segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Olimpíadas Provincianas ?

                                    

        A Folha de S. Paulo haverá de ter presente o próprio público, mas quero crer que a função de um órgão  formador de opinião, deverá guiar-se sobretudo pelo sentimento nacional, e não o bairrista - que outras nacionalidades chamam de campanilista, pelo qual se reportam aos respectivos campanários (campaniles), que lhes hão de parecer sempre mais belos e mais dignos de referência.
         Não posso crer que a representação do Brasil - que não se houve assim tão mal, quantos muitos prognosticavam -  venha a ser apresentada  com um desempenho insatisfatório. O avanço do Brasil, como grande país que é, não se realizará da noite para o dia, mas me parece forçoso reconhecer, sem patriotadas, que logramos um 13° lugar que de modo algum nos envergonha. Além de sermos o primeiro país da América Latina, com sete medalhas de ouro, igualamos a Espanha, e superamos o Canadá.
         A programação olímpica é importante, não só pelo que desvela de progressão nos esportes, mas também pelas suas implicações na qualidade de vida de nossa gente.
          É por isso que me confrange, mais como brasileiro, do que carioca adotivo, ler mais uma vez nas páginas da Folha de S. Paulo uma primeira página que não está à altura das tradições desse grande jornal.  Não devemos permitir que o eventual bairrismo nos tolde a visão. Não é decerto difícil imaginar que esse grande jornal terá tido presente o difuso sentimento em seu grande público de que a Paulicéia apreciaria estar no lugar do Rio de Janeiro.
           São Paulo, por muitos títulos crê fazer por merecê-lo, mas forçoso será concordar que tenha sido dado ao Rio de Janeiro essa candidatura ao primeiro posto olímpico ao ensejo de reunião de Copenhague, se não me engano em 2000 . 
             Como sói acontecer no Brasil,  muita vez se postula um lugar sem ter ainda todos os títulos para pleiteá-lo.  E concordo com aqueles que apontam algumas importantes promessas da delegação que não foram cumpridas - a maior delas a despoluição da Baía de Guanabara, que iria melhorar as condições de vida dos cariocas e demais habitantes do entorno dessa grande baía.  Ela poderia ter sido obtida, por trabalho aturado e jucelinesco empenho, mas infelizmente outra é a gente que teria a cuidar desse meritório esforço, e que faltou com a promessa empenhada.
              Mas quis o destino que em outros campos não falhara. E o resultado alcançado pelo Brasil, honra a todos nós, cariocas (inclusive os adotivos), paulistas, gaúchos, pernambucanos, baianos, e tantas outras  províncias.
               Não é aqui, contudo, o lugar de cantar as loas do esforço pátrio, partilhado decerto por todos os estados e etnias.
                O que me entristece é que ao cabo da vitória de nossa gente e da confirmação do Rio de Janeiro por tal magna prova - que virou provação por um dia ou dois, antes que fosse desmascarada a cafajestada de Ryan Lochte e consortes americanos, que adrede levantaram o espectro do banditismo para tentar desmoralizar os Jogos, com os resultados que tivemos o gosto de ver, com a respectiva palinódia e as desculpas nada mais que do Comitê Olímpico Internacional.O que deveras me entristece, é o tom da Folha de S. Paulo,     que após prognosticar negros, tétricos sucessos, ao fim e ao cabo, nos vêm com mais uma edição de sour grapes. [1] Já na manchete principal "Brasil celebra sucesso dos Jogos, mas não bate meta" reconhece o óbvio, mas insere o espinho do registro de promessa não de todo cumprida.
             Mas nisso não fica infelizmente, e aí estão os colaboradores, que solícitos comparecem: "Foi o melhor possível num país pobre, desigual e democrático", de Celso Rocha de Barros; "Considerado o gasto do Governo, resultado não é tão bom assim", de Roberto Dias; "Fora da quadra, também é preciso regras mais eficazes", de Vinicius Mota; "Limonada carioca vai amargar quando custo da festa chegar", de José Henrique Mariante.
               Infelizmente, a Folha, que costuma ser um grande jornal, perdeu uma boa ocasião de responder presente! aos seus motes, princípios e grandes exemplos.
               A sua resposta ao êxito brasileiro nessas Olimpíadas tem um ranço infeliz de provincianismo, que não está, quero crer, nas grandes tradições desse Jornal, de que me orgulho de ser assinante.  

( Fonte: Folha de S. Paulo )



[1] uvas amargas

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