A Folha de S. Paulo haverá de ter presente o próprio
público, mas quero crer que a função de um órgão formador de opinião, deverá guiar-se sobretudo
pelo sentimento nacional, e não o bairrista - que outras nacionalidades chamam
de campanilista, pelo qual se reportam aos respectivos campanários
(campaniles), que lhes hão de parecer sempre mais belos e mais dignos de
referência.
Não posso crer que a representação do
Brasil - que não se houve assim tão mal, quantos muitos prognosticavam - venha a ser apresentada com um desempenho insatisfatório. O avanço do
Brasil, como grande país que é, não se realizará da noite para o dia, mas me
parece forçoso reconhecer, sem patriotadas, que logramos um 13° lugar que de
modo algum nos envergonha. Além de sermos o primeiro país da América Latina,
com sete medalhas de ouro, igualamos a
Espanha, e superamos o Canadá.
A programação olímpica é importante,
não só pelo que desvela de progressão nos esportes, mas também pelas suas
implicações na qualidade de vida de nossa gente.
É por isso que me confrange, mais
como brasileiro, do que carioca adotivo, ler mais uma vez nas páginas da Folha
de S. Paulo uma primeira página que não está à altura das tradições desse
grande jornal. Não devemos permitir que
o eventual bairrismo nos tolde a visão. Não é decerto difícil imaginar que esse
grande jornal terá tido presente o difuso sentimento em seu grande público de
que a Paulicéia apreciaria estar no lugar do Rio de Janeiro.
São Paulo, por muitos títulos crê
fazer por merecê-lo, mas forçoso será concordar que tenha sido dado ao Rio de
Janeiro essa candidatura ao primeiro posto olímpico ao ensejo de reunião de
Copenhague, se não me engano em 2000 .
Como sói acontecer no Brasil, muita vez se postula um lugar sem ter ainda
todos os títulos para pleiteá-lo. E
concordo com aqueles que apontam algumas importantes promessas da delegação que
não foram cumpridas - a maior delas a despoluição da Baía de Guanabara, que iria
melhorar as condições de vida dos cariocas e demais habitantes do entorno dessa
grande baía. Ela poderia ter sido
obtida, por trabalho aturado e jucelinesco empenho, mas infelizmente outra é a
gente que teria a cuidar desse meritório esforço, e que faltou com a promessa
empenhada.
Mas quis o destino que em outros
campos não falhara. E o resultado alcançado pelo Brasil, honra a todos nós,
cariocas (inclusive os adotivos), paulistas, gaúchos, pernambucanos, baianos, e
tantas outras províncias.
Não é aqui, contudo, o lugar de
cantar as loas do esforço pátrio, partilhado decerto por todos os estados e
etnias.
O que me entristece é que ao
cabo da vitória de nossa gente e da confirmação do Rio de Janeiro por tal magna
prova - que virou provação por um dia ou dois, antes que fosse desmascarada a
cafajestada de Ryan Lochte e consortes americanos, que adrede levantaram o
espectro do banditismo para tentar desmoralizar os Jogos, com os resultados que
tivemos o gosto de ver, com a respectiva palinódia e as desculpas nada mais que
do Comitê Olímpico Internacional.O que deveras me entristece, é o tom da Folha
de S. Paulo, que após prognosticar
negros, tétricos sucessos, ao fim e ao cabo, nos vêm com mais uma edição de
sour grapes. [1] Já na manchete principal
"Brasil celebra sucesso dos Jogos, mas não bate meta" reconhece o
óbvio, mas insere o espinho do registro de promessa não de todo cumprida.
Mas nisso não fica infelizmente, e
aí estão os colaboradores, que solícitos comparecem: "Foi o melhor
possível num país pobre, desigual e democrático", de Celso Rocha de
Barros; "Considerado o gasto do Governo, resultado não é tão bom
assim", de Roberto Dias; "Fora da quadra, também é preciso regras
mais eficazes", de Vinicius Mota; "Limonada carioca vai amargar
quando custo da festa chegar", de José Henrique Mariante.
Infelizmente, a Folha, que
costuma ser um grande jornal, perdeu uma boa ocasião de responder presente! aos
seus motes, princípios e grandes exemplos.
A sua resposta ao êxito brasileiro nessas
Olimpíadas tem um ranço infeliz de provincianismo, que não está, quero crer,
nas grandes tradições desse Jornal, de que me orgulho de ser assinante.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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