quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A desordem ciclista

                 

         Agora que a Olimpíada do Rio acabou como o sucesso que foi, não será demais que retome o tema das bicicletas.
          Já me reportei a essa questão por mais de uma vez. Em resposta, tenho colhido a glacial indiferença do Senhor Prefeito.
          Ciclovias foram construídas no Rio de Janeiro, decerto sob o pressuposto de que os ciclistas não invadiriam as calçadas cariocas.
           Até que aconteça um desastre e algum pedestre sofra sérias lesões pela prevaricação das autoridades, a pule de dez é que não se faça nada em Pindorama e também no Rio de Janeiro.
           E, no entanto, Sua Senhoria - ou Sua Excelência se lhe preza conservar a distinção protocolar que data dos anos em que o Rio de Janeiro era a Capital Federal - deveria pensar e não com a dedicação total das Olimpíadas (o que não lhe evitou a situação da Vila Olímpica e o vexame com a delegaçao australiana) que é preciso por cobro a uma situação anômala.
            Há tempos atrás - mas não muito - quando tive de atualizar a minha licença de dirigir, achei engraçado dar com um manual de Detran que taxativamente afirmava que os ciclistas devem obedecer a  todas as leis do trânsito.
            Estava diante do velho verbalismo da burocracia brasileira, seja federal, estadual ou municipal. Uma coisa é o que está escrito, e bem outra a realidade enfrentada pelo cidadão.
            Nesse manual - que deve passar pelos vários crivos burocráticos - alguém que desconheça a sociedade brasileira - para um especialista dinamarquês, depois de passar uns tempos em Pindorama, voltou à sua pátria, dizendo que o jeitinho deverá tomar tempo para que desapareça. Pois o jeitinho, como o Senhor deve saber, na sua aparente inocência e na suposta intenção de  resolver as coisas, na verdade é a pegada ou a impressão digital de uma incipiente corrupção.
              Há vários tipos de ciclista. A minoria respeita a legislação, as posturas municipais (que em algum lugar devem existir), mas a dizer a verdade, apreciaria muito se fosse apresentado a esse personagem minoritário.
               Como todo morador do Rio de Janeiro - e sabe-se lá quem deu ao ciclista essa idéia - devo partilhar as calçadas com os vários ciclistas que acham ótimo pedalar neste espaço do pedestre, porque lá ele corre risco algum, enquanto põe a incolumidade fisica de quem ali deve caminhar em perigo.
                Num dia de chuva, caminhava para minha residência, indo por estreita calçada, que emagrecera pela desídia da autoridade municipal, ao permitir o avanço nas calçadas das grades que pululam por esta cidade. Era um aguaceiro de pôr inveja às chuvas de Ranchipur, quando um jovem passou a centímetros deste seu concidadão. Por causa do fenômeno torrencial, só me dei conta da bicicleta quando ela passou a milímetros desse transeunte. Dada a estreiteza do passeio público, agradeci ao padroeiro dos pedestres a graça por acaso concedida, eis o jovem energúmeno transformava aquela esgueirante via em uma pista.
                 Sorte tive eu de escapar por graça do acaso. Mas aqueles que serão vítimas desses indivíduos que não respeitam lei alguma, será um pensamento vadio de que a sorte me fez escapar de um muito possível atropelamento por alguém que não devia estar ali, e que só está porque a Administração Municipal de Vossa Excelência, com toda a sopa de letras da burocracia, deve pensar que se ocorresse algo de molesto, tudo não passaria de uma infelicidade de um isolado transeunte entre aos desatinos desse tipo de ciclista, que corre feliz no mundo que lhe proporciona a prevaricação da autoridade municipal competente.
                    Em termos de ciclismo, vivemos ao deus dará. A atividade municipal é aquela que está mais próxima do cidadão. Se ele aprecia a beleza com que Vossa Excelência reordena esta velha e mui leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não abandone nem o pedestre nem o ciclista. Este carece de proteção dos ônibus e das ondas oceânicas, belas mas perigosas.
                      O seu antigo protetor gostava muito de ir a Paris. Se o Senhor tiver tempo, seria o caso de lá aparecer. Na velha Lutécia, os ciclistas, além de portarem bonés adequados, respeitam todas as leis do trânsito, inclusive na indumentária protetora. Até no sinal eles param, porque alguém deve lhes ter dito que eles também são veículos, e como tal têm de respeitar todas as leis do trânsito. Engraçado, que é a linguagem é a mesma daquela com que topei na agência do Detran.

                         Só que lá é pra valer. E o Senhor, excelência: o que precisará para cumprir a lei nesse aspecto ?   

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