terça-feira, 2 de agosto de 2016

Mr Trump e suas opiniões

                               

       São consternadoras as opiniões (e declarações)  que recentemente tem manifestado o candidato republicano Donald Trump.
       Seja pelo respectivo viés político, pela falta de mínimo sentido de decência política e igualmente pela preocupante ignorância que adumbram, elas fazem crescer a pressão para que expoentes republicanos se dissociem das confusas e inquietantes posições do candidato do GOP em termos de política externa e da Rússia em particular.
        Dizer que as suas palavras reforçariam suspeitas de suas simpatias pelo líder russo Vladimir Putin, é ir um pouco longe demais nos extremos cuidados que ainda semelham envolver-lhe as abstrusas declarações.
        Somente alguém fundamente ignaro em termos de política externa - e em especial da moussoliniana figura do presidente de todas as Rússias, gospodin Putin - pode adumbrar a respectiva simpatia por esse adversário do Ocidente.
         A intervenção da Rússia nos assuntos internos da Ucrânia parece ser de todo ignorada por Trump. Para confundi-lo ainda mais,  seu atual diretor de campanha, Paul Manafort, foi em passado recente consultor político do presidente ucraniano pró-Rússia, Viktor Yanukovych, que  a rebelião da Praça Maidan, em Kiev, apeou do poder.
.           Para alguém que escapou de servir no Vietnam,  um pouco mais de equilíbrio nos julgamentos seria recomendável. Como avaliar a sua incrível zombaria dos pais do Capitão Humayun Khan, muçulmano-americano, que foi morto no Iraque por um atacante suicida?
             A sua falta de medida, Mr Trump demonstrou por meter-se em um debate à distância com os pais do herói americano. Chegou a insinuar que a Sra. Khan não falara na Convenção porque a sua religião não o permite, e pôs no mesmo plano os próprios sacrifícios como empresário aos dos pais em luto pelo filho Humayun Khan.
               Perdendo a paciência com Trump, o Senador republicano (e herói)  John McCain emitiu declaração de que "é tempo que Donald Trump se coloque como exemplo para nosso país e o futuro do Partido Republicano".
              No entanto, a ignorância político-diplomática do candidato Trump vai muito além dos padrões de políticos americanos. Veja-se nesse contexto a simpatia do candidato republicano por Putin,  adversário declarado dos Estados Unidos. Tal se complementa com a acabrunhante ignorância politico-diplomática quanto à agressão russa tanto na Criméia (cuja anexação foi censurada em Recomendação das Nações Unidas), quanto na própria Ucrânia, com o fomento do separatismo na parte oriental.
                Sendo um dos principais países lindeiros com a Rússia, a Ucrânia, pelo seu tamanho, é um dos espaços políticos mais importantes dos  que o Kremlin ominosamente descreve como o 'estrangeiro próximo'. Daí a forte reação de Moscou diante da queda de Viktor Yanukovych (que era pró-Moscou), com a invasão pelos sólitos voluntários russos da Ucrânia oriental e a consequente anexação da Criméia, ocupada por soldados russos com uniforme descaracterizado.
                  A ignorância politico-diplomática do candidato Trump torna-se ainda mais perigosa para os países do entorno do urso russo, com os seus comentários de desdouro da OTAN, que tem funcionado no pós-guerra como eficaz deterrente quanto ao poder hegemônico de Moscou, no que tange aos países que ganharam a própria independência com a pacífica dissolução da antiga União Soviética e de seu império, em 31 de dezembro de 1991. 


( Fontes:  The New York Times; Putin´s Kleptocracy, de Karen Dawisha  )

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