domingo, 14 de fevereiro de 2016

A próxima crise venezuelana


                                       

        Comparada com Nicolás Maduro, Dilma Rousseff pode ser considerada uma governante de qualidade média.

        O governo chavista não soube fruir do tempo das vacas gordas, quando o barril de petróleo - seu principal ítem de exportação - estava cotado acima dos cem dólares estadunidenses.

        Em matéria de desgoverno, o antecessor - e modelo - de Maduro, Hugo Chávez Frias nos mostra como era a sua administração.  Segundo relata Ricardo Hausmann, ex-Ministro do Planejamento, em recente artigo, contou que, em 2012, quando o barril de petróleo estava em US$ 103, e a Venezuela dispunha de bom superavit comercial, o governo de Chávez teve um déficit público de 17,5% do PIB! 

         Se no tempo das vacas gordas do ouro negro tal era a situação, com a queda na cotação do petróleo - na prática, a Venezuela é uma mono-cultura - o valor das exportações desabou cerca de 60% em três anos.

         Dessarte, o déficit primário é estimado pelo FMI em 21% do PIB no corrente ano, com perspectiva de chegar a 25%.

         Desde muito a Venezuela enfrenta o desabastecimento. Caindo o valor da exportações,  por força da queda na sua principal matéria prima, tal situação de desabastecimento (uma constante nos governos chavistas) só fez agravar-se.

         No comércio - seja alimentar, seja de artigos de primeira necessidade, como medicamentos - falta tudo ou quase tudo, constrangendo o infeliz consumidor a longas filas e as sempre perigosas incursões nas fontes alternativas do contrabando.

         A depreciação da moeda - o bolívar - reflete hiper-inflação que reina soberana. O bolívar desvalorizou-se em 90% contra o dólar estadunidense, nos últimos dezoito meses.

         Por outro lado, a Venezuela é o país com maior risco soberano do mundo (a sua dívida é de US$ 10 bilhões) e por isso para contrair obrigações Caracas tem de pagar um diferencial de juros de 36% em comparação com os títulos do governo americano.

        Depois de Chavez ter bancado a Alba (Associação bolivariana da América Latina), de haver subvencionado Cuba e outros países como Nicarágua com as então rendas do petróleo, dentro  de política megalômana que sacrificava o futuro pelo prestígio no presente, e, não por último, de haver desarticulado o setor privado - que estultamente o caudilho e seu sucessor perseguiram - eis o governo do limitadíssimo Nicolás Maduro forçado a encontrar o caminho das pedras, quando as suas opções - pelos próprios erros do passado - encolhem sempre mais.

        Não se sabe qual será a postura do governo petista, que tanto já se desgastou em termos políticos, ao ignorar os agravos sofridos pela oposição, e apoiar sempre o governo Maduro, mesmo quando afrontava os direitos humanos. A propósito, Dilma - para fazer entrar no Mercosul a Venezuela de Chávez, não hesitara em usar mão pesada com o pequeno Paraguai, quando a Presidenta perdeu  boa ocasião de não agregar outra desastrada atuação diplomática para o próprio currículo...

        Maduro pensa que a solução para os problemas da Venezuela está no aparelhamento de órgãos - como acaba de fazer com a Corte Suprema, ora abarrotada com juízes chavistas - com que logrou revogar a decisão da Assembléia Nacional que derrubara o decreto estabelecendo a emergência econômica.  

         Maduro é caricatura de Hugo Chávez, e como toda espécie de caricatura exagera nos defeitos. Não carece ser profeta para antever que as coisas no reino venezuelano devem piorar e muito, até que, pelo exame do fogo, o Povo venezuelano logre livrar-se desse bando de celerados, que se apropriou da pobre herança do Caudillo, e cuja principal preocupação será a de evitar a passagem inexorável pelas forcas caudinas que lhes esperam em alguma volta do caminho. Ali prestarão contas de o que auferiram por fora da bolsa oficial, e lá será determinado o respectivo destino - que já hoje lhes tira o sono - porque os destinará a ergástulos mais severos decerto, e também mais  bem cuidados do que as masmorras para que lançam todos aqueles que, como Leopoldo López, lutam contra a ditadura chavista.

      

( Fontes:  O Globo (Miriam Leitão), Folha de S. Paulo, The New York Times ).

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