domingo, 14 de agosto de 2016

Bolt continua campeão

                                           

        A semifinal relativizou o desafio de Justin Gatlin a Usain Bolt. A facilidade com que Bolt mostrou que continuava a ser o mesmo campeão, apesar de todo o alarmismo em torno das deficiências do jamaicano por força da idade, quase que retirou toda a incerteza quanto ao resultado da prova final.
       E o desempenho do campeão dos cem metros exibe uma apresentação em que para a rapidez do desfecho da prova - menos de dez segundos - reúne fases bem nítidas quanto a construção da performance através de um período de tempo que possa nos momentos da aparente instantaneidade se dividir em três fases bem marcadas: a partida, que para um tempo de pouco inferior a dez segundos enseja o lançamento do projeto. Ao contrário dele, o rival designado, Justin Gatlin, que tem menor estatura e, portanto, carece de compensar  as passadas relativamente menores com maior esforço de rapidez.
        Por isso, Gatlin aí se esforça ao máximo para ganhar vantagem sobre Bolt.  Sem embargo, já ao adentrar o segundo terço da prova, vê-se o esforço extremo de Gatlin para ganhar distância, mas nesse momento começa a segunda atitude de Bolt na prova. Ele vai alargando as passadas, mas ainda não semelha acelerar ao máximo. Há uma postura de Bolt que indica que se atravessa fase intermediária, e ele, com a facilidade que é a sua marca registrada, alarga as passadas e lhes dá maior intensidade. Temos então, nesse segundo terço que já se acerca de seu final, a afirmação de Bolt ao centro. Vê-se o denodado empenho do rival Gatlin, que dá o máximo que pode, e sem embargo continua a progressão do campeão jamaicano, que acelera tudo que pode nas passadas. Vê-se que Bolt já entrou no seu modelo do último terço da corrida. Embora acelere, há um quê de facilidade nas suas passadas, graças a sua maior envergadura, empurrando o avanço de Bolt, como se fora aeronave prestes a alçar voo. Nesse instante,  a sorte da corrida está decretada, o que é enfatizado paradoxalmente por um maior esforço do adversário direto, empenho esse que é de certo modo traído na sua incapacidade de conter a pequena vantagem que Bolt vai alargando, pela maior envergadura do corpo, e pelas pernas mais longas, que o empurram para a vitória. Por sua vez, Justin Gatlin trai o esforço desesperado em reagir à situação adversa através do gesto patético de abaixar a cabeça e jogá-la para a frente, a fim do ultimo (desesperado) lance, i.e. superar o campeão na fita do photo-chart.
           Nesse átimo, a foto congelada da passagem da fita, além de rasgar a nítida vantagem do campeão ao cortar a fita virtual, mostra a diferença que é marcada malgrado a brevidade da prova (9.92), enquanto o segundo, Justin Gatlin, está no patamar dos  9.98.
             A despeito das dúvidas lançadas pela imprensa e os rumores de problemas com o campeão, na evolução da prova, através de  facilidade construída de forma cuidadosa e, paradoxalmente, implicando em muito esforço, Usain Bolt juntou o seu mosaico de campeão e desmentiu toda a onda de notícias e comentários alarmistas sobre a ameaça do contestador Gatlin, que, ao cabo, volta à penumbra do campo dos demais concorrentes.
              E todo o cerimonial, moldado ao longo desses doze anos de supremacia na distância mais veloz do atletismo, mostrou a nós e ao mundo, que os contestadores do tricampeão olímpico terão de aguardar mais um quadriênio.


( Fonte: Rede Globo

Nenhum comentário: