse apresentado a esse
personagem minoritário.
Como todo morador do Rio de
Janeiro - e sabe-se lá quem deu ao ciclista essa idéia - devo partilhar as
calçadas com os vários ciclistas que acham ótimo pedalar neste espaço do
pedestre, porque lá ele corre risco algum, enquanto põe a incolumidade fisica
de quem ali deve caminhar em perigo.
Num dia de chuva, caminhava para
minha residência, indo por estreita calçada, que emagrecera pela desídia da
autoridade municipal, ao permitir o avanço nas calçadas das grades que pululam
por esta cidade. Era um aguaceiro de pôr inveja às chuvas de Ranchipur, quando
um jovem passou a centímetros deste seu concidadão. Por causa do fenômeno
torrencial, só me dei conta da bicicleta quando ela passou a milímetros desse
transeunte. Dada a estreiteza do passeio público, agradeci ao padroeiro dos
pedestres a graça por acaso concedida, eis o jovem energúmeno transformava
aquela esgueirante via em uma pista.
Sorte tive eu de escapar por
graça do acaso. Mas aqueles que serão vítimas desses indivíduos que não
respeitam lei alguma, será um pensamento vadio de que a sorte me fez escapar de
um muito possível atropelamento por alguém que não devia estar ali, e que só
está porque a Administração Municipal de Vossa Excelência, com toda a sopa de
letras da burocracia, deve pensar que se ocorresse algo de molesto, tudo não
passaria de uma infelicidade de um isolado transeunte entre aos desatinos desse
tipo de ciclista, que corre feliz no mundo que lhe proporciona a prevaricação
da autoridade municipal competente.
Em termos de ciclismo,
vivemos ao deus dará. A atividade municipal é aquela que está mais próxima do
cidadão. Se ele aprecia a beleza com que Vossa Excelência reordena esta velha e
mui leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não abandone nem o pedestre
nem o ciclista. Este carece de proteção dos ônibus e das ondas oceânicas, belas
mas perigosas.
O seu antigo protetor
gostava muito de ir a Paris. Se o Senhor tiver tempo, seria o caso de lá
aparecer. Na velha Lutécia, os ciclistas, além de portarem bonés adequados,
respeitam todas as leis do trânsito, inclusive na indumentária protetora. Até
no sinal eles param, porque alguém deve lhes ter dito que eles também são
veículos, e como tal têm de respeitar todas as leis do trânsito. Engraçado, que
é a linguagem é a mesma daquela com que topei na agência do Detran.
Só que lá é pra valer.
E o Senhor, excelência: o que precisará para cumprir a lei nesse aspecto ?
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