Vocês já viram a última propaganda
política de um determinado partido que parece ter sido concebida sem pecado?
Com efeito, e sem que me acusem de ilações inconvenientes ou mesmo pecaminosas,
os novos magos da publicidade do grêmio político que, de repente e sabe-se lá
por que, começou a apresentar inquietantes sintomas de rejeição popular, vejam
só meus ilustres passageiros do velho bonde Brasil, o belo tipo faceiro que o
senhores têm a seu lado!?
A dizer verdade, não é alguém que o Rum Creosotado tenha salvo... É um ente
estranho, que parece não ter passado nem presente. Lembra aquele tipo a que o
poeta se refere - boca presa, que seu pai aí vem chegando!
De repente, o estranho anúncio fala de
tudo para de nada falar. É toda uma construção sem características, muitas
palavras, mas ao cabo, se se busca aferrar com os punhos ou a cachola o que
quer dizer, parece estória água com açúcar, que fala de tudo para nada significar.
E os preciosos minutos do
comercial-político, em que outros partidos - e há tantos a literalmente perder
de conta nessa república de Pindorama, que inventou a multiplicação das
ideologias, que ora são tantas que perderam o sentido para quem pensa sério, e
ganharam triste sentido para aproveitadores venais e sanhudos da liberdade do
pensamento político, que tanto a subdividiram de modo a torná-la sem sentido
para a gente séria - hão de ver inquietos esse espaço outorgado pelo Povo e que
a vergonha (ou o temor) obriga a ocupar sem nada dizer.
Para que se tenha uma pista do discurso
desenxabido, que asperge como se fora água benta conceitos sem nome, como se o
espaço político fosse para ocultar-se, pundonoroso, do olhar público a que
parece temer...
Só no final a estrelinha vermelha que surge
e logo se apaga, como se a demasiada exposição de uns poucos segundos já fosse
por demais...
Tanta vergonha, tanto rubor - que até
pode ser usado para colorir a estrelinha - o que se esconde por trás dela, por
trás dessa mesura ?...
Como dizia a canção boa coisa não é...
(Fontes: propaganda eleitoral obrigatória, Carlos
Drumond de Andrade )
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