A semifinal relativizou o desafio de Justin Gatlin a
Usain Bolt. A facilidade com que Bolt mostrou que continuava a ser o mesmo
campeão, apesar de todo o alarmismo em torno das deficiências do jamaicano por
força da idade, quase que retirou toda a incerteza quanto ao resultado da prova
final.
E o desempenho do campeão dos cem metros
exibe uma apresentação em que para a rapidez do desfecho da prova - menos de
dez segundos - reúne fases bem nítidas quanto a construção da performance através
de um período de tempo que possa nos momentos da aparente instantaneidade
se dividir em três fases bem marcadas: a partida, que para um tempo de pouco
inferior a dez segundos enseja o lançamento do projeto. Ao contrário dele, o
rival designado, Justin Gatlin, que tem menor estatura e, portanto, carece de
compensar as passadas relativamente
menores com maior esforço de rapidez.
Por isso, Gatlin aí se esforça ao
máximo para ganhar vantagem sobre Bolt.
Sem embargo, já ao adentrar o segundo terço da prova, vê-se o esforço
extremo de Gatlin para ganhar distância, mas nesse momento começa a segunda
atitude de Bolt na prova. Ele vai alargando as passadas, mas ainda não semelha
acelerar ao máximo. Há uma postura de Bolt que indica que se atravessa fase
intermediária, e ele, com a facilidade que é a sua marca registrada, alarga as
passadas e lhes dá maior intensidade. Temos então, nesse segundo terço que já
se acerca de seu final, a afirmação de Bolt ao centro. Vê-se o denodado empenho
do rival Gatlin, que dá o máximo que pode, e sem embargo continua a progressão
do campeão jamaicano, que acelera tudo que pode nas passadas. Vê-se que Bolt já
entrou no seu modelo do último terço da corrida. Embora acelere, há um quê de
facilidade nas suas passadas, graças a sua maior envergadura, empurrando o
avanço de Bolt, como se fora aeronave prestes a alçar voo. Nesse instante, a sorte da corrida está decretada, o que é enfatizado
paradoxalmente por um maior esforço do adversário direto, empenho esse que é de
certo modo traído na sua incapacidade de conter a pequena vantagem que Bolt vai
alargando, pela maior envergadura do corpo, e pelas pernas mais longas, que o
empurram para a vitória. Por sua vez, Justin Gatlin trai o esforço desesperado
em reagir à situação adversa através do gesto patético de abaixar a cabeça e
jogá-la para a frente, a fim do ultimo (desesperado) lance, i.e. superar o
campeão na fita do photo-chart.
Nesse átimo, a foto congelada da
passagem da fita, além de rasgar a nítida vantagem do campeão ao cortar a fita
virtual, mostra a diferença que é marcada malgrado a brevidade da prova (9.92),
enquanto o segundo, Justin Gatlin, está no patamar dos 9.98.
A despeito das dúvidas lançadas
pela imprensa e os rumores de problemas com o campeão, na evolução da prova,
através de facilidade construída de forma cuidadosa e, paradoxalmente,
implicando em muito esforço, Usain Bolt juntou o seu mosaico de campeão e
desmentiu toda a onda de notícias e comentários alarmistas sobre a ameaça do
contestador Gatlin, que, ao cabo, volta à penumbra do campo dos demais
concorrentes.
E todo o cerimonial, moldado ao
longo desses doze anos de supremacia na distância mais veloz do atletismo,
mostrou a nós e ao mundo, que os contestadores do tricampeão olímpico terão de
aguardar mais um quadriênio.
( Fonte: Rede Globo )
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