Os prognósticos do início da longa
sessão que precede, no julgamento da presidente afastada, Dilma Rousseff, a
votação terminal, começa a apresentar preocupantes sintomas de crescente
baixaria, em que acusações antes varridas para baixo do metafórico tapete do
Senado, ora são, como aquelas por muito sopitadas, lançadas aos rostos respectivos.
O segundo dia está no compasso do
primeiro, o que não é bom para a sede do julgamento. Câmara Alta presume
ambiente em que haja respeito pela diversidade e comportamento consequente com
tal premissa.
As explosões de temperamento e as
eventuais transgressões ao regimento são mais habitualmente associadas à Câmara
onde a explosão das paixões e todos os problemas que correspondam a tal
premissa estão na imagem clássica das assembléias.
E, no entanto, se cotejássemos esse
Senado com as imagens célebres de Abel Gance sobre a Assembleia revolucionária
- em que intercala visões das enormes vagas de tempestade marítima com os seus candentes
debates - rejeitaríamos aquela obra prima da cinematografia francesa, como de
todo inadequada para espelhar a sessão da Câmara alta.
Não há nada de vulgar na obra prima de
Gance.
Esse moribundo regime petista pode
estrebuchar, mas nele procurar grandeza seria tarefa ingente e condenada ao
malogro.
Há consenso de que o Presidente Ricardo
Lewandowski está perdendo o pulso dos trabalhos. E quando uma câmara que se diz
alta mostra comportamentos que mais tem a ver com rinhas de galo, a desordem e
as arruaças tenderão a crescer.
Já a sua decisão sobre o Procurador do
T.C.U. Júlio Marcelo de Oliveira, curvando-se à gritaria da oposição, levantou
muitas dúvidas sobre sua capacidade de impor pulso à realização dos trabalhos.
Não é por acaso que a lei determina que o presidente do Supremo presida à mesa
durante o julgamento. Aceitando a exigência da bancada pró-Dilma, Lewandowski
terá esquecido do porque ali estava como Presidente da sessão do Senado.
Transformar o Procurador em informante e não a testemunha que a sua posição e hierarquia assim prescrevia, terá
sido péssimo sinal para uma bancada minoritária a tudo disposta, diante de
crescente consenso junto à maioria dos Senadores de proceder de acordo com a
evidência. Em tais casos, a falta de razão sói ser substituída pelas táticas da
gritaria, que costuma ser o último recurso das causas perdidas.
Ceder à gritaria e aos despautérios
não tende a acalmar esse tipo de inflada borrasca. Nesse lamentável
desenvolvimento, o Procurador Oliveira mostrou pelas suas respostas o quanto
carecia aquela sala do aporte de alguém que com o caráter sobremaneira técnico
de suas intervenções, que o erro de pessoa não era por ele cometido.
O descontrole foi também
incrementado no intento do Senador Renan Calheiros de acalmar o ambiente, pois
a sua tentativa nesse sentido teve resultado contrário. Para a jornalista
Míriam Leitão ele deve ser mais explícito quanto à sua intervenção, agora
revelada, junto ao Supremo, de que agiu
de forma impessoal junto ao STF, para defender a Senadora Gleisi Hoffman.
A par disso, voaram acusações e
insinuações impublicáveis sobre determinados Senadores. Um espetáculo lamentável, uma espécie de jogo
da verdade[1],
às avessas.
Mas como tudo na vida, mesmo
tais cenas de descontrole têm o seu lado positivo. Podem ser úteis para dirimir
dúvidas nos telespectadores, e riscar tais personagens na escolha de seus votos
futuros.
( Fontes: O Globo,
site de O Globo )
[1] Há tempos atrás surgiu na
juventude da época o chamado jogo da verdade, que consistia em dizê-la no que
respeitava aos elementos do grupo. Pelo visto, não durou muito, talvez pelas
sólidas inimizades que tendia a criar.
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