Ao reapareceram estórias na imprensa e
no Jornal Nacional, envolvendo a jornalista Mirian Dutra, e a sua relação
com o ex-Presidente Fernando Henrique
Cardoso, aposto que o leitor terá pensado 'essa estória é nova ?' ou então,
'isto está com cara de represália do PT...'
Agora, quando apareceu no Jornal
Nacional o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo declarando que
se houver indícios, mandará a Polícia Federal investigar FHC, as dúvidas se
transmutam em certezas.
Em sua nota editorial na Folha, Bernardo Mello Franco relembra:
'Com as revelações da jornalista Mirian Dutra, o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso descobriu o que Lula e Renan já sabiam. Na política
brasileira, ex é para sempre ...'
Pode vir um pouco requentada essa
remembrança, mas se aplicarmos a velha pergunta jurídica 'cui prodest?' as eventuais dúvidas principiam a desvanecer-se.
No momento, a quem aproveita mandar a
bola de volta à quadra do PSDB? A
resposta parece tão óbvia, a ponto de lançar dúvidas sobre o peso dessa
imputação, cujo oportunismo parece demasiado evidente.
Nos tempos que correm, parece que já
não se fazem Ministros da Justiça como antigamente. Lembram-se de Márcio
Thomaz Bastos cujo modelo para o Ministro da Justiça era o do
Magistrado? Quando Lula teve problemas
com jornalista do New York Times, o
Ministro soube resolver a questão por las
buenas, convencendo Lula que não
fosse adiante com a intenção de cassar o visto de Larry Rohter...
Já o Ministro Cardozo dá a impressão
de que é mais ministro do PT, do que da Justiça, ao dizer que considera
sinalizar para a Polícia Federal que investigue por suas supostas remessas o
ex-presidente FHC...
Nesse contexto, tampouco é demais
lembrar um velho conselho, eis que vem do século XVIII. Talleyrand, que era tudo menos tolo, recomendava: 'Surtout, pas trop de zèle' (sobretudo,
nunca demasiado zelo...' A compostura,
sobremodo nas altas autoridades, faz parte do cargo e lhes dá mais força. Um ministro - se não é um mero comissário político - saberá preservar a dignitas republicana, e terá,
por conseguinte, mais força quando ela
se fizer necessária.
E é bom não esquecer que, por conselho
do Ministro Thomaz Bastos, Lula concedera autonomia à Polícia Federal. E tal se
insere dentro da norma democrática de que a Polícia não é simples instrumento
do governo, e sim um órgão de Estado que deve ter autonomia nas suas funções,
para que a respectiva isenção seja preservada.
Em tempo. O Globo de hoje também
traz longo artigo de Ricardo Noblat, que me parece de todo oportuno transcrever
em parte: "Mirian reclama, hoje, de pouco ter trabalhado quando de Lisboa
foi para Londres e
de
lá, para Barcelona. Ora, então por que
não voltou ? (...) Além do salário da Globo, Miriam recebia uma mesada em dólar
pagar por FHC, e dinheiro que sua irmã, Margrit Dutra Schmidt, e o marido, o
jornalista Fernando Lemos, lhe enviavam regularmente.
"Margrit, ontem, estava de
férias na República Dominicana. Ela é funcionária do Senado lotada no gabinete
do Senador José Serra. Lemos morreu. Enquanto foi cunhado de Mirian, ele pediu
dinheiro emprestado a empresas e políticos, alegando que a ajuda era necessária
para que Mirian pudesse se manter no exterior. Funcionou como uma espécie de empresário dela.
Mais de uma vez, em telefonemas
para amigos de Brasília, Mirian queixou-se da irmã e do cunhado. Acusou-os de
reter parte do dinheiro que arrecadavam e que deveria ser dela.
Mirian refere-se a Lemos como
lobista, embora tenha assinado contrato com uma empresa dele para receber
salário sem dar em troca um só dia de trabalho, como ela mesmo reconhece. (...)
Quanto a FHC, ele deve melhores
explicações sobre como remetia dinheiro
para Mirian .
Ele diz que o dinheiro era seu,
que estava depositado em bancos daqui, dos Estados Unidos e da Espanha, e que o
transferia para Mirian mediante ordens bancárias. Tudo, segundo ele, legalmente.
Mirian oferece outra versão. Diz
que ele lhe repassava a mesada de 3 mil dólares mediante um contrato dela
fictício com a empresa Brasif S.A.
Em nota oficial, distribuída
ontem, a Brasif declarou que tinha um contrato com Mirian de prestação de
serviços. E que FHC nada teve a ver com isso. Quem teve foi Lemos. Salvo o
surgimento de novos fatos, é isso. O
resto não passa de exploração política
para tirar Lula e o PT das manchetes."
( Fontes: Folha de S. Paulo, Rede Globo,
e o artigo de Ricardo Noblat "O que sei (ou acho que sei) sobre o caso
FHC-Mirian Dutra" transcrito nas partes julgadas pertinentes, à luz do suposto
interesse manifesto pelo Ministro da Justiça,José Eduardo Cardozo, ao ensejo da transmissão do JN da Globo de
ontem )
Nenhum comentário:
Postar um comentário