Por autorização especial do Juiz Sérgio Moro, da 13ª
Vara Federal de Curitiba, a Polícia Federal abrirá inquérito específico
para apurar, sob sigilo, a relação entre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), usado pelo ex-presidente Lula da Silva, com empreiteiras e outras
pessoas físicas já investigadas na Operação Lava-Jato.
Até agora, a situação do sítio era
investigada dentro do inquérito policial destinado a apurar crimes cometidos
por ex-dirigentes da construtora OAS
(lavagem de dinheiro e peculato, entre outros).
Assinale-se que o desmembramento em
tela foi autorizado pelo citado juiz
Sérgio Moro. A esse respeito, assinalou o Juiz que não via obstáculo a tal
desmembramento. Lembrou, outrossim e a propósito, que a investigação em tela se
acha sujeita a critérios da própria Polícia Federal, sob o controle do
Ministério Público Federal.
Nesse contexto, argumentou a PF ao
solicitar o citado desmembramento: "além da extensão da investigação para
além do âmbito da empresa OAS, entendemos que as diligências em curso demandam
necessário sigilo, já que o fato ainda está em investigação."
Ainda a propósito da abertura de
inquérito específico, o juiz Sérgio Moro assinalou que "não é aconselhável
a anexação de documentos com sigilo elevado" em procedimento que tramita
sem segredo de Justiça, como é o caso do inquérito da OAS.
OAS paga por
cozinhas. Segundo as
investigações, a OAS pagou pelas cozinhas planejadas e instaladas pela empresa Kitchens no sítio de Atibaia e no
tríplex do edifício Solaris, no Guarujá (SP), que pertenceu a Lula. O pagamento foi feito em dinheiro pelo
ex-executivo da OAS, Paulo Gordilho, em março de 2014. A nota fiscal foi emitida em nome de Fernando
Bittar, um dos dois sócios (ou laranjas) do sítio - o outro é Jonas Suassuna. Bittar e Suassuna são sócios do filho mais
velho de Lula da Silva, Fábio Luís.
Além da cozinha, que custou R$ 28
mil, foram entregues no sítio um refrigerador
de R$ 9,7mil, um lava-pratos de R$ 9,1 mil, um forno elétrico de R$ 10,1
mil e uma bancada de R$ 43 mil. No total, a OAS desembolsou R$ 130 mil.
Em novembro de 2014, Paulo
Gordilho pagou, na mesma loja, por outra despesa (R$ 78,8 mil) por ítens de
cozinha entregues no tríplex. O ex-presidente Lula da Silva assevera ter
desistido do imóvel.
Outrossim, além da
cozinha paga pela OAS, a Lava-Jato
também investiga se a construtora Odebrecht fez reformas no sítio, como contou
a dona de loja de material de construção. Foram, nesse contexto, incorporadas
quatro suítes à propriedade; a reforma em apreço teria contado ainda com a
ajuda do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula (com entrada livre no
gabinete presidencial) e preso na Lava-Jato.
Um representante da empresa Fernandes dos Anjos & Porto Montagens de
Estruturas Metálicas, que participou
das obras na propriedade de Atibaia, admitiu ter recebido R$ 40 mil de Bumlai em dinheiro vivo. A mesma empresa prestou
serviços ao pecuarista, pelos quais recebeu um total de R$ 550 mil, segundo
documentos apreendidos pela Polícia Federal.
Na última quinta-feira, o ex-presidente da OAS, o Léo
Pinheiro, condenado a dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção em
contratos da Petrobrás, foi convocado a depor a investigadores da força-tarefa
em Curitiba. O MPF quer saber por que a empreiteira pagou pela cozinha e
por eletrodomésticos destinados ao sítio. No procedimento, Leo Pinheiro permaneceu em silêncio.
(...) Anteontem, o
presidente do PT, Rui Falcão, em nota publicada no site do partido, afirmou que
nunca no Brasil um ex-presidente foi "tão caluniado, difamado, injuriado e
atacado como o companheiro Lula". Para ele," há uma tentativa de
linchamento moral e político de Lula."
Nota. Hoje no Brasil - felizmente - sob
regime democrático, Rui Falcão talvez se esqueça de que, apesar de inocente, o
Presidente Juscelino Kubitschek foi várias vezes convocado a IPMs (os chamados
inquéritos policial-militares) pouco depois da implantação da ditadura militar
no Brasil, e forçado a responder a interrogatórios absurdos e despropositados.
Até exilar-se, o presidente Kubitschek a tudo suportou com estóica serenidade. A fortiori, a popularidade do Presidente
Kubitschek crescia e mais contribuía para exasperar os militares, a par do fato
de que nada foi apurado que desabonasse a esse grande presidente.
( Fonte: O Globo )
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