Dilma Rousseff, se não chegou à presidência pela scala honorum [1]- e
dadas as implicações, faço tal menção sem intúito pejorativo -, mas como mera
paraquedista, indicada que foi pelo seu chefe, o Presidente Lula da Silva,
não se poderia esperar que demonstrasse muito conhecimento no que tange ao
cargo, e a suas possibilidades.
Se a decisão de Lula respondia mais
às próprias conveniências, do que
àquelas do país - e seria ridículo considerá-la um nome que estivesse em
consonância com os grandes desígnios nacionais - semelha forçoso reconhecer que
o então Presidente - como o próprio Ricardo
Noblat acenaria - ao lançar-lhe a candidatura pensara resguardar o próprio
interesse em mandato subsequente.
O que ocorreu com essa jogada do
Presidente Lula da Silva é do conhecimento geral. Agindo com um coronelão, ele
conseguiu - sem excessiva dificuldade, tal a mediocridade do papel da oposição
- emplacar a própria candidata. Com o que não contava, era que Dilma virasse o
jogo, e lhe barrasse qualquer perspectiva de candidatura. O mais interessante
nesse quadro é que o primeiro mandato de Dilma, além de medíocre, a tornara
exposta a uma contestação da oposição.
Sem embargo, ela pôde valer-se do
aparelhamento do Estado pelo PT para impedir que fosse conhecida dos eleitores
a enormidade dos próprios erros políticos e econômicos, a começar pelo enorme
déficit da União, provocado em grande parte por decisões mal-avisadas em termos
de política econômica.
Com a lentidão própria dos organismos judiciais, está pendente no
Tribunal Superior Eleitoral uma ação da oposição que cassaria o mandato de Dilma por irregularidades na
própria eleição. A candidata Marina Silva considera as perspectivas desta ação
- uma vez julgada pelo TSE - como mais fortes do que o próprio impeachment impetrado pelos juristas
Hélio Bicudo e Miguel Reale, e que se fundamenta nas pedaladas de Dilma,
condenadas por unanimidade pelo T.C.U.
Por outro lado, a operação Lava-Jato
- que tanto tem contribuído para desfazer a incrível roubalheira que atacou a
Petrobrás - continua avançando, com a preciosa ajuda da delação premiada, que
tem ensejado abrir cofres e gavetas de gatunos contumazes, e dessa forma
exposto um ataque, primeiro aos cofres da Petrobrás, através do notório
Petrolão, e depois um mar de lama (que apequena o de Gregório Fortunato, chefe
da guarda presidencial de Vargas, e que levou o honesto e íntegro Presidente
Getúlio Dornelles Vargas ao suicídio, único instrumento por ele encontrado para
contra-arrestar os ataques de Carlos Lacerda e o golpe militar orquestrado por
esse tribuno e a UDN).
A desastrosa herança da Rousseff,
que fez despencar a economia brasileira (hoje às voltas com forte recessão,
enorme desemprego, com o real enfraquecido, e a fortiori com uma inflação que se acerca dos onze por cento ao
mês) despedaçou o Plano Real e nos fez cair outra vez nos domínios do dragão,
com tudo isso que de pernicioso tem não só para a economia, mas para o projeto
Brasil, de novo manchado com mau nome internacional.
Cabe, no entanto, que no caso da
Presidenta, que se reveja, de certa forma, a metodologia a ser empregada. Sob
um determinado ângulo, pode parecer trabalho perdido alinhar as muitas culpas e
falhas da Presidente Dilma Rousseff. Quiçá a falha principal esteja na decisão,
estabelecida pelo TSE, do Povo soberano de confirmá-la em segundo mandato.
Nesse plano teórico, pode-se rebater que o processo teria sido invalidado porque
a informação necessária ao eleitor lhe foi indevidamente subtraída, a par da
inquietante disponibilidade de indicações sobre a mandatária que já seria
suficientes, em tese, para não conferir-lhe um segundo voto de confiança.
Dentro desse contexto ampliado,
muitos elementos estão disponíveis para ensejar visão mais aproximada da
realidade.
Estaria ela conforme a prescrição
de meu saudoso amigo Pedro Neves da Rocha de que brasileiro(a) para ser
eleito(a) precisa ter formação universitária ? De uma certa forma, sim, mas há
muitos elementos na sua formação que podem no caso viabilizar-nos visão mais
aproximada da realidade.
Com efeito, Dilma Rousseff se
formou em economia política, mas, ao contrário de o que a princípio declarou
não completou nenhum curso em nível de pós-graduação.
Em suas atividades, terá mostrado
capacidades administrativas, mas não se assinalou no campo intelectual. Que
não tenha maior propensão aos estudos teóricos, e/ou maior aprofundamento de
economia e política, algumas de suas opiniões podem dissipar o breu que se
esconde por trás dos panos de suas eventuais leituras.
Assim, invectivou contra os
delatores da Lava-Jato como se fossem elementos perniciosos e maléficos - chegando
ao cúmulo de compará-los a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência
Mineira.
Abstraindo a possível má-fé, é tese grosseira tentar confundir Silvério dos
Reis com os delatores da Lava-Jato. Além
de ser argumento intelectualmente risível - não há comparação entre traição
à Inconfidência, com a bisonha tentativa
de assemelhar as fontes das ilegalidades e dos diversos crimes denunciados
pelos delatores ao Ministério Público,
com o que uma vez verificada a veracidade pela Justiça, tem a possibilidade de
ser diminuída a pena a que foram condenados pelo Juiz.
Por outro lado, Dilma tem
evidenciado visão superficial, comum às pessoas menos instruídas, no que tange
ao Medievo. Com a facilidade de cultura popular ela se reporta a medieval como se fora algo atrasado,
quando a historiografia moderna tem redimensionado esse período da Humanidade,
mostrando os avanços nessa fase da civilização, de que são exemplo grandes
nomes como Dante Alighieri e Boccaccio.
Pelo descuido na própria terminologia, Dilma, de forma inadvertente,
levanta um pouco do lençol que encobre o próprio cabedal de conhecimento. E
pelo se entrevê, a Presidente tem uma lacunosa cultura, onde se refletem amiúde
preconceitos próprios de pessoas cujo conhecimento histórico e cultural se afigura limitado.
Não surpreenderá, portanto,
que embora munida de canudo de ensino superior, a sua base de conhecimento muita
vez não se compare àquela do antecessor e mentor, o ex-Presidente Luis Inácio
Lula da Silva, embora este se tenha formado na universidade das ruas.
( Fontes: O Globo, Folha de
S. Paulo, Grande Enciclopédia Delta-Larousse, Getúlio, Lira Neto, Máximo Gorki)
[1] A Scala Honorum (A escada das Honras) era aquela feita pelos
políticos na Roma antiga, até o cargo de Cônsul, o posto máximo na hierarquia
da República.
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