quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

E o cerco a Lula continua...


                                    

          Por autorização especial do Juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a Polícia Federal abrirá inquérito específico para apurar, sob sigilo, a relação entre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), usado pelo ex-presidente Lula da Silva, com empreiteiras e outras pessoas físicas já investigadas na Operação Lava-Jato.

          Até agora, a situação do sítio era investigada dentro do inquérito policial destinado a apurar crimes cometidos por ex-dirigentes da construtora OAS (lavagem de dinheiro e peculato, entre outros).

          Assinale-se que o desmembramento em tela foi autorizado pelo citado juiz Sérgio Moro. A esse respeito, assinalou o Juiz que não via obstáculo a tal desmembramento. Lembrou, outrossim e a propósito, que a investigação em tela se acha sujeita a critérios da própria Polícia Federal, sob o controle do Ministério Público Federal.

          Nesse contexto, argumentou a PF ao solicitar o citado desmembramento: "além da extensão da investigação para além do âmbito da empresa OAS, entendemos que as diligências em curso demandam necessário sigilo, já que o fato ainda está em investigação."

          Ainda a propósito da abertura de inquérito específico, o juiz Sérgio Moro assinalou que "não é aconselhável a anexação de documentos com sigilo elevado" em procedimento que tramita sem segredo de Justiça, como é o caso do inquérito da  OAS.

OAS paga  por cozinhas. Segundo as investigações, a OAS pagou pelas cozinhas planejadas e instaladas pela empresa Kitchens no sítio de Atibaia e no tríplex do edifício Solaris, no Guarujá (SP), que pertenceu a Lula.  O pagamento foi feito em dinheiro pelo ex-executivo da OAS, Paulo Gordilho, em março de 2014.  A nota fiscal foi emitida em nome de Fernando Bittar, um dos dois sócios (ou laranjas) do sítio - o outro é Jonas Suassuna. Bittar e Suassuna são sócios do filho mais velho de Lula da Silva, Fábio Luís.

Além da cozinha, que custou R$ 28 mil, foram entregues no sítio um refrigerador  de R$ 9,7mil, um lava-pratos de R$ 9,1 mil, um forno elétrico de R$ 10,1 mil e uma bancada de R$ 43 mil. No total, a OAS desembolsou R$ 130 mil.

Em novembro de 2014, Paulo Gordilho pagou, na mesma loja, por outra despesa (R$ 78,8 mil) por ítens de cozinha entregues no tríplex. O ex-presidente Lula da Silva assevera ter desistido do imóvel.

Outrossim, além da cozinha   paga pela OAS, a Lava-Jato também investiga se a construtora Odebrecht fez reformas no sítio, como contou a dona de loja de material de construção. Foram, nesse contexto, incorporadas quatro suítes à propriedade; a reforma em apreço teria contado ainda com a ajuda do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula (com entrada livre no gabinete presidencial) e preso na Lava-Jato.

Um representante da empresa Fernandes dos Anjos & Porto Montagens de Estruturas Metálicas, que participou das obras na propriedade de Atibaia, admitiu ter recebido R$ 40 mil de Bumlai em dinheiro vivo. A mesma empresa prestou serviços ao pecuarista, pelos quais recebeu um total de R$ 550 mil, segundo documentos apreendidos pela Polícia Federal.

Na última quinta-feira, o ex-presidente da OAS, o Léo Pinheiro, condenado a dezesseis anos e quatro meses de prisão por corrupção em contratos da Petrobrás, foi convocado a depor a investigadores da força-tarefa em Curitiba.  O MPF quer saber  por que a empreiteira pagou pela cozinha e por eletrodomésticos destinados ao sítio. No procedimento, Leo Pinheiro permaneceu em silêncio.

(...) Anteontem, o presidente do PT, Rui Falcão, em nota publicada no site do partido, afirmou que nunca no Brasil um ex-presidente foi "tão caluniado, difamado, injuriado e atacado como o companheiro Lula". Para ele," há uma tentativa de linchamento moral e político de Lula."

 

Nota. Hoje no Brasil - felizmente - sob regime democrático, Rui Falcão talvez se esqueça de que, apesar de inocente, o Presidente Juscelino Kubitschek foi várias vezes convocado a IPMs (os chamados inquéritos policial-militares) pouco depois da implantação da ditadura militar no Brasil, e forçado a responder a interrogatórios absurdos e despropositados. Até exilar-se, o presidente Kubitschek a tudo suportou com estóica serenidade. A fortiori, a popularidade do Presidente Kubitschek crescia e mais contribuía para exasperar os militares, a par do fato de que nada foi apurado que desabonasse a esse grande presidente.

 

( Fonte:  O  Globo )

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