Poder-se-ía chamar de farsa, mas o termo não
vai bem no contexto. O nome vem de peças populares, a princípio no Medievo, em
que a veia cômica reveste vezo popularesco, com ação trivial ou burlesca, em
que predominam gracejos, situações ridículas, etc. A definição se inspira no Houaiss, e se bem haja um pouco de tudo no termo, é forçoso convir que aquilo que fez o lulopetismo com a Petrobrás vai muito além de o que está nessa definição.
Além do engano e a filosofia do 171, há muito mais de o que os governos petistas, a partir de 2003, fizeram com a Petróleo Brasileiro S.A. A par do cinismo grosseiro, há incrível falta de vergonha.
Tal chega a ser indizível pelo
desrespeito com a nacionalidade, o significado da Petrobrás - um dos maiores
legados de um Governo realmente popular e honesto como foi o do Presidente
Getúlio Vargas em seu último e trágico mandato - devendo merecer respeito e
seriedade, e não ser transformada em mina de vantagens inconfessáveis.
A ironia do procedimento, em que o
cinismo se une com ilimitada ganância, tudo desconhecendo em termos de respeito
ao Brasil e ao significado profundo dessa grande empresa.
E a descarada operação de desmonte da
Petrobrás chegou a orná-la com o seu melhor quadro, que dera provas de
dedicação e amplo conhecimento do mister, mas que, com um requinte cruel,
retirou-lhe a capacidade de empolgar a empresa. Ao invés, foram colocados pelos
novos donos do poder muitos agentes, na verdade uma série deles, que só
trataram de retirar dinheiro das transações dessa empresa de modo a que a
própria ambição e as comissões dos diversos donatários políticos fizessem
impossível outra situação para a depenada Companhia que a da falta de meios com
as finanças em estado vizinho do falimentar.
Como afirma, com amarga propriedade, a
coluna de ontem de Miriam Leitão, a propósito da descabelada assertiva do
Ministro Miguel Rossetto - "as
mesmas forças contrárias à criação da Petrobrás hoje buscam quebrar as regras
do marco regulatório do país". Nesse contexto, a comentarista econômica de O Globo pergunta se o Ministro acha
mesmo que o partido ao qual pertence é herdeiro da luta que uniu o povo
brasileiro nos anos cinquenta, na campanha do petróleo é nosso.
Em certos casos, como o presente, cair
em polêmica e gastar argumentos para afastar absurdos - que podem ser
atribuídos ou à desonestidade mental, ou à cegueira ideológica - constitui
perda de tempo. Diante da brutalidade dos fatos - e a situação aqui não é outra
- se deve evitar arguir com alguém que, por um motivo ou
outro, voluntariamente se pôs fora da razão.
Para sublinhar a situação da nossa
maior empresa, citemos parágrafo da coluna de M. Leitão: "A situação da Petrobrás é dramática, como todos sabem. A gestão
petista, a apropriação do coletivo pelo partido que nos governa, as decisões
politico-eleitorais quebraram a empresa.
Hoje ela tem uma dívida bruta de
US$ 127 bilhões (meu o grifo) que em reais, chegou a R$ 505 bilhões no último balanço
divulgado, do terceiro trimestre do ano passado. É a petrolífera mais
endividada do mundo. Seu valor de mercado caíu 90%, e sua classificação de
risco está a seis degraus abaixo do
nível de investimento." Assinale-se que a Moody's, que cortara em dois
níveis a nota do governo brasileiro, cortou em três níveis a Petrobrás. E se
ela sofrer mais um corte, cairá no grupo de empresas "com alto risco de
inadimplência". E a colunista assinala que a perspectiva é negativa...
O que caberia perguntar aqui é se o
mal chamado bom-mocismo será uma vez mais distribuído pelo estamento político
em doses cavalares, como se tudo não haja passado de mero erro de avaliação
política...
Lancei em novembro último, no blog, a série Brasil: Corrupção & Burocracia.
Pelo visto, terei de escrever muitos
mais além dos onze já consignados.
(Fonte: O Globo, Coluna de Míriam Leitão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário