quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Traços de Dilma


                                               

         Dilma Rousseff, se não chegou à presidência pela scala honorum [1]- e dadas as implicações, faço tal menção sem intúito pejorativo -, mas como mera paraquedista, indicada que foi pelo seu chefe, o Presidente Lula da Silva, não se poderia esperar que demonstrasse muito conhecimento no que tange ao cargo, e a suas possibilidades.

          Se a decisão de Lula respondia mais às próprias conveniências,  do que àquelas do país - e seria ridículo considerá-la um nome que estivesse em consonância com os grandes desígnios nacionais - semelha forçoso reconhecer que o então Presidente - como o próprio Ricardo Noblat acenaria - ao lançar-lhe a candidatura pensara resguardar o próprio interesse em mandato subsequente.

          O que ocorreu com essa jogada do Presidente Lula da Silva é do conhecimento geral. Agindo com um coronelão, ele conseguiu - sem excessiva dificuldade, tal a mediocridade do papel da oposição - emplacar a própria candidata. Com o que não contava, era que Dilma virasse o jogo, e lhe barrasse qualquer perspectiva de candidatura. O mais interessante nesse quadro é que o primeiro mandato de Dilma, além de medíocre, a tornara exposta a uma contestação da oposição.

           Sem embargo, ela pôde valer-se do aparelhamento do Estado pelo PT para impedir que fosse conhecida dos eleitores a enormidade dos próprios erros políticos e econômicos, a começar pelo enorme déficit da União, provocado em grande parte por decisões mal-avisadas em termos de política econômica.

           Com a lentidão própria dos organismos judiciais, está pendente no Tribunal Superior Eleitoral uma ação da oposição que cassaria  o mandato de Dilma por irregularidades na própria eleição. A candidata Marina Silva considera as perspectivas desta ação - uma vez julgada pelo TSE - como mais fortes do que o próprio impeachment impetrado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale, e que se fundamenta nas pedaladas de Dilma, condenadas por unanimidade pelo T.C.U.

           Por outro lado, a operação Lava-Jato - que tanto tem contribuído para desfazer a incrível roubalheira que atacou a Petrobrás - continua avançando, com a preciosa ajuda da delação premiada, que tem ensejado abrir cofres e gavetas de gatunos contumazes, e dessa forma exposto um ataque, primeiro aos cofres da Petrobrás, através do notório Petrolão, e depois um mar de lama (que apequena o de Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial de Vargas, e que levou o honesto e íntegro Presidente Getúlio Dornelles Vargas ao suicídio, único instrumento por ele encontrado para contra-arrestar os ataques de Carlos Lacerda e o golpe militar orquestrado por esse tribuno  e a UDN).

             A desastrosa herança da Rousseff, que fez despencar a economia brasileira (hoje às voltas com forte recessão, enorme desemprego, com o real enfraquecido, e a fortiori com uma inflação que se acerca dos onze por cento ao mês) despedaçou o Plano Real e nos fez cair outra vez nos domínios do dragão, com tudo isso que de pernicioso tem não só para a economia, mas para o projeto Brasil, de novo manchado com mau nome internacional.

             Cabe, no entanto, que no caso da Presidenta, que se reveja, de certa forma, a metodologia a ser empregada. Sob um determinado ângulo, pode parecer trabalho perdido alinhar as muitas culpas e falhas da Presidente Dilma Rousseff. Quiçá a falha principal esteja na decisão, estabelecida pelo TSE, do Povo soberano de confirmá-la em segundo mandato. Nesse plano teórico, pode-se rebater que o processo teria sido invalidado porque a informação necessária ao eleitor lhe foi indevidamente subtraída, a par da inquietante disponibilidade de indicações sobre a mandatária que já seria suficientes, em tese, para não conferir-lhe um segundo voto de confiança.

             Dentro desse contexto ampliado, muitos elementos estão disponíveis para ensejar visão mais aproximada da realidade. 

             Estaria ela conforme a prescrição de meu saudoso amigo Pedro Neves da Rocha de que brasileiro(a) para ser eleito(a) precisa ter formação universitária ? De uma certa forma, sim, mas há muitos elementos na sua formação que podem no caso viabilizar-nos visão mais aproximada da realidade.

             Com efeito, Dilma Rousseff se formou em economia política, mas, ao contrário de o que a princípio declarou não completou nenhum curso em nível de pós-graduação.

              Em suas atividades, terá mostrado capacidades administrativas, mas não se assinalou no campo intelectual.          Que não tenha maior propensão aos estudos teóricos, e/ou maior aprofundamento de economia e política, algumas de suas opiniões podem dissipar o breu que se esconde por trás dos panos de suas eventuais leituras.

              Assim, invectivou contra os delatores da Lava-Jato como se fossem elementos perniciosos e maléficos - chegando ao cúmulo de compará-los a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira.

                 Abstraindo a possível má-fé, é  tese grosseira tentar confundir Silvério dos Reis com  os delatores da Lava-Jato. Além de ser argumento intelectualmente risível - não há comparação entre traição à  Inconfidência, com a bisonha tentativa de assemelhar as fontes das ilegalidades e dos diversos crimes denunciados pelos delatores ao  Ministério Público, com o que uma vez verificada a veracidade pela Justiça, tem a possibilidade de ser diminuída a pena a que foram condenados pelo Juiz.

                 Por outro lado, Dilma tem evidenciado visão superficial, comum às pessoas menos instruídas, no que tange ao Medievo. Com a facilidade de cultura popular ela se reporta a medieval como se fora algo atrasado, quando a historiografia moderna tem redimensionado esse período da Humanidade, mostrando os avanços nessa fase da civilização, de que são exemplo grandes nomes como Dante Alighieri e Boccaccio.    

                 Pelo descuido na própria terminologia, Dilma, de forma inadvertente, levanta um pouco do lençol que encobre o próprio cabedal de conhecimento. E pelo se entrevê, a Presidente tem uma lacunosa cultura, onde se refletem amiúde preconceitos próprios de pessoas cujo conhecimento  histórico e cultural se afigura limitado.

                  Não surpreenderá, portanto, que embora munida de canudo de ensino superior, a sua base de conhecimento muita vez não se compare àquela do antecessor e mentor, o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva, embora este se tenha formado na universidade das ruas.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Grande Enciclopédia Delta-Larousse, Getúlio, Lira Neto, Máximo Gorki)



[1] A Scala Honorum (A escada das Honras) era aquela feita pelos políticos na Roma antiga, até o cargo de Cônsul, o posto máximo na hierarquia da República.

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