sábado, 20 de fevereiro de 2016

Fernando Henrique também?


                           

       Ao reapareceram estórias na imprensa e no Jornal Nacional, envolvendo a jornalista Mirian Dutra, e a sua relação com  o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, aposto que o leitor terá pensado 'essa estória é nova ?' ou então, 'isto está com cara de represália do PT...'

       Agora, quando apareceu no Jornal Nacional o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo declarando que se houver indícios, mandará a Polícia Federal investigar FHC, as dúvidas se transmutam em certezas.

       Em sua nota editorial na Folha, Bernardo Mello Franco relembra: 'Com as revelações da jornalista Mirian Dutra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso descobriu o que Lula e Renan já sabiam. Na política brasileira, ex é para sempre ...'

        Pode vir um pouco requentada essa remembrança, mas se aplicarmos a velha pergunta jurídica 'cui prodest?' as eventuais dúvidas principiam a desvanecer-se.

        No momento, a quem aproveita mandar a bola de volta à quadra do PSDB?  A resposta parece tão óbvia, a ponto de lançar dúvidas sobre o peso dessa imputação, cujo oportunismo parece demasiado evidente.

        Nos tempos que correm, parece que já não se fazem Ministros da Justiça como antigamente. Lembram-se de Márcio Thomaz Bastos cujo modelo para o Ministro da Justiça era o do Magistrado?  Quando Lula teve problemas com jornalista do New York Times, o Ministro soube resolver a questão por las buenas, convencendo Lula que não fosse adiante com a intenção de cassar o visto de  Larry Rohter...

         Já o Ministro Cardozo dá a impressão de que é mais ministro do PT, do que da Justiça, ao dizer que considera sinalizar para a Polícia Federal que investigue por suas supostas remessas o ex-presidente FHC...

         Nesse contexto, tampouco é demais lembrar um velho conselho, eis que vem do século XVIII. Talleyrand, que era tudo menos tolo, recomendava: 'Surtout, pas trop de zèle' (sobretudo, nunca demasiado zelo...'   A compostura, sobremodo nas altas autoridades, faz parte do cargo e lhes dá mais força.  Um ministro - se não é  um mero comissário político -  saberá preservar a dignitas  republicana, e terá, por conseguinte,  mais força quando ela se fizer necessária.         

          E é bom não esquecer que, por conselho do Ministro Thomaz Bastos, Lula concedera autonomia à Polícia Federal. E tal se insere dentro da norma democrática de que a Polícia não é simples instrumento do governo, e sim um órgão de Estado que deve ter autonomia nas suas funções, para que a respectiva isenção seja preservada.

           Em tempo. O Globo de hoje também traz longo artigo de Ricardo Noblat, que me parece de todo oportuno transcrever em parte: "Mirian reclama, hoje, de pouco ter trabalhado quando de Lisboa foi para Londres e

de lá, para Barcelona.  Ora, então por que não voltou ? (...) Além do salário da Globo, Miriam recebia uma mesada em dólar pagar por FHC, e dinheiro que sua irmã, Margrit Dutra Schmidt, e o marido, o jornalista Fernando Lemos, lhe enviavam regularmente.

           "Margrit, ontem, estava de férias na República Dominicana. Ela é funcionária do Senado lotada no gabinete do Senador José Serra. Lemos morreu. Enquanto foi cunhado de Mirian, ele pediu dinheiro emprestado a empresas e políticos, alegando que a ajuda era necessária para que Mirian pudesse se manter no exterior. Funcionou  como uma espécie de empresário dela.  

             Mais de uma vez, em telefonemas para amigos de Brasília, Mirian queixou-se da irmã e do cunhado. Acusou-os de reter parte do dinheiro que arrecadavam e que deveria ser dela.

             Mirian refere-se a Lemos como lobista, embora tenha assinado contrato com uma empresa dele para receber salário sem dar em troca um só dia de trabalho, como ela mesmo reconhece. (...)

              Quanto a FHC, ele deve melhores explicações  sobre como remetia dinheiro para Mirian .

               Ele diz que o dinheiro era seu, que estava depositado em bancos daqui, dos Estados Unidos e da Espanha, e que o transferia para Mirian mediante ordens bancárias.  Tudo, segundo ele, legalmente.

               Mirian oferece outra versão. Diz que ele lhe repassava a mesada de 3 mil dólares mediante um contrato dela fictício com a empresa Brasif S.A.

                Em nota oficial, distribuída ontem, a Brasif declarou que tinha um contrato com Mirian de prestação de serviços. E que FHC nada teve a ver com isso. Quem teve foi Lemos. Salvo o surgimento de novos fatos, é isso.  O resto não passa  de exploração política para tirar Lula e o PT das manchetes."

 

 

( Fontes: Folha de S. Paulo, Rede Globo, e o artigo de Ricardo Noblat "O que sei (ou acho que sei) sobre o caso FHC-Mirian Dutra" transcrito nas partes julgadas pertinentes, à luz do suposto interesse manifesto pelo Ministro da Justiça,José Eduardo Cardozo,  ao ensejo da transmissão do JN da Globo de ontem  )

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